Globo repete estratégia antiga para tentar salvar Cara e Coragem

O roteirista (e ator) Wendell Bendelack é o mais novo reforço da autora Cláudia Souto para fazer a novela Cara e Coragem decolar. A novidade é de Carla Bittencourt, do Notícias da TV.

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A atual novela das sete tem uma média geral de 21 pontos no Ibope da Grande SP, tal qual a registrada pela trama anterior, Quanto Mais Vida, Melhor, mas sem a mesma repercussão. Ambas muito longe dos 26 pontos a que chegou Salve-se Quem Puder (2020-2021).

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Wendell Bendelack foi um dos parceiros de Cláudia Souto em sua novela Pega Pega (2017-2018). Além de outros trabalhos no currículo, Bendelack tem a sinopse de uma novela das seis aprovada e que está na fila de espera para produção.

Incêndios e terremoto

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Às vezes, a emissora precisa agir rápido para impedir que a queda de audiência reverta em um grande fracasso. Apagar incêndios em teledramaturgia é muito comum. Desde a década de 1960, em todas as emissoras, autores são chamados para auxiliar novelas em crise na audiência.

Relaciono 15 casos notórios, que nem sempre surtiram o efeito esperado:

O ator Emiliano Queiroz escrevia, sem muita técnica, a novela Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967), na tentativa de emplacar na audiência, que não parava de cair. Janete Clair (em sua estreia na Globo) foi convocada por Glória Magadan, então supervisora de dramaturgia da emissora, para continuar a história.

Janete começou do zero: idealizou um terremoto que matou a maioria dos personagens e a trama teve um salto de vinte anos na ação. Leila Diniz, que vivia a protagonista, passou a interpretar dois papéis: Anastácia e a filha dela.

A novela A Cabana do Pai Tomás (1969-1970) começou escrita por Hedy Maia e Péricles Leal, com supervisão de Glória Magadan e do ator Sérgio Cardoso, que vivia o protagonista. Diante de polêmicas (Sérgio foi acusado de black face, por interpretar um personagem negro), um incêndio, mudança de horário e audiência baixa, Walther Negrão (estreando na Globo) foi acionado e terminou de escrever a novela, transformando tudo em um alucinado faroeste.

Fitas apagadas

Em 1979, Lauro César Muniz escrevia Os Gigantes, em que a eutanásia foi pela primeira vez abordada em uma telenovela. A trama começou falando de doença, hospital, tensão, e passou por aborto, brigas familiares e processos judiciais. A novela foi tachada de depressiva, provocando o desinteresse no público, a exaustão do autor e a sua demissão antes do fim.

O último capítulo foi escrito por um autor cujo nome não foi revelado na época. Lauro havia deixado pronto o desfecho de sua história, que acabou completamente alterado. Anos depois, ele descobriu que havia sido Walter George Durst o redator do capítulo final de sua novela.

O Amor é Nosso! (1981) começou escrita por seus idealizadores, Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho. Um emaranhado de personagens confundiu o público, afastando-o da novela e tornando-a uma das produções mais complicadas da história. Reza a lenda que a emissora tenha apagado todas as fitas com capítulos, sobrando apenas a abertura e algumas chamadas de estreia.

A partir do capítulo 80, Walther Negrão foi escalado para dar continuidade à história, mas restava pouco por fazer.

Outra problemática produção da Globo foi De Quina Pra Lua (1985-1986), a primeira novela de Alcides Nogueira como roteirista solo, a partir de um argumento de Benedito Ruy Barbosa. Tide revelou em entrevista:

“… o estresse provocado pelo Benedito, que tendo entregado a sinopse a mim, continuava me telefonando todo dia, para reclamar disso e daquilo. Quando cheguei ao capítulo 60, não tive dúvida: fui para o Rio e disse que estava entregando a novela. Houve uma reunião difícil, complicada. (…) Aí, o grande amigo Walther Negrão entrou na jogada. E o Benedito parou de me perturbar”.

Barra pesada

Atração da TV Manchete, a novela Corpo Santo (1987) tinha uma proposta ousada ao enfocar a violência urbana com realismo. Sofreu com a rejeição de uma parte do público que acusou a novela de “barra pesada”. Ainda problemas internos, como a saída de Christiane Torloni, que vivia a protagonista, após um desentendimento com a produção.

Os autores José Louzeiro e Cláudio MacDowell deixaram a trama antes do final e Wilson Aguiar Filho foi convocado para concluir a roteirização dos capítulos.

No final de 1991, a novela Amazônia estreou na TV Manchete com grande alarde. Mas não passou de uma grande decepção para a emissora. Para recuperar a audiência perdida e compensar prejuízos, a trama original teve um fim no capítulo 43 e, com o mesmo elenco, entrou no ar Amazônia, Parte 2.

As equipes de roteiristas e diretores sofreram alterações. Jorge Duran, autor do argumento inicial, criou a segunda parte com Regina Braga e novos colaboradores. Mas não teve remédio: Amazônia firmou-se como um dos maiores fracassos da Manchete e contribuiu bastante para o agravamento da crise da emissora.

Problemática produção do SBT, o remake de Sangue do Meu Sangue (1995), originalmente escrita por Vicente Sesso, tornou público o desentendimento entre o autor e os adaptadores Paulo Figueiredo e Rita Buzar. A crise provocada pela insatisfação da emissora com a baixa audiência, e do pai da obra, Vicente Sesso, com a adaptação, acabou levando à intervenção dele na novela.

Sesso chegou a ameaçar o SBT de que recorreria à Justiça para tirar a trama do ar caso a emissora não fosse fiel ao seu texto. Rita Buzzar, antes de se desligar da novela, rebateu as críticas de Sesso. Contudo, as mudanças feitas por ele em nada melhoraram a repercussão da novela. Ao contrário, a audiência caiu ainda mais.

Crise financeira

Habitual colaboradora de Ivani Ribeiro, Solange Castro Neves escreveu apenas os 24 primeiros capítulos de Quem é Você (1996), baseada em um argumento deixado pela autora antes de sua morte, em 1995. Ao desentender-se com a emissora, diante da baixa audiência da novela, Solange deixou a trama nas mãos de Lauro César Muniz. Mas pouco restava a ser feito: a novela terminou sem grande repercussão.

A novela Brida (1998) foi a mais problemática produção da TV Manchete: agravou a crise financeira da emissora culminando com o seu fim, em maio de 1999. Baseada no best-seller de Paulo Coelho, a trama começou escrita por Jaime Camargo, que a levou até o capítulo 14. A pouca repercussão fez com que ele fosse substituído por Sônia Mota e Angélica Lopes.

De nada adiantou: diante do fracasso reconhecido, a direção da Manchete decidiu tirar a novela do ar, interrompendo subitamente a trama, apresentando uma narração que explicava qual seria o desfecho da história.

Três meses após a estreia de Esperança (2002), de Benedito Ruy Barbosa, as gravações começaram a se arrastar em função da demora na entrega de capítulos. A novela entrou em “barriga” e a audiência despencou. A crise chegou ao ápice com a mudança de mãos: Benedito passou o bastão a Walcyr Carrasco.

Carrasco mexeu bastante na trama, mas Benedito não gostou. Em entrevista, ele desabafou:

“Quando ele assumiu a novela, deixei de assistir. Se visse, queria bater nele. Na época, liguei para o Mário Lúcio Vaz [então diretor artístico da Globo] e disse ‘avisa o Walcyr que quando eu encontrar com ele, eu vou dar porrada, entendeu?’ Ele simplesmente acabou com minha novela. Não terminou como eu queria”.

Com uma proposta diferente e inovadora, a novela Bang Bang (Globo, 2005) não conseguiu cativar o público, fato refletido nos números de Ibope. Já na segunda semana de exibição, o autor Mário Prata foi afastado para cuidar de problemas de saúde. Ele deixou 30 capítulos escritos e 20 projetados.

Márcia Prates assumiu a coordenação do texto e, depois, Carlos Lombardi foi acionado para dar um rumo à trama. De nada adiantou: Bang Bang entrou para a história da Globo como um de seus maiores fracassos.

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Fofocas de bastidores

A novela Babilônia (2015) penou com a repercussão negativa refletida na baixa audiência: foi o menor Ibope registrado até então em uma novela do prime-time da Globo. Com a rejeição do público e uma enxurrada de críticas, os autores – Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenez Braga – se mobilizaram para tentar salvar a novela.

O próprio diretor de dramaturgia da Globo, Silvio de Abreu, organizou e reescreveu cinco capítulos (do 37 ao 41) e acelerou acontecimentos. Apesar das mudanças realizadas, a audiência continuou baixa e a novela foi encurtada em três semanas.

Com a crise na novela Deus Salve o Rei (2018), a Globo convocou o experiente Ricardo Linhares para auxiliar o autor Daniel Adjafre a pôr sua história nos trilhos. Um ajuste providencial foi a mudança no tom de interpretação de Bruna Marquezine como a fria princesa Catarina, no início muito criticada pela postura e fala robóticas. Imediatamente a atriz foi orientada a uma atuação mais naturalista.

O máximo de repercussão de O Sétimo Guardião (2018-2019) não dizia respeito à trama, mas aos seus conturbados bastidores, que fomentaram uma cadeia de fofocas envolvendo traição de ator, Surubão de Noronha e darkroom da Globo.

Mais do que a audiência abaixo da esperada para o horário, O Sétimo Guardião foi uma novela que mal repercutiu. Caso de Cara e Coragem, aliás.

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