Globo nunca mais poderá exibir novela que terminou de forma trágica

Jardel Filho em Sol de Verão

Jardel Filho em Sol de Verão

Entre sucessos e fracassos, algumas tramas da Globo nunca mais poderão ser vistas pelo público. São os casos de novelas dos anos 1960, que foram perdidas nos incêndios ocorridos na década seguinte ou tiveram, acreditem, suas fitas reutilizadas. Contudo, produções mais recentes também sofreram com essa falta de cuidado.

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Jardel Filho em Sol de Verão

Uma novela que provavelmente nunca mais será vista pelo público é Sol de Verão, exibida entre 1982 e 1983 pela emissora. A atração, estrelada por nomes como Tony Ramos e Irene Ravache, entrou para a história pela morte do protagonista, Jardel Filho, no decorrer da produção.

Como informou nosso colunista Duh Secco, o resgate de Sol de Verão no canal Viva ou no Globoplay, como vem ocorrendo com diversos títulos da Globo, será impossível, já que a emissora conta com apenas oito dos 137 capítulos da novela.

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Bomba

Tony Ramos em Sol de Verão (Divulgação / Globo)

Exibida entre 11 de outubro de 1982 e 18 de março de 1983, Sol de Verão contava a história de Rachel (Irene Ravache), que decidiu se separar do marido, Virgílio (Cecil Thiré), para buscar a verdadeira felicidade. Ela encontra o amor nos braços do mecânico Heitor, personagem de Jardel Filho, que morava num antigo sobrado com um grande jardim, onde muitos dos personagens se encontravam.

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Ocorrida em 19 de fevereiro de 1983, a morte do veterano caiu como uma bomba e comoveu o público, tumultuando o desfecho da novela, que terminou de forma melancólica.

O autor Manoel Carlos não conseguiu concluir a obra, que só foi em frente porque uma pesquisa mostrou que os telespectadores queriam ver seu final.

“Por mim, a novela acabava agora. Será ‘dificílimo’ entrar no cenário sem o Jardel”, disse, na época, o diretor Jorge Fernando ao jornal O Globo.

Mudanças

Jardel Filho (Divulgação / Globo)

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então vice-presidente de Operações da Globo, anunciou que a novela não terminaria imediatamente, mas teria algumas mudanças.

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Maneco, muito amigo de Jardel, alegou se sentir impossibilitado de concluir a trama, passando o bastão para Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri, que, além de integrar o elenco, também já era um experiente dramaturgo.

Paulo Autran, Juca de Oliveira, Paulo Goulart e Carlos Eduardo Dolabella foram citados como possíveis substitutos de Jardel, mas a emissora preferiu simplesmente sumir com o personagem.

“Sem missa, sem enterro, sem choro e sem vela”, decretou Boni.

Homenagem

Gianfrancesco Guarnieri

Ao final da exibição do capítulo 120, o último com participação do ator, o elenco prestou uma homenagem, dando depoimentos emocionados.

No capítulo seguinte, um texto foi lido por Guarnieri, que tinha lágrimas nos olhos:

“Peço a vocês que me vejam não como um dos atores, mas como todos os atores do elenco desta novela. Eu peço a todos um instante de reflexão sobre esse velho ofício de esconder a própria vida, sacrificá-la mesmo, em benefício de outras, fictícias, mas que acabam por igualar-se à verdadeira, tão bem são elas vividas. E é por isso que o homem-ator tem que ter muitas vidas dentro de si. É por isso que quando morre um ator, morrem tantas pessoas com ele. Quando Cacilda Becker morreu, Carlos Drummond de Andrade escreveu: ‘Morreram Cacilda Becker’. Assim deve ser dito sempre. Agora… Morreram Jardel Filho”.

Um fato curioso foi que, numa das sequências da novela, o personagem de Jardel disse:

“Às vezes eu fico pensando… Pra onde será que vai tudo o que uma pessoa sabe quando ela morre? É a cabeça de um homem. Tantos planos, conhecimentos. Pra onde vai tudo isso que ele sabia?”, questionou.

Em outra cena, dias antes da morte do ator, Irene (Beatriz Lyra) disse para o irmão se cuidar senão ele iria morrer antes do dono do sobrado, com quem brigava constantemente.

Audiência subiu na reta final

Débora Bloch, Irene Ravache e Jardel Filho (Reprodução / IMDB)

Na retomada da novela, a primeira cena escrita por Muniz mostra um trator destruindo o famoso jardim da casa de Heitor. Abel (Tony Ramos), o surdo-mudo que cuidava do local, colocou uma placa no lugar com o nome do mecânico. Alguns dias depois, o jardim foi reconstruído pelos personagens, simbolizando a união que houve para superação da tragédia.

Rachel, que teria um final feliz com seu par romântico na Holanda, descobriu esperar um filho dele e disse que era como se fosse um pedaço de Heitor que ainda estivesse vivo dentro dela, sugerindo a morte do mecânico.

A gravação dos últimos capítulos foi tumultuada, com textos chegando em cima da hora e edição das cenas pouco antes da exibição. Apesar de tudo, com a repercussão da morte do ator, a audiência cresceu.

Como Louco Amor, de Gilberto Braga, que seria a novela seguinte, ainda não estava pronta para ir ao ar, a Globo exibiu uma versão compacta de O Casarão, de 1976, do mesmo Lauro César Muniz, entre 21 de março e 8 de abril de 1983, para preencher o espaço entre as duas tramas.

Outros casos

Camila Pitanga e Domingos Montagner (Divulgação / Globo)

Não foi, no entanto, a primeira vez que o protagonista morreu durante uma novela da Globo.

Em 1972, faltando 28 capítulos para terminar O Primeiro Amor, o consagrado ator Sérgio Cardoso morreu, também de ataque cardíaco, aos 47 anos. Naquela ocasião, a emissora optou por substituir o personagem, entrando em seu lugar Leonardo Villar.

Por fim, Domingos Montagner morreu no dia 15 de setembro de 2016, ao mergulhar no rio São Francisco, na região de Canindé de São Francisco, em Sergipe, durante intervalo das gravações da novela Velho Chico.

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