André Santana

O Conversa com Bial foi um dos programas que melhor se adaptou ao período crítico da pandemia da Covid-19. Por conta das restrições impostas pelos severos protocolos de segurança, o talk show da Globo abriu mão de cenários, banda e plateia, apostando em prosaicas entrevistas remotas.

Encontro - Pedro Bial
Reprodução / Globo

O resultado foi positivo. A atração de Pedro Bial ficou mais intimista, deixando a conversa entre o jornalista e seu convidado mais interessante. Funcionou tão bem que o programa seguiu no novo formato, mesmo quando a volta aos estúdios foi autorizada.

Porém, na temporada de 2023, Conversa com Bial não escapará de um “retorno às origens”. O talk show de fim de noite da Globo ganhará novo cenário e voltará a ser gravado nos estúdios da emissora em São Paulo. Com isso, corre o risco de perder o tom íntimo e pessoal que fez tão bem à atração nos últimos anos.

Igual aos demais

Programa do Jô - Jô Soares
Reprodução / Globo

Conversa com Bial foi formatado para suceder o Programa do Jô (foto) nas madrugadas da Globo. O saudoso Jô Soares saiu de cena e deu espaço a Pedro Bial, o que provocou uma grande mudança na grade da emissora.

Jô fez história com seu programa inspirado nos night shows estadunidenses. Criou um estilo e foi o único no segmento por anos. No entanto, nas temporadas derradeiras do Programa do Jô, o apresentador e humorista ganhou concorrentes. Agora É Tarde, da Band, The Noite, do SBT, e Programa do Porchat, da Record, bebiam da fonte do “gordo”.

Assim, quando resolveu aposentar Jô Soares, a Globo optou por ir na contramão da concorrência. Se as demais emissoras tinham talk shows com humoristas, ela teria um jornalista à frente do seu. Pedro Bial, que revelou um lado showman em anos à frente do BBB, foi incumbido da missão.

A mudança aconteceu. Com Bial, o papo perdeu o tom de humor e ganhou uma capa mais jornalística, mais de acordo com seu anfitrião. No entanto, a estética da atração era exatamente a mesma. Bancada, poltrona, bandas, canecas, plateia… O formato em si não mudou.

Alteração forçada

Hebe Camargo e Marília Gabriela
Reprodução / GNT

Mas, com a pandemia, o Conversa com Bial foi obrigado a mudar seu formato. Pedro Bial passou a comandar seu talk show de casa, conversando com seus convidados remotamente. Assim, conseguiu ganhar uma cara diferente do Programa do Jô e seus “herdeiros”.

Ao conversar cara a cara com seus entrevistados (ou “tela a tela”, já que as entrevistas eram remotas), Pedro Bial deixou seu “lado Jô” para trás e assumiu uma “porção Marília Gabriela”, mestra em fazer um bom programa com apenas um convidado, uma bancada e duas cadeiras. Com isso, alcançou efeito semelhante ao que fez o sucesso de Gabi, à frente de programas como Cara a Cara (Band), De Frente com Gabi (SBT) ou Marília Gabriela Entrevista (GNT, foto).

Sem banda, cenário, firulas ou pirotecnia, a grande atração do Conversa com Bial passou a ser, “apenas”, o convidado. E isso fez toda a diferença. O programa passou a fazer jus ao nome e ofereceu excelentes conversas ao público nestes três anos em novo formato. No ano passado, aliás, Conversa voltou a fazer entrevistas presenciais, mas em estúdios ou locações que prezavam o intimismo. Funcionou.

Volta às origens

Conversa com Bial - Pedro Bial
Reprodução / Globo

De acordo com Patrícia Kogut, colunista de O Globo, o Conversa com Bial voltará a ser feito dos Estúdios Globo em São Paulo. A atração ganhará um novo cenário e inaugurará a nova fase em março. Segundo Kogut, as entrevistas remotas permanecerão, quando necessárias, mas Bial as gravará do estúdio, e não mais de sua casa.

No entanto, a colunista de O Globo não informou se a volta aos estúdios significa uma volta às origens. Ou seja, não se sabe se Conversa com Bial voltará a ter banda, plateia, bancada e outras firulas que apresentou em seus primeiros anos. De repente, o novo cenário tentará manter o intimismo conquistado nas temporadas recentes. com um menor distanciamento entre Bial e seu convidado. É algo possível.

Mas, caso queira retomar o Conversa com Bial do mesmo jeito que o programa era antes da pandemia, a Globo dará um passo enorme para trás e retrocederá diante da enorme evolução que o programa obteve nesta “fase remota”. Pode ser um tiro no pé.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor