A Globo acaba de resgatar através do Globoplay, sua plataforma de streaming, a minissérie O Quinto dos Infernos, produzida originalmente em 2002 e que causou grande polêmica entre portugueses e herdeiros da família real.

Humberto Martins e Danielle Winitz em O Quinto dos Infernos
Humberto Martins e Danielle Winitz em O Quinto dos Infernos (Divulgação / Globo)

E não foram apenas os familiares das ilustres figuras de um passado distante da colonização que levaram a produção a mal. Até mesmo o autor, Carlos Lombardi, se irritou durante a exibição do título.

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O Quinto dos Infernos

O Quinto dos Infernos - André Mattos e Betty Lago
André Mattos e Betty Lago em O Quinto dos Infernos (Divulgação / Globo)

A história, que trouxe as figuras de Carlota Joaquina, Dom João VI e Dom Pedro I foi acusada de retratá-los de forma caricata. Além disso, o escritor foi duramente criticado por pesar a mão em cenas de nudez e sexo.

Para quem não lembra, a pegada da história era justamente voltada para o humor. Assim, o dramaturgo usou sua liberdade criativa para compor o perfil dos personagens.

Carlota Joaquina, vivida por Betty Lago, era uma vilã totalmente inescrupulosa, ao passo que Dom Pedro I, a cargo de Marcos Pasquim, era um tremendo de um mulherengo; já Dom João VI, de André Mattos, era covarde, esfomeado e constantemente traído pela esposa.

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Autor se defendeu

Carlos Lombardi
Carlos Lombardi (Reprodução / Facebook)

Carlos Lombardi deu reposta às críticas da época. Segundo o autor, a intenção nunca foi contar uma história biográfica e, pelo que havia pesquisado, Dom Pedro I, por exemplo, era muito mais aficionado às mulheres do que foi retratado na série.

“O meu Dom Pedro, perto do original, ainda era romântico. Sempre digo que a estrutura da minissérie daria uma novela das sete de 200 capítulos. Mas, já que eu ia contar a história às 23h, poderia pesar um pouco mais a mão nas cenas de sexo, sem perturbação”, disse Lombardi.

Ainda assim, a crítica e os telespectadores reclamaram do suposto excesso de erotismo da trama.

“Doce ilusão a minha. Encheram o saco, igualzinho. Eu argumentava: ‘Isso não é hora de criança estar vendo televisão’”, completou o autor.

Em contrapartida, parte da sociedade, como historiadores, defenderam que a história real fosse ainda mais apimentada e cruel.

“Não estou achincalhando com a história. Estou apenas mostrando de forma romanceada o que o conservadorismo dos livros escolares não revelam. O que a minissérie apresenta são fatos históricos engraçados por si só”, argumentou Lombardi à Folha de S. Paulo em março de 2002.

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Foi inevitável

Luana Piovani, Marcos Pasquim e Claudia Abreu
Luana Piovani, Marcos Pasquim e Claudia Abreu em O Quinto dos Infernos (Divulgação / Globo)

Ainda segundo o escritor, seria impossível deixar de abordar tais características na história, já que boa parte delas vieram de obras que ele usou com base: O Chalaça, de José Roberto Torero; A Imperatriz no Fim do Mundo, de Ivani Calado; e As Maluquices do Imperador, de Paulo Setúbal.

“Não havia como fugir dessas características, muito menos para fazer comédia. A sugestão da comédia veio dos próprios personagens, não de uma determinação minha”, afirmou Carlos Lombardi no livro Autores: Histórias da Teledramaturgia, de 2008.

O Quinto dos Infernos, com nudez, sexo e tudo o mais, estreou no Globoplay no último dia 4 de setembro, a partir do projeto Resgate, que traz de volta novelas, séries e minisséries do passado da emissora que ainda não foram disponibilizadas na plataforma.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor