André Santana

A gravidez de Irma (Camila Morgado) tem mexido com todos em Pantanal. Os moradores da casa de José Leôncio (Marcos Palmeira) estão impressionados com a possibilidade de o bebê nascer com poderes sobrenaturais, já que é o filho de Trindade (Gabriel Sater), que tem um pacto com o cramulhão. Assim, para evitar que o coisa-ruim se aposse de seu herdeiro, Trindade deixará a fazenda nos próximos capítulos.

Pantanal

O peão se despedirá de Irma, com quem viveu um tórrido romance, e partirá do Pantanal. Ele deve retornar apenas para fazer o parto do filho, entregando o bebê para José Lucas (Irandhir Santos) em seguida e partindo novamente, desta vez para sempre.

Na primeira versão de Pantanal, exibida pela Manchete em 1990, o autor Benedito Ruy Barbosa escreveu a despedida de Trindade para que seu intérprete, Almir Sater, fosse liberado para as gravações de A História de Ana Raio e Zé Trovão, trama que a substituiu. Ao que tudo indica, o destino do peão será mantido por Bruno Luperi, autor do remake da Globo.

Pantanal

A decisão vai de encontro ao que o público deseja. O casal Irma e Trindade caiu nas graças da audiência da novela da Globo e até apagou a má impressão inicial provocada pela personagem de Camila Morgado. Irma e Trindade formam um dos casais mais queridos da novela das nove da Globo.

Mudança

Bruno Luperi

Ou seja, no que depender do público, Irma e Trindade deveriam viver juntos e felizes para sempre, criando juntos o filho que tiveram. Com isso, o autor Bruno Luperi poderia alterar os rumos do casal e atender a vontade do público.

Porém, até aqui, nada garante que Luperi cederá aos apelos da audiência. Isso porque o autor demonstra uma séria dificuldade em alterar a obra do avô, Benedito Ruy Barbosa. O trabalho do atual novelista se resume, apenas, a atualizar o enredo, incluindo na trama questões da contemporaneidade e retirando discussões que já não cabem nos dias de hoje.

Mas a trajetória dos personagens segue intacta até aqui. O autor não se deu ao trabalho de atender aos pedidos do público para manter Madeleine (Karine Teles) viva, mesmo sabendo que a personagem só morreu na versão original porque a atriz Itala Nandi pediu demissão da trama.

Núcleo carioca

Pantanal

Luperi também não cumpriu a própria promessa de dar mais espaço ao núcleo do Rio de Janeiro, mantendo os destinos de Gustavo (Caco Ciocler) e Nayara (Victoria Rossetti). A única diferença foi que, desta vez, os personagens tiveram um desfecho, coisa que não aconteceu originalmente, quando eles simplesmente sumiram.

Nem mesmo a fase mais “barriguda” de Pantanal, no período em que José Leôncio e Jove (Jesuíta Barbosa) percorrem as fazendas do “rei do gado”, foi alterada. Esta fase, em que nada relevante aconteceu, foi muito criticada na versão original. Mesmo assim, Bruno Luperi não a corrigiu, mantendo o marasmo e recebendo todo tipo de crítica por conta disso.

Pantanal é, no geral, uma ótima novela. Mas não é perfeita. Benedito Ruy Barbosa enfrentou, em 1990, problemas comuns à uma obra aberta. Na atualização, Bruno Luperi tinha a chance de driblar tais problemas e corrigir os problemas de percurso da obra. Mas optou por seguir à risca a obra do avô e perdeu a chance de melhorar o que já era bom. Uma pena.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor