Zamenza

A atual novela das sete da Globo chegou ao capítulo 100 no dia 22 de setembro. Após muitas tentativas da emissora para emplacar a trama de Claudia Souto, dirigida por Natalia Grimberg, a realidade que impera é que a produção se tornou um caso perdido.

Cara e Coragem até apresentou um ponto a mais de audiência que a sua antecessora em seus meses iniciais, mas já está empatada com a deliciosa Quanto Mais Vida, Melhor! e sem um terço da repercussão. Praticamente ninguém comenta nas redes, ninguém se importa com o enredo e as cenas apresentadas não ajudam.

Sem história

Cara e Coragem - Taís Araujo

O único mote da história é o mistério do assassinato de Clarice (Taís Araújo) e não há mais nada de relevante a se contar. Para culminar, nem mesmo o conjunto de mistérios envolvendo o crime desperta interesse. Aliás, houve claramente uma intervenção da Globo para tentar erguer a produção: a antecipação da grande revelação sobre a falsa morte da personagem.

Isso porque Clarice não morreu e estava em coma. Anita (Taís Araújo) é apenas uma ‘sósia’ mesmo e não a empresária fingindo ser outra pessoa. A escritora certamente não tinha planejado soltar o ‘spoiler’ tão cedo. Até porque a produção fica no ar até janeiro de 2023. A falta da intenção em revelar o enigma fica clara pela narrativa. A notícia não impactou em nada o roteiro.

São raros os acontecimentos relevantes. Se o telespectador abandonar a novela por duas semanas e voltar depois, verá que não perdeu nada e tudo segue na mesma. Quem mais perde com isso são os atores.

Cenas burocráticas

Cara e Coragem

A novela é recheada de cenas burocráticas. Ou seja, são sequências que não despertam emoção, raiva, riso, nada. Porque não há situações que provoquem algo em quem assiste. É impossível se sentir envolvido pela história que está sendo contada.

Não dá para ter carinho ou empatia por qualquer personagem. E muito menos ódio pelos vilões. Porque não acontece nada. A impressão é que o elenco apresenta uma interpretação automática, sem maiores esforços. Afinal, as cenas não exigem um grande desempenho.

A produção seria ótima para atores medíocres porque não teriam momentos de difícil execução cênica. Mas não é o caso de Cara e Coragem. Quase todos os profissionais escalados têm talento. Mas até nomes de peso não conseguem se destacar. Estão apagados.

Casais sem química

Mel Lisboa

E todos os casais são ruins. Não há química entre Paolla Oliveira e Marcelo Serrado. O intérpretes se esforçam, mas Pat e Moa são mocinhos insossos. Até o enredo deles é cansativo. Com todo respeito aos dublês de todo o país, acompanhar a rotina de trabalho deles não é nada atrativo e jamais renderia um folhetim.

Também não dá para entender o objetivo de colocar Anita se envolvendo amorosamente com os dois ex de Clarice: Jonathan (Guilherme Weber) e Italo (Paulo Lessa). Os dois pares não funcionaram e ainda causou a impressão de que a personagem é uma psicopata que quer viver a vida de sua ‘cópia’, quando a intenção da autora não é essa.

O único romance que apresenta uma certa densidade é o vivido por Regina (Mel Lisboa) e Leo (Ícaro Silva), duas pessoas desequilibradas emocionalmente. Mas a trama se esvazia quando foca apenas da ambição da ‘vilã’ pela empresa a ponto de fazer sua sogra se apaixonar por um golpista – conflito que se desgastou ainda mais depois que a personagem se casou com o herdeiro, ganhando o direito a parte da fortuna.

Última cartada falhou

Cara e Coragem - Taís Araujo

A volta de Clarice era para ter sido a grande virada da novela. A empresária reapareceu durante uma festa em uma sequência que foi evidentemente inspirada no icônico retorno de Clara Tavares (Bianca Bin) em O Outro Lado do Paraíso, exibido em 2017. Mas não chegou nem perto do impacto da produção de Walcyr Carrasco. A trilha escolhida foi equivocada e tirou a emoção do momento. A curta duração da cena também prejudicou o clímax. Não houve emoção no anúncio.

Era a última cartada que a autora tinha para melhorar sua história. E não conseguiu. Para culminar, a volta da protagonista não alterou em absolutamente nada o enredo. Tudo seguiu na mesma. A explicação de Clarice sobre seu desaparecimento era algo que o telespectador já estava cansado de saber: estava sendo ameaçada de morte e tentou se proteger.

O pior é que as justificativas para a perícia ter identificado um corpo no mar como sendo o dela ultrapassaram todos os limites do absurdo. E o enigma a respeito do mandante do crime provavelmente só será revelado no último capítulo, já que é o único conflito do folhetim, ainda que seja óbvio que o autor é um dos vilões insossos da história: Regina, Leo ou Danilo (Ricardo Pereira). Já os núcleos paralelos em nada acrescentam e os atores parecem figurantes de luxo.

Cara e Coragem é uma produção tão fraca que nem parece que está no ar. Não há interesse nem em criticar a trama de Cláudia Souto, dirigida por Natália Grimberg. E não há nada pior para uma novela do que a indiferença. Até mesmo a Globo já jogou a toalha e foca na próxima trama, Vai na Fé. Serão dois meses e meio difíceis até o desfecho da produção.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor