Nilson Xavier

Por causa do sucesso do remake de Pantanal, a mídia tem especulado vários títulos do passado que podem vir a se tornar reboots. De concreto mesmo, nada ainda – apenas Dona Beija, pela produtora Floresta, para o streaming, mas sem previsão de datas.

Como não poderia ser diferente, as obras de Benedito Ruy Barbosa estão em alta e são as mais divulgadas. Entretanto nem Globo, nem o adaptador Bruno Luperi confirmam, por enquanto.

Vale lembrar que a Globo refaz novelas desde os anos 1980, quando Ivani Ribeiro veio para a emissora e atualizou antigos sucessos seus.

Nos últimos 40 anos, a lista de remakes na Globo é grande: A Viagem, Mulheres de Areia, Selva de Pedra, Irmãos Coragem, Pecado Capital, O Astro, Anjo Mau, Ti-ti-ti, Gabriela, Saramandaia, O Rebu e muitas outras. O próprio Benedito foi revisitado: Cabocla, Sinhá Moça, Paraíso e Meu Pedacinho de Chão.

Relaciono 5 novelas que renderiam bons remakes e outras 5 que – em minha opinião -, ao contrário, nem tanto. Claro que é a minha visão particular e subjetiva e os argumentos são passíveis de discussões:

5 novelas que não renderiam remakes

Vale Tudo (1988)

Vale Tudo

Não consigo imaginar outro elenco revivendo os personagens de Gilberto Braga. Acho que por ser tão atemporal, Vale Tudo É PARA SER REVISTA, E NÃO REFEITA. A novela, mesmo sem telefones celulares e internet, encanta inclusive as novas gerações, como já ficou provado em suas reprises no canal Viva.

Ainda um dissabor para a Globo: o remake de 2002 para o mercado latino, produzido em parceria com a Telemundo, com elenco de língua espanhola, foi um fracasso retumbante. Entendi como um sinal.

Pelos mesmos motivos que acho que não cabe um remake de Vale Tudo, não cabe também de Roque Santeiro – neste caso, uma novela cujo sucesso está muito associado ao seu tempo (fim da Ditadura Militar, Nova República, etc.).

A Gata Comeu (1985)

A Gata Comeu

Absolutamente impossível! Aliás, A Gata Comeu, de Ivani Ribeiro, já era um remake, da novela A Barba Azul, que a autora escreveu para a TV Tupi em 1974-1975.

Mesmo a reedição de 1985 já soava obsoleta para a época. Imagina hoje em dia, se na trama, mulheres levam tapa na cara a torto e a direito, inclusive na frente de crianças, com desculpas do tipo “ela me provocou!”.

Para adaptar para os dias atuais, seriam necessárias tantas mudanças que a trama original ficaria completamente descaracterizada. Seria outra história, não um remake.

O bordão “Bateu, levou!” envelheceu tão mal quanto a novela. Que permaneça a sete chaves na memória afetiva de quem foi criança nos anos 1980.

Terra Nostra (1999-2000)

Terra Nostra

Começo desconsiderando o quanto Terra Nostra remetia à novela Os Imigrantes (Band, 1981-1982). A produção grandiosa que vimos em 1999 chamou a atenção pela direção de Jayme Monjardim, o elenco bem escalado e a trama sedutora de Benedito Ruy Barbosa. Porém, uma barriga incômoda prejudicou bastante o resultado final.

Tanto que, na reprise no Vale a Pena Ver de Novo (em 2004), Terra Nostra registrou um dos maiores fracassos de audiência na faixa vespertina. E, para a reapresentação no canal Viva (em 2019), providencialmente foi exibida a versão editada da novela, mais enxuta.

Melhor que um remake – acredito – seria mais interessante a continuidade da história, com os filhos de Giuliana e Matteo, como queria Benedito ao fim de sua novela.

Na época (2002), a Globo preferiu não dar continuidade à saga dos imigrantes de Terra Nostra e o autor apresentou uma nova história, Esperança (2002-2003) – como sabemos, marcada por uma série de problemas.

Que Rei Sou Eu? (1989)

Que Rei Sou Eu

Muitos comentam que a genialidade do texto de Cassiano Gabus Mendes renderia um remake hoje. Acredito, porém, que haveria de se mexer tanto na trama, que seria praticamente outro texto de novela.

Seria um novo roteiro, atualizado, com os mesmos personagens e a mesma premissa: de que o reino de Avilan é um microcosmo do Brasil e seus governantes, uma emulação dos políticos de hoje.

A novela fazia muitas alusões ao momento do Brasil de 1989, do escândalo da Mandioca, ao Plano Cruzado e aos selos-pedágio. Todas essas referências não fazem sentido hoje e teriam de ser substituídas e incrementadas por críticas e situações de nosso tempo.

Ainda: a adaptação teria de ser feita por alguém com o mesmo texto provocador e cínico de Cassiano.

A propósito, estou revendo a novela no Globoplay, bem na parte em que o conselheiro Bidet, candidato à eleição de Primeiro Ministro de Avilan, sugere explorar demagogicamente um tiro que levou no traseiro, a fim de sensibilizar seu eleitorado. Qualquer semelhança com fatos terá sido mera coincidência…

Dancin’ Days (1978)

Sônia Braga em Dancin' Days

Daquelas obras zeitgeist, que captam o espírito de seu tempo, Dancin´ Days é uma novela de 1978 que ficou em 1978.

As discotecas hoje dizem pouco, mesmo para os fãs saudosistas, que prefeririam assistir à novela original. A trama é boa, mas já foi recontada várias vezes – inclusive pelo próprio autor, Gilberto Braga. Ou seja: o que era novidade em Dancin’ Days, logo deixou de ser.

Duvido muito que a novela causasse hoje um terço do frisson que causou em 1978. A TV portuguesa até produziu a sua versão, mas que distanciou-se muito da obra de Gilberto.

Além do mais, a Globo levou ao ar, nem faz tanto tempo (2014-2015), Boogie Oogie, nas mesmas ambientações (Rio de Janeiro na Era Disco).

5 novelas que renderiam remakes

Renascer (1993)

Renascer

Tenho quase certeza que esse remake sai. O único problema é que ainda é muito cedo para sair.

A trama é bonita, o texto é poético, mas, convenhamos, Renascer era quase uma Pantanal 2, guardadas as devidas proporções. Muitas são as semelhanças entre as duas histórias. Mais ainda na época de sua primeira apresentação (1993), quando haviam se passado apenas três anos da exibição original de Pantanal, na Manchete.

O protagonista de ambas as tramas (Zé Leôncio/Zé Inocêncio) era dono de uma vasta propriedade e possuía um vizinho mal intencionado (Tenório/Teodoro) cuja filha (Guta/Sandra) se envolve com o filho enjeitado (Tadeu/João Pedro).

Havia também a mulher submissa que era tratada pelo marido machista (Tenório/Teodoro) com um apelido depreciativo (Maria Bruaca/Dona Patroa). Ainda a presença de uma estranha (Muda/Mariana) que surgia para se vingar de um personagem, e que descendia de um antigo inimigo dele.

Cabe um remake, talvez daqui uns cinco anos.

Tieta (1989-1990)

Tieta

Acho a ideia de um remake de Tieta até bastante ousada. Porém, teria de ser feito pelos próprios Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares (os dois, ou um, ou outro), que a escreveram com Ana Maria Moretzsohn.

Uma nova adaptação do romance de Jorge Amado, por outros autores, seria uma outra novela.

O grande problema é o elenco. Os atores de Tieta eram, na maioria, veteranos. Será que ainda temos um elenco de veteranos tão maravilhoso como este que tivemos em 1989?

O Casarão (1976)

O Casarão

A trama da novela era contada em três épocas que se intercalavam na narrativa, sem aviso prévio – uma novidade em 1976 que afastou o telespectador da tradicional novela das oito da Globo. Hoje, renderia uma novela mais curta, para o streaming ou para o horário das onze.

O Casarão vem do mesmo pacote de obras ousadas de nossa teledramaturgia da década de 1970, de onde saíram também O Rebu (1974-1975), que a Globo já refez (em 2014), O Grito (1975-1976) e Espelho Mágico (1977). Estas duas últimas, aliás, mereciam não remakes, mas adaptações aproveitando as suas premissas.

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Xica da Silva (1996-1997)

Xica da Silva

Gosto da ideia. Mas confesso que morro de medo! A novela tem dois autores. O diretor Walter Avancini, que era o idealizador do projeto, guiava o autor, Adamo Angel, então pseudônimo do novato Walcyr Carrasco.

Avancini já é falecido. Meu medo é Carrasco transformar Xica da Silva em um besteirol à la A Dona do Pedaço ou Verdades Secretas 2.

Adoro a novela, é uma das minhas preferidas, mas, como afirmei acima, acho uma temeridade!

Elas por Elas (1982) + Brega e Chique (1987)

Elas por Elas

Cada novela, separadamente, não rende uma novela hoje em dia (poucas tramas e poucos personagens). A ideia seria juntá-las.

Já sugeri a Vincent Villari (que refez Anjo Mau e Ti-ti-ti com Maria Adelaide Amaral) e ele achou interessante, mas respondeu que preferia contar suas próprias histórias, e não fazer mais remakes. Não tiro sua razão.

Às tramas de Elas por Elas, juntaria a espinha dorsal de Brega e Chique, unindo as duas obras – como Vincent e Maria Adelaide fizeram com Ti-ti-ti e Plumas e Paetês, e como Ivani Ribeiro fez com Mulheres de Areia e O Espantalho.

Brega e Chique

Assim, Rafaela, Rosemere e Zilda, as Alfas 1, 2 e 3 de Brega Chique, substituiriam três das sete amigas de Elas por Elas (no caso Márcia, Carmem e Wanda). As sete amigas se reencontram vinte anos depois. Rafaela é uma mulher rica e afetada que não sabe que o marido tem um caso com Zilda e tem uma outra família com Rosemere.

O marido morre e Rafaela contrata o detetive Mário Fofoca para saber quem era a mulher com quem ele estava no motel quando morreu. Mário seria irmão de Zilda (a amante), ou de Rosemere, a outra mulher.

Mário Fofoca faria as vezes de Montenegro, por quem Rafaela acaba se interessando. Depois descobre-se que o marido não morreu e etc. Que tal?

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor