O alto escalão de executivos da Globo se omitiu ao receber uma série de denúncias de assédio moral e sexual envolvendo Marcius Melhem, que foi o chefe de departamento de programas de humor entre 2018 e 2019, depois de outros 16 anos como ator em novelas e séries na rede.
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O TV História ouviu funcionários da rede, que endossaram a reportagem publicada pela revista Piauí nesta sexta (4): a cúpula quase que ignorou relatos sérios — apesar de terem sido feitos por estrelas, como foi o caso de Dani Calabresa — por estar feliz com o resultado dele na chefia do setor.
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O tratamento dado ao caso de Marcius Melhem nada lembra, por exemplo, a forma com que a Globo lidou com José Mayer. O ator, acusado de assédio sexual por uma figurinista da emissora, foi imediatamente afastado e exposto em pleno Jornal Nacional — e acabou demitido depois.
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Durante a gestão de Melhem, o núcleo voltou a ganhar destaque na mídia. Os auto-proclamados progressistas e “humor do bem” fizeram com que a Globo passasse a ter relevância em um setor até então massacrado pela crítica especializada e pelo público, e a audiência de programas como o Zorra também cresceu durante a sua passagem.
Os primeiros relatos de assédio divulgados pela Piauí são anteriores a promoção dele para o cargo máximo no humor da rede. No dia 5 de novembro de 2017, quando era redator final do Zorra, ele teria tentado forçar Dani Calabresa a beijá-lo em uma confraternização do programa, realizada fora das instalações da emissora.
Sem sucesso, Melhem voltou a encurralar a atriz perto de um banheiro. Ali, ele lambeu o seu rosto e tirou o seu pênis para fora da calça — e ao tentar se desvencilhar da situação, as mãos de Dani acabaram encostando no órgão genital do humorista. Ela teve uma crise de choro ao voltar para a festa, e foi confortada por dois colegas.
Três dias depois, dessa vez nos Estúdios Globo, Marcius voltou a assediar Dani Calabresa. “Quem mandou você estar muito gostosa?”, justificou ele, fazendo referência ao episódio do fim de semana. A cena foi testemunhada por Maria Clara Gueiros, outra atriz contratada da rede.
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Daniela Ocampo, braço-direito de Melhem em sua gestão, foi uma das procuradas pela ex-mulher de Marcelo Adnet para relatar os episódios de assédio e de sabotagem protagonizados pelo executivo. Ela sugeriu que a atriz procurasse uma terapia e tirasse férias no exterior “para relaxar”.
Foi o gancho para que Dani se queixasse para uma instância maior: ela entrou em contato com o DAA, o Desenvolvimento e Acompanhamento Artístico. Ela se reuniu com Mônica Albuquerque (foto abaixo), então gestora do setor, em 2 de janeiro deste ano e recebeu a promessa de que o caso seria apurado pelo setor de compliance da Globo.
Jazette Guedes, braço direito de Mônica no DAA, endossou a sugestão feita outrora: pediu para que a atriz procurasse uma terapia. Insatisfeita, Dani pediu uma reunião com Carlos Henrique Schroder, que até então era o diretor-geral da emissora.
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Calabresa conseguiu a reunião, mas pouca coisa mudou. Marcius Melhem saiu da Globo em 14 de agosto, e recebeu como prêmio uma gentil nota enviada aos veículos de imprensa exaltando a sua trajetória vitoriosa na emissora, sem quaisquer menção ao escândalo prestes a estourar.
No início deste mês, a emissora anunciou a saída de todos os nomes que tiveram envolvimento, mesmo que indireto, no caso. Schroder deixará o canal no início de 2021; Silvio de Abreu, que sucedeu Melhem na chefia do humor, foi demitido; e Mônica Albuquerque pediu demissão depois da apuração feita pela revista Piauí.