Globo usa Pantanal para corrigir um dos maiores erros que já cometeu

Pantanal - Marcos Palmeira

Marcos Palmeira como José Leôncio em Pantanal (João Miguel Júnior / Globo)

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Pantanal já é um sucesso. E Benedito Ruy Barbosa completou 91 anos em abril. Um dos maiores novelistas da nossa TV, autor de tramas inesquecíveis, de texto apurado e grande sensibilidade, seus temas preferidos são a imigração de diferentes nacionalidades e a vida no campo.

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Não por acaso, suas duas novelas de maior sucesso fora da Globo (rejeitadas pela emissora) foram representantes desses estilos: Os Imigrantes, escrita para a TV Bandeirantes entre 1981 e 1982, e Pantanal, para a TV Manchete, em 1990.

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Hoje, vou me ater a essas duas negativas da Rede Globo, das quais a emissora provavelmente se arrependeu.

Os Imigrantes

Em 1979, época em que escrevia a novela Cabocla para a Globo, Benedito andava desgostoso com a emissora, que recusara o projeto de sua novela Os Imigrantes. Benedito narrou ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes):

“Na ocasião, a Globo encarregou o Dias Gomes de ler a sinopse e os seis primeiros capítulos de Os Imigrantes. Pois bem. Ele leu e depois escreveu assim: ‘Belíssima história, mas a Globo não precisa dela no momento. Recomendo que seja guardada para o futuro porque é uma novela de sucesso garantido.’ E a novela ficou lá, na gaveta. Um dia, reclamei com Borjalo [Mauro Borja Lopes, executivo da emissora]. Ele abriu a gaveta, pegou a sinopse e me devolveu. É por isso que eu sei o que o Dias escreveu”.

Faltando dois meses para o término de Cabocla, com seu trabalho finalizado, o autor foi chamado para escrever mais capítulos além do inicialmente previsto. Porém, Benedito não aceitou. A Globo estava com a produção seguinte atrasada e não contava com a negativa do autor.

A emissora solicitou ainda que Benedito Ruy Barbosa escrevesse o último capítulo da problemática Os Gigantes, novela das oito da época que custou a demissão de seu autor, Lauro César Muniz. Em solidariedade ao amigo Lauro, Benedito recusou essa nova tarefa, entregou sua própria carta de demissão e foi escrever novelas na TV Bandeirantes, estreando com Pé de Vento, em 1980.

Em 1981, o autor apresentou o projeto de Os Imigrantes (os 20 primeiros capítulos, que já estavam escritos) a Wálter Avancini, então diretor artístico da emissora, que topou levar adiante. A novela tornou-se a de maior sucesso da história da TV Bandeirantes.

Pantanal

Benedito Ruy Barbosa escrevia apenas para o horário das seis da Globo e queria que a nova novela fosse a sua estreia no horário nobre. Após muita insistência, o autor recebeu o aval para ir até o Pantanal Mato-grossense para avaliar as reais condições de produzi-la. Porém, a época era de chuva e ele e os diretores Herval Rossano e Atílio Riccó voltaram com quase mil fotos em que aparecia apenas água e mato. Sem o registro das deslumbrantes flora e fauna tão propagadas pelo autor, o projeto foi engavetado.

Benedito ainda ouviu da Globo a proposta para transformar o projeto em minissérie ou ambientar a novela em uma fazenda carioca ou paulista para facilitar a produção. “Mas bati o pé porque queria o Pantanal”, afirmou o autor. O fato é que, diante das dificuldades e da estimativa de custos muito alta, a Globo preferiu desistir do projeto.

Benedito Ruy Barbosa ficou aberto a conversas com a concorrência. O primeiro a se aproximar foi Carlos Alberto de Nóbrega, em nome do SBT. Foi agendada uma reunião na qual Silvio Santos deveria comparecer, mas, no dia, ele alegou problemas na emissora.

“Mentira!”, disse Benedito para o livro “Biografia da Televisão Brasileira” (de Flavio Ricco e José Armando Vannucci). “Ele estava assinando com o Guga de Oliveira para fazer Cortina de Vidro”. Ou seja, Silvio Santos preferiu a novela pronta da produtora de Guga de Oliveira a se lançar em uma nova produção.

Benedito, no entanto, não resistiu ao chamado de Jayme Monjardim, na época diretor artístico da TV Manchete.

“Para convencer o Benedito, eu disse: ‘produzo a sua novela no Pantanal, exibo no horário nobre e você vem para a Manchete’”, recordou o diretor ao livro “Biografia da Televisão Brasileira”.

Munida de tantos apelos e novidades, a novela Pantanal tornou-se um sucesso tão arrebatador que abalou o alicerçado horário nobre da TV Globo. Pela primeira vez, desde que conquistou a hegemonia, e se impôs na produção de novelas nos anos 1970, a Globo viu seu posto de líder de audiência suplantado.

Depois deste grande sucesso, a Globo tratou de resgatar Benedito Ruy Barbosa promovendo-o ao primeiro escalão dos autores da emissora.

De volta à Globo, e no horário que tanto desejava, ele escreveu algumas das novelas de maior êxito da década de 1990: Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999-2000).

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Outros sucessos

Nascido em Gália, interior de São Paulo, em 1931, Benedito primeiro escreveu para o teatro. Estreou em televisão em 1966, na TV Tupi de São Paulo. Passou pela TV  Record e foi para a Globo na década de 1970. Outras novelas: Meu Pedacinho de Chão (1971), O Feijão e o Sonho (1976), À Sombra dos Laranjais (1977), Paraíso (1982-1983), Voltei Pra Você (1983-1984), Sinhá Moça (1986) e Vida Nova (1988-1989). Também Esperança (2002-2003) e Velho Chico (2016).

Quatro sucessos de Benedito, do horário das seis, ganharam remakes a partir dos anos 2000: Cabocla (2004), Sinhá Moça (2006), Paraíso (2009) e Meu Pedacinho de Chão (2014). Agora, é a vez da nova versão de Pantanal.

Já tive o prazer de estar com Benedito Ruy Barbosa em um programa de televisão. Figura simpática e cativante, me impressionou a emoção com que ele fala de sua trajetória, os “causos” que viveu e que inspiraram tantas novelas suas. Sempre com os olhos marejados.

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