Globo parece exibir o mesmo capítulo de Travessia todos os dias

Travessia - Alessandra Negrini

Reprodução / Globo

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A situação da atual novela das nove da Globo está cada dia pior. Travessia registra uma das piores médias do horário nobre da emissora; a audiência não aumentou nem com o início do BBB 23. Pelo contrário: a trama vem prejudicando os índices do reality. E o fato é que a história de Glória Perez, dirigida por Mauro Mendonça Filho, tem feito por merecer o desinteresse do público.

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A novela parece apresentar o mesmo capítulo todo santo dia. A autora se mostra perdida no desenvolvimento de seu roteiro, deixando claro que precisou alterar os rumos por conta da rejeição do telespectador. O folhetim era para ter como mote central a disseminação de fake news e como estas podem destruir a vida de pessoas.

No início, houve o quase linchamento da mocinha por conta de uma mentira espalhada pela internet, situação baseada em um fato real ocorrido em 2014. Porém, Glória errou feio ao colocar algo tão sério – e que tem grandes organizações por trás – como fruto da irresponsabilidade de um adolescente. Para completar, o contexto foi simplesmente apagado ao longo dos meses.

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Disputa repetitiva

Reprodução / Globo

Travessia virou uma eterna disputa entre Brisa (Lucy Alves) e Ari (Chay Suede) pela guarda do filho, uma criança chata e mimada. A impressão que causa é que o fim da batalha judicial implicará no término dos conflitos do folhetim. Talvez por isso a escritora esteja demorando tanto para fechar o ciclo. É que não há outro para começar…

Afinal, o caso esquecido das fake news será solucionado como? O autor foi Rudá (Guilherme Cabral). O que a protagonista vai fazer? Se vingar de um garoto que tem uma péssima relação com a mãe e o ex-padrasto? Ele será preso? Ou a questão se resolverá com um pedido de desculpas?

A interminável briga de Brisa com Ari acaba resultando em cenas que andam em círculos, a ponto dos embates perderem todo o impacto dramático. Até o texto das discussões são repetitivos, inclusive as reclamações e surtos de Núbia (Drica Moraes), uma pretensa vilã cômica, que não atinge o objetivo da vilania e muito menos da comicidade.

Treta que nunca termina

Ellen Soares / Globo

Já o outro drama da produção se resume ao ódio entre Guerra (Humberto Martins) e Moretti (Rodrigo Lombardi). A rivalidade até poderia render, mas se arrasta desde a estreia de Travessia.

O folhetim está perto do capítulo 100, sempre com as mesmas situações: Guerra foge de qualquer informação a respeito do inimigo para evitar que Chiara (Jade Picon) descubra que é filha de Débora (Grazi Massafera) com Moretti, enquanto o outro ameaça Oto (Romulo Estrela) para que não conte a polícia que foi contratado para hackear os documentos de uma licitação.

Ainda, Cidália (Cássia Kiss) investigando e enganando Dante (Marcos Caruso), que virou aliado de Sara (Isabelle Nassar) – a amiga de Débora que só veio procurá-la depois de 20 anos, sem imaginar que Chiara é a tal ‘criança’ que procura.

Não precisa assistir para saber o que vai acontecer porque não acontece nada. Fica nisso.

Núcleo insosso

João Miguel Júnior / Globo

O núcleo de Vila Isabel tinha tudo para fazer jus ao que Glória Perez costuma colocar em suas histórias: personagens populares que caem na boca do povo e protagonizam situações engraçadas. É visível que o Encanto da Vila representa uma espécie de “bar da Dona Jura” (Solange Couto), de O Clone (2001). Mas nada funciona ali.

Betty Gofman interpretando Olímpia, uma senhora que aparenta ter mais de 70 anos, beira o ridículo, enquanto o conflito de Joel (Nando Cunha) com o robô Haroldo promove cenas constrangedoras. Nem mesmo o dono do bar, Nunes (Orã Figueiredo), é um perfil atrativo; ele se resume a um sujeito amargurado e ranzinza.

É impressionante como a repetição também se faz presente nos diálogos, cujos temas são sempre a atenção que o robô desperta nos clientes, a fofoca sobre a disputa de Brisa pela guarda do filho e a rampa para pessoas com deficiência que só foi instalada depois que Nunes sofreu um acidente.

Aliás, as cenas da advogada da mocinha também são repetitivas. Gloria sempre foi boa no merchandising social em suas obras, mas já cansou ver Juliana (Tabata Contri) sem conseguindo embarcar em um ônibus porque o elevador está quebrado ou entrar em um táxi, porque o motorista não quer levar a cadeira.

Bons atores em enredo irregular

Fábio Rocha / Globo

A trama envolvendo o casal Laís (Indira Nascimento) e Monteiro (Ailton Graça) é mais uma que parece se repetir diariamente. No início, o par enfrentava uma péssima relação com a filha que vivia na balada. Agora, eles encaram a rebeldia do filho que é viciado em jogos de computador.

Indira e Aílton estão ótimos em cena, mas limitados a um roteiro que não sai do lugar e nunca despertou atenção do telespectador. A tão falada tecnologia que a autora abordaria em sua novela se baseia em um adolescente que não sai da internet, um robô garçom que parece vindo dos nos 1990 e brincadeira de adolescente sobre notícias falsas? Difícil de acreditar.

Desgaste

Reprodução / Globo

Os poucos acertos de Travessia eram vistos em dois casais: Brisa e Oto esbanjam química, com a construção da relação bem desenvolvida, enquanto Stenio (Alexandre Nero) e Heloísa (Giovanna Antonelli) mantiveram a mesma sintonia vista em Salve Jorge (2012), da mesma autora. A volta de Creusa (Luci Pereira) é outro ponto positivo.

Porém, até os êxitos da história estão perdendo o rumo. Brisa e Oto têm protagonizado cenas repetitivas na praia e não dá para entender o fato da protagonista não pedir ajuda para o namorado sobre a mentira que se alastrou pela internet e quase provocou sua morte.

O caso que envolve o advogado e a delegada é bem parecido. As sequências de idas e vindas caíram na repetição e a inserção de dois mafiosos (vividos por Cláudia Mauro e José Rubens Chachá) para perseguir Helô deixa explícito o improviso da autora numa tentativa de movimentação que ainda não surtiu qualquer efeito.

Polêmicas

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Vale mencionar outra situação que parecia promissora, mas, infelizmente, também não se desenvolve: o debate sobre assexualidade. A entrada de Caíque (Thiago Fragoso) fez bem para Leonor (Vanessa Giacomo), que estava perdida entre uma rivalidade maçante com a irmã Guida (Alessandra Negrini) e uma obsessão por Moretti.

Só que a personagem perdeu a relevância depois que descobriu que seu novo namorado é assexual e terminou a relação. O pior é que os dois estão sempre se encontrando na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e dizendo o mesmo texto, que sempre expõe um certo constrangimento entre eles.

Até mesmo Guida, que parecia ter crescido na trama com o início de sua vingança contra Moretti, teve a trajetória prejudicada com a recente falsa denúncia de agressão contra o ex. Nem deu para entender a intenção da escritora, já que a personagem foi enforcada e ameaçada de morte, mas resolveu mentir na delegacia dizendo que tinha sido espancada. Qual o intuito? Bastaria dizer a verdade que se enquadraria na Lei Maria da Penha.

Travessia só termina em maio. Com quatro meses de folhetim pela frente, Glória Perez não parece ter carta alguma na manga para reverter a preocupante situação que sua novela se encontra. É uma pena, porque o elenco é repleto de talentos. Tomara que ao menos o roteiro tenha uma evolução porque ficar pior do que está é quase impossível.

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