Quando todos esperavam a volta de Mulheres Apaixonadas (2003) no Vale a Pena Ver de Novo, substituindo A Favorita, uma peça foi pregada pela Globo. Na surdina, a emissora aproveitou o último capítulo de Pantanal para anunciar sua próxima reprise.

O Rei do Gado

Num dos intervalos, foi anunciada a volta de O Rei do Gado, exibida originalmente entre 17 de junho de 1996 e 14 de fevereiro de 1997, com 209 capítulos. Um dos maiores sucessos da história da Globo, a novela das oito também foi assinada por Benedito Ruy Barbosa, autor de Pantanal.

A emissora estudava a questão com muito cuidado, pois A Favorita, apesar de não ser um fracasso, está longe de repetir números alcançados pelas recentes reprises de Por Amor, Avenida Brasil, Eta Mundo Bom! e Laços de Família.

Além disso, a Globo mudou o esquema de distribuição de novelas para suas faixas de reprises: o novo horário criado no ano passado, que estreou com O Cravo e a Rosa, ficará com tramas das seis e das sete; o tradicional Vale a Pena Ver de Novo terá apenas produções das oito e das nove. Entre as novelas recentes, sem contar Walcyr Carrasco (Amor à Vida e O Outro Lado do Paraíso) e Gloria Perez (América e Salve Jorge, já que A Força do Querer voltou no ano passado), restaram poucas opções.

A trama

O Rei do Gado teve uma emocionante primeira fase – uma espécie de Romeu e Julieta tendo como pano de fundo a decadência do ciclo do café e a inserção do Brasil na Segunda Guerra Mundial, que foi um dos melhores momentos de nossa teledramaturgia. Era uma história à parte, separada da fase definitiva (ainda que mostrasse os antecedentes dos personagens), que chegou a ser exibida no exterior como minissérie.

A segunda e definitiva fase mostrou a modernização e a riqueza do interior paulista por meio da cidade de Ribeirão Preto. Porém, a novela tinha núcleos espalhados em outras regiões, como a capital paulista e o Araguaia, que também serviram de cenário para a trama.

Carlos Vereza

Parte da aceitação do público deveu-se a personagens ricos, carismáticos e pouco maniqueístas. Antônio Fagundes, Raul Cortez e Carlos Vereza interpretaram tipos que marcaram suas carreiras: Bruno Mezenga, Jeremias Berdinazzi e o Senador Roberto Caxias, respectivamente.

Patrícia Pillar passou dez dias entre os cortadores de cana para compor sua bela e forte Luana, personagem pela qual foi muito elogiada. Fábio Assunção, então com 25 anos, teve seu primeiro grande momento na TV, como o rebelde Marcos Mezenga.

O Rei do Gado

Silvia Pfeifer, no papel da infiel Léa Mezenga, recebeu críticas pela sua interpretação, mas conquistou o público. Com o passar do tempo, Léa tornou-se um ícone das personagens de novelas, seja pelos belos figurinos ou pela caracterização (loura oxigenada), um tanto caricata.

Além disso, na época, ficou notória a frustração de Glória Pires com sua personagem Rafaela, que fingia ser Marieta Berdinazzi, a sobrinha desaparecida de Jeremias (Raul Cortez).

Temas polêmicos

Patricia Pillar

A Reforma Agrária, a vida dos trabalhadores do Movimento dos Sem Terra (MST) e a luta pela posse de terras foram amplamente discutidos na novela e tiveram grande repercussão na mídia e na sociedade em geral. O Rei do Gado estreou dois meses após a morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (PA), fato que tomou conta do noticiário da época e gerou muita discussão.

Benedito Ruy Barbosa ainda recebeu inúmeras críticas de políticos por causa da forma como mostrava ao telespectador o trabalho dos parlamentares. Em uma marcante cena da novela, o Senador Caxias (Carlos Vereza) fez um discurso emocionado sobre os sem-terra enquanto no plenário havia apenas três senadores: um cochilando, outro lendo jornal e o terceiro falando ao celular.

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo duas vezes: entre março e agosto de 1999, e entre janeiro e agosto de 2015. O sucesso da segunda reprise – uma das maiores audiências da faixa vespertina na década de 2010 – é curioso pelo fato de, à época, a novela já ser considerada velha: 19 anos separavam a exibição original da segunda reexibição. O Rei do Gado foi ainda reprisada no canal Viva, entre fevereiro e novembro de 2011.

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