André Santana

A edição especial de O Cravo e a Rosa, no ar nas tardes da Globo, está prestes a chegar ao fim. A trama de Walcyr Carrasco e Mário Teixeira foi bem-sucedida na missão de elevar os índices de audiência das tardes da emissora. Para sucedê-la no horário, o canal pretende apostar numa trama que mantém o “espírito” da saga de Petruchio (Eduardo Moscovis) e Catarina (Adriana Esteves).

O Cravo e a Rosa

De acordo com o Notícias da TV, Chocolate com Pimenta foi a trama escolhida para ser exibida após o Jornal Hoje. Será a quinta exibição da novela, também assinada por Walcyr Carrasco, que foi reprisada duas vezes na Globo e uma vez no Viva.

A semelhança no tom das duas produções não é por acaso. Propositalmente, Carrasco repetiu fórmulas usadas na primeira, tentando justamente reeditar o sucesso alcançado anteriormente. Isso aconteceu depois que o autor tentou emplacar uma novela mais “séria”, mas não foi bem-sucedido na missão.

Saga épica

Walcyr Carrasco

A trama atualmente reprisada marcou a estreia de Walcyr Carrasco na Globo, que vinha de passagens bem-sucedidas pelo SBT e pela extinta Manchete. Na nova emissora, o autor se inspirou em O Machão, novela de Ivani Ribeiro baseada em A Megera Domada, de Shakespeare, e criou uma comédia romântica que agradou em cheio o público das seis.

O autor apostou em personagens carismáticos, que seguravam a novela mesmo quando nada muito interessante estava acontecendo, e num humor ingênuo, mas malicioso, capaz de falar às diferentes idades. O Cravo e a Rosa era uma novela solar, espirituosa e povoada de tipos populares e bordões. A receita deu muito certo.

A Padroeira

Com o sucesso estrondoso de sua primeira incursão na Globo, Walcyr Carrasco foi recrutado para voltar ao ar apenas três meses depois do fim da saga de Petruchio e companhia. A Padroeira, exibida entre 2001 e 2002, foi a segunda novela assinada pelo autor na Globo.

Desta vez, o autor propôs uma mudança de tom. A Padroeira tinha um ar de saga épica, ao trazer como pano de fundo os milagres de Nossa Senhora Aparecida. Era uma novela capa-e-espada, com muito romance, mas um tanto mais obscura. O clima festivo de O Cravo e a Rosa ficou para trás.

A Padroeira

Não deu certo. A Padroeira, considerada muito “escura” e “séria”, não emplacou de cara. Para tentar elevar a audiência de sua história, Walcyr Carrasco promoveu uma série de mudanças, retirando vários personagens e trazendo à cena novos tipos. Além disso, mudou a personalidade de alguns deles. O novelista voltou a apostar na comédia, com tipos parecidos aos vistos no sucesso anterior.

O maior símbolo desta mudança de tom foi Imaculada, a vilã vivida por Elizabeth Savalla. Inicialmente, era uma mulher dura e amargurada. Depois, foi transformada numa caricatura, ganhando cores cômicas.

Um ano depois…

Chocolate com Pimenta

A Padroeira não foi considerada um sucesso, mas Walcyr Carrasco conseguiu fazer a audiência da novela subir após as inúmeras mudanças. Com isso, ao voltar para o horário das seis no ano seguinte, o autor tratou de apostar numa trama mais O Cravo e a Rosa e menos A Padroeira.

Assim, veio Chocolate com Pimenta. A história da viuvinha Ana Francisca (Mariana Ximenes) e sua fábrica de chocolates resgatou o clima da novela de 2000, apostando até mesmo no famigerado casal “gato e rato”: Aninha e Danilo (Murilo Benício) brigaram muito antes de se acertar.

Carrasco promoveu até o retorno da “Imaculada cômica” de A Padroeira, com a vilã Jezebel. Na trama seguinte, Elizabeth Savalla repetiu os trejeitos de sua personagem anterior e deu muito certo.

Chocolate com Pimenta tinha tudo o que deu certo na outra novela: humor ingênuo e malicioso, romance, tipos populares, bordões e muitos personagens carismáticos. Foi um grande êxito.

Assim, quando a Globo oficialmente confirmar seu retorno substituindo O Cravo e a Rosa, o público terá a chance de perceber as inúmeras semelhanças entre as duas tramas.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor