Esse texto já tinha virado lenda na redação. Explico: há alguns meses eu queria escrever sobre o Globo Repórter. O longevo programa jornalístico da Globo vai muito bem de audiência; mesmo assim, sentia falta de pautas factuais, sobre temas do momento, que fugissem do esquema saúde/viagem/finanças, como basicamente é feito nos últimos anos.

Vale lembrar que o Globo Repórter é “filho” do Globo Shell Especial e surgiu em 1973. A ideia era fazer um produto nos moldes do 60 Minutes, até hoje referência na televisão dos Estados Unidos. Nos anos 1970, os programas eram verdadeiros documentários, muitos deles feitos por premiados cineastas.

Já nos anos 1980 e 1990, a estrutura mudou. Mas, quando acontecia alguma coisa, você podia esperar que o assunto seria tema do Globo Repórter. Morte de personalidades, como Chacrinha, Ulysses Guimarães e Ayrton Senna, escândalos na política, preparativos para Olimpíada, Copa do Mundo, Fórmula 1, combate ao tráfico de drogas, entre muitos outros. A saúde, as viagens e as finanças estavam lá, claro, mas fazendo rodízio com esses temas.

Recentemente tivemos algumas edições do Globo Repórter que fugiram do esquema que já citei. Uma delas, sobre a Olimpíada de 2016. Outras duas foram há poucas semanas: Aparecida e os bastidores de A Força do Querer. Mas, antes disso, nada de Operação Lava Jato. Nada de impeachment. Nada de acidente da Chapecoense. Parecia que essa função factual tinha ficado a cargo do Profissão Repórter, de Caco Barcellos.

Na sexta passada (27), o Globo Repórter “antigo” deu as caras. O tema foi o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), maior desastre ambiental da história do Brasil, que completa dois anos agora em novembro.

O jornalístico refez o caminho da lama para mostrar como estão atualmente a natureza da região e o Rio Doce; o que sobrou dos distritos de Bento Ribeiro e Paracatu de Baixo; a insegurança sobre o que pode acontecer com pessoas e animais que tiveram contato com a lama contaminada por metais; a situação das famílias que perderam tudo e ainda esperam por providências; e a determinação de quem está dando a volta por cima.

Deixo bem claro que gosto da atração do jeito que ela é – os episódios recentes sobre novos empreendedores brasileiros e gente que mora sozinha, por exemplo, foram ótimos. Assim como os temas de saúde e, principalmente, viagens e belas paisagens, são essenciais para cativar o público, ainda mais numa noite de sexta, quando, muitas vezes, apenas se quer relaxar.

Mas nada como ver uma boa reportagem sobre um tema atual na tela da televisão. Espero que vire rotina novamente.


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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor