Um dos marcos da MTV Brasil foi o Acústico MTV, que levava ao palco bandas e artistas para fazerem um show intimista, sem guitarras, baixos e aparelhos eletrônicos.
Rita Lee, Gilberto Gil, Legião Urbana, Gal Costa, Titãs, Cássia Eller, Paralamas do Sucesso e Zeca Pagodinho foram alguns dos artistas que passaram pelo Acústico do canal.
Porém, um grande nome da música popular esteve presente, mas nunca teve o seu show veiculado na emissora musical.
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O rei e o violão
Nomes consagrados atestaram que o Acústico era um grande sucesso de crítica e público; todos topavam participar da empreitada.
Um nome forte da MPB não ficou de fora. Roberto Carlos aceitou o convite e um dos motivos foi sua esposa, Maria Rita, que morreu em 1999 e adorava esse tipo de show.
Para a MTV era um prato cheio ter o rei da música em CD, DVD e especial de TV. A Sony Music, gravadora do cantor, topou na hora, e a Globo, dona da imagem do artista, deu carta-branca para a gravação do Acústico. Mas um entrave criou um dos maiores mistérios da história da TV.
Conflito com a poderosa
A MTV cuidou de toda a preparação para a gravação do Acústico, que ocorreu no Polo de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro. Não foi nada fácil agradar o rei, que, ao ver a decoração do cenário, pediu para mudar tudo. Ele escolheu apenas dois convidados: Samuel Rosa (foto acima), do Skank, e Tony Belloto, dos Titãs.
Em seu livro “MTV, Bota Essa P#@% Pra Funcionar”, Zico Goes, então diretor do canal, relata que Roberto Talma esteve presente nos ensaios, agiu de forma arrogante e colocou uma câmera no local. A equipe o expulsou, alegando ser proibido filmar qualquer coisa.
Barrados no baile
No dia da gravação, uma equipe da Globo chegou para fazer o registro do show, mas foi impedida de entrar. A alegação era que os equipamentos de outro canal atrapalhariam todo o processo.
Isso criou um clima de revolta na emissora global que, de cara, vetou a exibição de qualquer imagem de Roberto Carlos na programação da MTV. Reuniões foram feitas, mas a Globo não aceitava nenhum tipo de acordo e ninguém estava autorizado a passar o Acústico.
“Como cantor, Roberto pode fazer o trabalho que quiser. Mas ele é contratado como artista da emissora e só pode participar de outro programa de TV se for autorizado. A MTV não cumpriu o que foi combinado, e a Globo decidiu não autorizar a exibição”, afirmou Luís Erlanger (foto acima), então diretor da Central Globo de Comunicação, a Folha de S. Paulo em 11 de maio de 2001.
A saída foi o improviso
A MTV, de mãos atadas, teve que recorrer ao improviso para divulgar o CD do Acústico, que estava liberado para venda.
“Isso não é novidade, estamos acostumados a apresentar música de maneira diferente para o nosso público”, disse Cris Lobo, diretora da MTV, a Folha de S. Paulo em 7 de outubro de 2001.
Já a Globo buscava planos para explorar o sucesso do novo disco do rei.
“Em respeito a Roberto Carlos e aos fãs, a ideia é produzir o clipe acústico, para divulgar o CD na TV Globo. Ainda se estuda a possibilidade de fornecer parte do clipe, editada, para comerciais e outros canais”, falou Luís Erlanger.
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Cutucando a onça com vara curta
Uma das características da MTV Brasil era a forma despojada e, às vezes, anárquica de fazer sua programação. No Vídeo Music Brasil de 2001, algumas cenas do Acústico foram exibidas, mas sem mostrar Roberto Carlos (na foto acima, com Hebe). A provocação não agradou a Globo, que não cedia de forma alguma a exibição do especial.
Mas o público teve uma experiência de ver o Acústico no especial de fim de ano na Globo: Roberto Carlos gravou algumas músicas no estilo da produção feita pela MTV. Na época, falaram que a emissora carioca estava “pirateando” a rival.
Anos depois, as emissoras entraram em um acordo para a venda do DVD. E ficou claro que, mesmo sendo um canal pequeno, a produção da MTV não deixou a desejar. O capricho das duas empresas barraram o especial na TV aberta.
No YouTube e no streaming você encontra o Acústico MTV Roberto Carlos na íntegra. Já a fita original está guardada a sete chaves, sem nunca ter ido ao ar.
