Em 1999, com Raul Gil em alta na Record e o pagode como tema musical do momento, a Globo apostou em conhecidos cantores para protagonizar um novo programa para as tardes de sábado.
Era o Samba, Pagode & Cia, apresentado por Salgadinho, então no Katinguelê, e Netinho de Paula, do Negritude Júnior. Mas a atração afundou a audiência da emissora e ficou menos de dois meses no ar.
O formato do programa, dirigido por Roberto Talma (1949-2015), era simples: os cantores recebiam convidados especiais em shows gravados no Projac (atual Estúdios Globo).
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEA atração também teve uma edição gravada na casa de espetáculos Via Funchal, em São Paulo (SP). O cenário era composto por painéis coloridos, contando com mesas de bar nas laterais, onde eram acomodados outros músicos.
O Samba, Pagode & Cia estreou no dia 27 de março de 1999, às 15 horas. Nos poucos programas produzidos, foram recebidos convidados como Eliana de Lima, Exaltasamba, Karametade, Os Morenos, Sem Compromisso e Soweto (foto abaixo0, entre outros.
Mas a audiência da Globo no horário, que costumava ficar na casa dos 15 a 18 pontos, simplesmente despencou para metade disso. Se Raul Gil já ganhava da emissora contra os filmes anteriormente exibidos, agora trucidava a líder com seus concursos de calouros.
Em abril, a diferença entre os dois programas chegava a quase 10 pontos. A Globo chegou a fazer uma reformulação radical na atração, colocando no ar uma espécie de novelinha, com um misto de casa e escritório, onde Salgadinho e Netinho eram irmãos e recebiam os convidados de vários gêneros musicais. Mas também não deu certo e o último programa foi exibido no dia 15 de maio de 1999.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADENo dia 29 de maio, o segundo sábado após a atração terminar, a emissora exibiu o filme Babe, o Porquinho Atrapalhado, conseguiu voltar aos 18 pontos e venceu Raul Gil após várias semanas de jejum.
Em 9 de junho de 1999, Anna Lee informou na Folha de S. Paulo que não havia chance da atração voltar.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE“Apesar de Aloysio Legey estar estudando modificações para o Samba, Pagode & Cia, a Globo já contatou os empresários dos pagodeiros para rescindir seus contratos”, escreveu.
Críticas
À revista Istoé de 9 de junho de 1999, José Paulo Vallone, então diretor de programação da Record, disse que a Globo estava atirando para todos os lados em busca de resultados imediatos.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE“Eles se perguntaram, o que faz sucesso? Pagode? Então contrataram todos os pagodeiros e fazem uma porcaria de programa como aquele Samba, Pagode & Cia”.
O próprio Raul Gil, em uma edição da Istoé Gente de abril de 2000, também alfinetou a emissora.
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE“Para concorrer comigo, a Globo pôs no ar Samba, Pagode & Cia. Pus as crianças em cima dos pagodeiros e eles perderam até o rumo de casa. A Globo fez então um programa para brigar comigo, o Gente Inocente, que iria ao ar aos sábados. Mudaram de ideia na última hora. Com o Megatom foi o mesmo. Passaram os dois para domingo. Soube que foi medo de perder para mim”, disse.
À agência TV Press, em 13 de maio de 2001, Netinho de Paula também criticou a Globo e disse que ficou a imagem dos cantores ficou desgastada na época.
“A Globo é comandada por pessoas elitistas e sem identidade com o povo. O popular, para os diretores da Globo, é a coisa mais brega do mundo. Fazer pagode tomando champanhe não dá certo mesmo”, disparou.
A Globo estreou o Caldeirão do Huck em abril de 2000, mas só conseguiu deter Raul Gil a partir do final de 2001, quando a atração de Luciano Huck começou a se firmar como líder de audiência no horário.