O autor Gilberto Braga, responsável por sucessos como Escrava Isaura (1976), Dancin’ Days (1978), Anos Dourados (1986), Vale Tudo (1988), Anos Rebeldes (1992), Força de um Desejo (1999), Celebridade (2003) e Paraíso Tropical (2007), entre outros, não queria que Babilônia (2015) ficasse lembrada como seu último trabalho.

Gilberto Braga

Gilberto faleceu em outubro de 2021, aos 75 anos, após várias tentativas de emplacar outros projetos. Ele deixou títulos inéditos, todos lamentavelmente vetados pela direção de Dramaturgia da Globo – então a cargo de Silvio de Abreu, hoje envolvido em produções para a WarnerMedia.

Frustração às 21h

Babilônia

Babilônia saiu de cena com a menor média da faixa das nove. Foram 25,5 pontos, bem abaixo dos 32,7 registrados pela antecessora Império (2014). Tal índice só foi superado por Um Lugar ao Sol (2021) – folhetim todo gravado durante a pandemia de Covid-19 –, com 22,3 de média.

A novela assinada por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga padeceu com a narrativa inconsistente e o moralismo que condenou o romance de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg), representado pela fuga de audiência para a bíblica Os Dez Mandamentos (2015), da Record.

Diante do insucesso, Gilberto decidiu voltar à cena com outras tramas. A revelação de tais trabalhos veio através das declarações de João Ximenes para a jornalista Cristina Padiglione, da Folha, por ocasião da morte do colega. Ele pediu que a Globo libere ou desenvolva as sinopses e os capítulos que o mestre deixou…

A vontade de voltar à TV

Gilberto Braga e João Ximenes Braga

João (de camisa branca na foto acima) relatou que Giba preservou cerca de 80 capítulos de Babilônia, antes da intervenção pela qual a novela passou em nome da audiência – então com Silvio de Abreu no posto máximo da Dramaturgia da casa. Também que ele desejava urgentemente retomar a escrita e apagar o fracasso da novela.

“Em 2015, quando voltei da viagem de férias após ‘Babilônia’, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de ‘Babilônia’, que até hoje é o pior ibope do horário”, afirmou João.

“Não ouso dizer que antecipasse sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. […] Mas superar esse fracasso era importante para ele”, complementou o novelista.

Títulos inéditos

Brilhante

Além de solicitar a disponibilização dos originais de Babilônia para fãs e pesquisadores, João Ximenes Braga rememorou outros projetos com a assinatura de Gilberto Braga, todos inéditos: uma minissérie baseada na vida de Elis Regina, a atualização de Brilhante (1981, foto), novela desenvolvida por ele, e a adaptação de Feira das Vaidades para às 18h.

“A minissérie era sobre Elis Regina [1945-1982] e, apesar de os seis capítulos entregues, nunca foi produzida porque o filme Elis [2016] chegou primeiro. Já a novela das onze passou a ser muito mais que um simples remake de ‘Brilhante’ e ganhou outro título, ‘Intolerância’. Teve seus 60 capítulos escritos e entregues, mas foi sucessivamente adiada e por fim, cancelada, pelas mesmas forças que destruíram ‘Babilônia’, disparou João Ximenes.

Brilhante enfrentou os cortes da Censura, que impediam a abordagem da homossexualidade de Inácio (Dennis Carvalho), herdeiro da poderosa Chica Newman (Fernanda Montenegro), que desejava casá-lo com Luiza (Vera Fischer). A produção póstuma poderia cumprir o último desejo de Gilberto, de fazer sucesso após Babilônia. Com boa vontade, poderia ser encaixada na TV aberta ou no streaming.

Libera, Globo!

Gilberto Braga

Feira das Vaidades, concebida em parceria com Denise Bandeira com base no livro homônimo de William Makepeace Thackeray, também foi para a gaveta.

“Mas ‘Feira das Vaidades’ foi cancelada este ano, segundo ele me disse, porque diante da crise da pandemia a emissora não mais faria produções de época. No mesmo telefonema em que me contou isso, disse que lhe encomendaram uma novela das nove e perguntou se eu achava que ‘Intolerância’ poderia ser adaptada para o horário”, relembrou João.

O autor encerrou o depoimento com um apelo, que também compete aos fãs de Gilberto Braga, pela produção ou liberação destas obras:

“Pode ser num livro, no site do Memória Globo, ou uma simples doação à Biblioteca Nacional, para que fãs e pesquisadores possam conhecer a produção do Gilberto de 2015 para cá. É o mínimo a fazer com a memória de Gilberto”.

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Dyego Terra

Dyego Terra é jornalista e professor de espanhol. É apaixonado por TV desde que se entende por gente e até hoje consome várias horas dos mais variados conteúdos da telinha. Já escreveu para diversos sites especializados em televisão. Desde 2005 acompanha os números de audiência e os analisa. É noveleiro, não perde um drama latino, principalmente mexicano, e está sempre ligado na TV latinoamericana e em suas novidades. Análises e críticas são seus pontos fortes. Leia todos os textos do autor