André Santana

A morte de Daniel (Johnny Massaro) resolveu vários problemas de Terra e Paixão. Além de desenrolar as tramas que estavam andando em círculos, a tragédia também serviu para mudar a dinâmica do relacionamento entre Caio (Cauã Reymond) e Antônio La Selva (Tony Ramos).

Cauã Reymond como Caio em Terra e Paixão
Cauã Reymond como Caio em Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Nos primeiros capítulos, o poderoso empresário do agronegócio deixava bem claro que rejeitava o primogênito porque o considerava responsável pela morte de Agatha (Bianca Bin), seu grande amor. Mas, após a morte de Daniel, o duelo entre pai e filho ganhou novos contornos.

Com isso, o motivo original da rejeição vai perdendo força e, consequentemente, distanciando a trama de Terra e Paixão de Renascer, sua sucessora. Deste modo, a Globo acabou resolvendo dois problemas de uma vez só, já que, além de tentar melhorar a audiência da atual novela, Bruno Luperi, autor do remake, estava incomodado com a semelhança entre as histórias.

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Nada se cria

Renascer - Antonio Fagundes e Marcos Palmeira
Marcos Palmeira (João Pedro) e Antonio Fagundes (José Inocêncio) em Renascer (Divulgação / Globo)

Logo no início de Terra e Paixão, um flashback deixou bem claro o motivo pelo qual Antônio rejeitava Caio. Após o nascimento do rapaz, o fazendeiro apareceu consternado olhando para o herdeiro, enquanto um médico avisava que a mãe não resistiu. Antônio, então, passou a responsabilizar Caio pela perda do amor de sua vida.

A trama lembra bastante Renascer (1993), clássico de Benedito Ruy Barbosa. José Inocêncio (Leonardo Vieira/Antonio Fagundes) culpava o caçula João Pedro (Marcos Palmeira) pela morte da esposa, Maria Santa (Patrícia França). A novela toda girava em torno do conturbado relacionamento entre pai e filho, que só acertam os ponteiros no fim da trama.

A semelhança entre as obras não seria um problema, já que histórias de novelas são recicladas a todo o momento. No entanto, a Globo escalou justamente o remake de Renascer para suceder Terra e Paixão, o que poderia provocar uma sensação de dèja vu na audiência.

Deixado de lado

Irene (Gloria Pires) e Aline (Barbara Reis) em Terra e Paixão
Irene (Gloria Pires) e Aline (Barbara Reis) em Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Porém, no decorrer dos capítulos de Terra e Paixão, esta história foi perdendo força. O interminável debate sobre a sucessão, bem como o processo que Caio abriu contra o próprio pai trouxe novos elementos à briga entre eles. Assim, a história sobre a morte de Agatha acabou ficando para trás.

A morte de Daniel também serviu para que a trama envolvendo a culpa de Caio acerca da morte de sua mãe caísse no esquecimento. Agora, o rapaz sofre justamente por ter causado, indiretamente, a morte do irmão. Além disso, o acidente de Daniel também serve como munição para Irene (Gloria Pires) e Antônio, enterrando definitivamente o imbróglio sobre a origem do rapaz.

E mais: com o mistério em torno do fato de Agatha estar viva, a trama sobre a morte da personagem cai por terra de vez. Assim, já é fato que a história de Terra e Paixão já não tem qualquer semelhança com Renascer.

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Autor reclamou

Bruno Luperi
Bruno Luperi – Divulgação / Globo

Vale lembrar que Bruno Luperi, autor que atualiza o texto de Benedito Ruy Barbosa, não teria gostado nada de ver a trama principal de Renascer sendo replicada em Terra e Paixão. Por isso, ele teria pedido que a direção da Globo adiasse a estreia de sua novela, justamente para que Renascer não entrasse no ar na sequência da trama de Walcyr Carrasco.

De acordo com o portal Notícias da TV, Luperi teria considerado que a Globo errou ao escalar justamente Renascer para suceder Terra e Paixão. Afinal, além de as duas tramas terem temática rural, elas ainda apresentariam semelhanças em suas histórias principais.

Ou seja, com a recente reviravolta da novela das nove, a Globo acabou resolvendo um problema. O fim da história envolvendo a “culpa” de Caio pela morte de Agatha distanciou as duas novelas e, assim, Renascer pode estrear sem problemas no início de 2024.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor