Comentários sobre qual seria a real situação financeira da TV Globo na atualidade são frequentes nas plataformas de mídias sociais, especialmente por motivos políticos.

Sede da TV Globo

Os detratores da emissora se baseiam, muitas vezes, nos anúncios de mudanças estruturais feitos nos últimos anos, que incluíram não renovações de contratos e cortes de despesas.

Essas mudanças nada mais são do que movimentos naturais do mercado e que chegaram com certo atraso a uma das maiores emissoras do mundo.

A torcida por um “fim” da Globo foi impulsionada, por exemplo, pela divulgação de um prejuízo de R$ 114 milhões no balanço referente ao primeiro semestre de 2021. No entanto, apenas esse indicador não reflete a realidade da empresa, que é bastante complexa em razão do seu porte.

William Bonner no Jornal Nacional

Para se ter uma ideia, em termos de compromissos a honrar nos próximos anos, a Globo teve registrada no balanço de 2020 uma dívida total (atrelada à emissão de bônus) de R$ 5,4 bilhões, valor que era de R$ 3,7 bilhões um ano antes. O aumento ocorreu devido à valorização do dólar frente ao real. Os vencimentos das dívidas estão distribuídos por três anos distintos: 2025, 2027 e 2030.

A situação, no entanto, está sob controle, especialmente pelo fato de que a empresa fechou o último balanço com R$ 13,6 bilhões em caixa, mais do que o dobro do total de suas dívidas.

Crescimento em 2021

Integrantes da família Marinho

Mesmo com a queda nos lucros observada entre 2019 e 2020 (de R$ 752,5 milhões para R$ 167,8 milhões), algo compreensível em um cenário de pandemia, a expectativa com o controle da Covid-19 por meio da vacinação e a retomada dos trabalhos de gravação é de que os resultados de 2021 serão consideravelmente melhores.

Prova disso são os resultados do terceiro trimestre, o melhor dos últimos quatro anos, no qual a emissora obteve uma receita líquida de R$ 3,7 bilhões (aumento de 19% no comparativo com 2020).

No ano passado, a Globo teve queda no faturamento com publicidade (17% em 2020), muito em função da excepcionalidade imposta pela pandemia, mas trata-se de uma situação enfrentada nos últimos anos por todos os meios de comunicação tradicionais, já que a maior parte dos investimentos está sendo redirecionada para o meio digital (leia-se “Google”).

Globoplay

As profundas mudanças nos hábitos de consumo dos conteúdos de mídia também devem ser consideradas. Em um cenário muito distinto daqueles de outros tempos, a Globo hoje segue outra estratégia, deixando de fazer altíssimos investimentos para ter exclusividade sobre artistas ou direitos de transmissão de eventos esportivos.

Além disso, direciona cada vez mais esforços para a sua plataforma de streaming (Globoplay), a fim de concorrer com os demais players do mercado de mídia atual, com destaque para a Netflix.

Concessão

Jair Bolsonaro

E a concessão pública do canal (que estaria prestes a vencer)? Pode ser suspensa por decisão unilateral do presidente da República?

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Aos fatos: a concessão da Globo vencerá em 5 de outubro de 2022, de acordo com o que está previsto em um decreto presidencial de 2008.

Para que a concessão fosse cassada antes desse prazo, seria necessário, de acordo com a Constituição, que o Poder Executivo entrasse com uma ação na Justiça Federal contra a emissora, com base em alguma falha jurídica ou irregularidade grave que, eventualmente, a Globo tenha cometido.

Porém, sobre qualquer decisão caberiam recursos até que o mérito fosse julgado na última instância (Supremo Tribunal Federal). Cabe ressaltar ainda que a legislação resguarda as liberdades jornalísticas e de expressão das detentoras de concessões de rádio e televisão.

Também segundo a Constituição, mesmo que o presidente eventualmente decida não renovar um contrato de concessão, seria também necessária a aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional para que uma emissora perdesse a autorização pública de funcionamento.

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Entusiasta da história da televisão brasileira, Jonas Gonçalves é jornalista e pesquisador, sendo colaborador do TV História desde a sua criação, em 2012. Ao longo de quase 20 anos de profissão, já foi repórter, editor e assessor de comunicação, além de colunista sobre diversos assuntos, entre os quais novelas e séries Leia todos os textos do autor Leia todos os textos do autor