André Santana

No primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, a Globo promoveu um verdadeiro show de horror com o debate que reuniu os candidatos a líder da nação. O excesso de candidatos e as regras frouxas permitiram uma série de acusações, mentiras e ofensas, que em nada acrescentaram aos eleitores.

Globo - William Bonner

Felizmente, o debate presidencial no segundo turno mostrou alguma evolução. O primeiro encontro dos presidenciáveis Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mostrou muito mais interessante que a balbúrdia apresentada no outro turno. As regras do debate promovido pelo pool formado por Band, UOL, Folha e TV Cultura permitiu um confronto mais eficiente.

O debate foi composto por dois blocos nos quais os candidatos tinham 15 minutos em que utilizar como bem quisessem. Isso permitiu uma conversa mais fluida entre os candidatos, que também circularam livremente pela arena. Houve alfinetadas e informações duvidosas, mas, ainda assim, o formato menos engessado permitiu ao espectador observar melhor a reação dos participantes.

Além disso, o fato de os mediadores trazerem as questões iniciais ajudam a guiar a conversa. Afinal, o que ficou claro no debate da Globo é que candidato fazer pergunta para candidato não funciona. O debate fica restrito a temas irrelevantes, enquanto questões fundamentais sobre os planos de governo ficam de fora.

Problemas do debate da Globo

No final do primeiro turno, a Globo promoveu um debate que só fez causar constrangimento. Ao longo de três horas, nenhum candidato falou, de fato, sobre seu plano de governo. A maioria dos participantes utilizou seu tempo para atacar seus adversários. O encontro pouco acrescentou ao espectador que ainda não sabia em quem votar.

Havia blocos temáticos, em que o mediador William Bonner sorteava um assunto que deveria ser o tema da pergunta. Mas poucos se apegaram ao tema, desviando o assunto para voltar a atacar.

O debate também foi problemático por conta dos vários momentos em que as regras foram quebradas. William Bonner chegou a perder a paciência com o Padre Kelmon quando o candidato interrompia insistentemente a fala de Lula. Os direitos de resposta também foram banalizados, resultando numa cansativa troca de insultos entre Lula e Bolsonaro.

Formato ultrapassado

O formato do debate da Band não foi perfeito. Ainda é preciso criar maneiras de focar os assuntos tratados, evitar disseminação de fake news e propor regras que coíbam a fuga dos temas discutidos.

Este primeiro debate do segundo turno permitiu ao eleitor enxergar melhor os dois candidatos. Porém, ainda não conseguiu trazer ao centro da conversa as duas propostas de governo. Mas houve uma válida evolução, que deve servir como lição aos próximos encontros.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor