Sinto uma ponta de saudade do tempo que as nossas telenovelas tinham títulos mais criativos, muito longe de A Força do Querer, O Outro Lado do Paraíso, Orgulho e Paixão, Tempo de Amar, Haja Coração, A Lei do Amor, Amor À Vida, A Vida da Gente e Insensato Coração dos últimos 10 anos.

Parece que, para nomear suas novelas, os autores usam alguma espécie de gerador automático de títulos, que apenas concatena palavras com Amor, Paixão, Vida, Força, Desejo, Tempo, Coração, Sonho, Paraíso.

Por Amor

Lógico que não é o título que garante o sucesso ou qualidade da novela. Fosse assim, Por Amor (foto acima) e Força de um Desejo não teriam sido excelentes produções. É importante que o título tenha a ver com a história exibida. A Força do Querer abordava o desejo de mudança.

Por outro lado, muitas vezes opta-se por títulos aleatórios, aplicáveis a qualquer história, ou a qualquer novela. Afinal, qual era A Lei do Amor mesmo? E o Amor À Vida?

Listo a seguir 10 títulos (de várias emissoras e épocas) se não criativos, no mínimo curiosos, que, certamente, chamaram a atenção!

Confira:

2-5499 Ocupado (Excelsior, 1963)

A primeira telenovela diária exibida no Brasil. Referia-se ao número de telefone de um presídio feminino, para onde o mocinho da trama (Tarcísio Meira) ligou por engano e apaixonou-se pela voz de uma detenta (Glória Menezes), que trabalhava como telefonista. Reza a lenda que, no sul do país, um rapaz foi obrigado a mudar o número de seu telefone por coincidir com o título da novela.

Quem Bate (Record, 1965)

Na década de 1960, a TV Record não conseguia concorrer com as novelas da Tupi e Excelsior (campeãs de audiência), muito por conta de seu elenco reduzido. No entanto, se destacava com um invejável time de comediantes. Por isso, levou ao ar novelas humorísticas, como Ceará Contra 007, que parodiava os filmes de OO7, e Quem Bate, sátira à série americana Combate, que fazia sucesso no Brasil naquele tempo.

No elenco de Quem BateOtelo Zeloni, Renato Corte Real, Carmem Verônica, Rony Rios e Carlos Alberto de Nóbrega, entre outros comediantes.

O Bofe (Globo, 1972)

Nada a ver com a gíria usada hoje para designar homem bonito ou atraente. Pelo contrário: “bofe” na novela servia como metáfora a homem mal cuidado, sujo, mal educado e pilantra, mais precisamente os protagonistas da trama vividos por Claudio Marzo e Jardel Filho, dois mecânicos grosseirões.

Te Contei? (Globo, 1978)

Sugere fofoca, intriga. O que mais ligava esse título à novela era a trama das cartas anônimas comprometedoras que assustavam vários personagens. A música tema de abertura – de Rita Lee e Roberto de Carvalho, gravada por Sônia Burnier – foi um sucesso e imediatamente remete à produção: “Você se lembra daquela sirigaita / que tentou roubar o meu marido? / Te contei, não? / O marido dela agora está comigo!”.

Como Salvar Meu Casamento (Tupi, 1979-1980)

Adivinha do que se tratava? Bingo se você pensou em casamento em crise! Claro que o marido (Adriano Reys) tinha uma amante (Elaine Cristina) e a esposa (Nicette Bruno) lutava por esse casamento. Mais famosa por ter sido a última novela da TV Tupi e por ter ficado incompleta, já que foi suspensa, antes do final da trama, pouco antes de a emissora encerrar suas atividades.

Pão Pão, Beijo Beijo (Globo, 1983)

Deliciosa novela! – no sentido de que havia muita comida envolvida, desde a abertura, ao som de “Sanduíche de Coração” do Rádio Táxi, à rede de cantinas italianas que fazia parte da trama. O título fez um jogo de palavras dando um sentido romântico à expressão “pão pão, queijo queijo“, que quer dizer “às claras“, “sem rodeios“, “preto no branco“.

A Gata Comeu (Globo, 1985)

Quando a novela estreou, todos queriam saber o que a gata havia comido, afinal. Novamente um jogo de palavras, agora com a expressão “o gato comeu“, ligada à protagonista da história, Jô Penteado (Christiane Torloni), uma espécie de devoradora de homens que já havia ficado noiva sete vezes.

A música da abertura, de Caetano Veloso gravada pelo grupo Magazine, também explica: “Ela comeu meu coração / trincou, mordeu, mastigou, engoliu, comeu!

De Quina Pra Lua (Globo, 1985-1986)

Definitivamente o jogo de palavras para nomear novelas estava em alta na década de 1980. Na trama desta, um pobretão fica milionário ao jogar na loto e acertar a quina. Ou seja, ele nasceu “virado para a lua”, expressão popular que indica que a pessoa é muito sortuda. Vulgarmente falando, “com o (pontinhos) virado pra lua“.

O problema foi a capa do disco internacional da novela, que até hoje faz esse título soar de grande mal gosto.

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O Sexo dos Anjos (Globo, 1989-1990)

Discutir o sexo dos anjos” significa chegar a lugar nenhum em uma conversa. O que a expressão tem a ver com a novela? Absolutamente nada. A não ser a palavra “anjo”. Na trama, um anjo apaixonado (Felipe Camargo) desce à Terra para livrar uma humana (Isabela Garcia) da morte.

Curioso que essa novela era a adaptação de outra, da década de 1960, originalmente batizada de O Terceiro Pecado (o anjo tinha que evitar que sua amada cometesse o terceiro pecado, senão ela morria). Caso fosse ao ar hoje, certamente o título original seria mantido.

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Pícara Sonhadora (SBT, 2001)

Silvio Santos fez questão de manter o título original dessa versão brasileira de uma novela mexicana. “Pícara” quer dizer “astuta”, mas o dono do SBT sabia que se mantivesse a palavra original, chamaria mais a atenção. Na época, virou piada e “pícara” ganhou correlatos, c̶o̶m̶o̶ ̶b̶ú̶n̶d̶a̶r̶a̶.

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor