Globo foi forçada a eliminar personagem de Chocolate com Pimenta

Chocolate com Pimenta - Ary Fontoura e Mariana Ximenes

João Miguel Júnior / Globo

Em 2003, a Globo teve que dialogar e fechar um acordo com o Ministério da Justiça, além de fazer adaptações, para atenuar a trama de Chocolate com Pimenta e conseguir mostrar a trama de Walcyr Carrasco no horário das seis. Uma das mudanças feitas foi a eliminação de um noivo que Ana Francisca (Mariana Ximenes) teria ao voltar para se vingar – o tipo acabou nunca aparecendo na trama.

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João Miguel Júnior / Globo

Em 8 de agosto daquele ano, exatamente um mês antes da estreia da novela, a Globo foi surpreendida pela classificação indicativa do Ministério da Justiça, que vetou a exibição da produção antes das 20h.

O despacho foi publicado no Diário Oficial da União de 7 de agosto. O MJ reclassificou a novela, a partir da leitura de sinopse feita por uma equipe de técnicos, como imprópria para menores de 12 anos (20h), por “desvirtuamento moderado de valores éticos e conflitos psicológicos atenuados”.

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Alterações

Atualmente em reprise como edição especial, a novela é ambientada nos anos 1920 e inspirada na opereta A Viúva Alegre. Em abril daquele ano, havia sido classificada como livre, mas Carrasco fez pequenas alterações na sinopse, a Globo enviou o material para Brasília (DF) e, assim, ocorreu a reclassificação.

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De acordo com matéria de Daniel Castro na Folha de S.Paulo de 9 de agosto de 2003, a medida foi recebida com surpresa dentro da Globo, que prometeu recorrer.

O jornalista explicou que Ana Francisca (Mariana Ximenes), pobre, se apaixona pelo rico Danilo (Murilo Benício) e a família do rapaz os separa. Grávida, se casa com um rico industrial (Ary Fontoura) e se muda para Buenos Aires, na Argentina. O marido morre e ela fica milionária. Vingativa, ela voltaria à sua cidade-natal com um noivo. Na nova sinopse, retornou só.

“Não entendo. A personagem ficou mais romântica e ingênua”, explicou Carrasco ao jornal.

Dois pesos e duas medidas

A emissora também ficou revoltada porque programas populares como Hora da Verdade e Brasil Urgente, da Band, exibidos ao vivo, foram classificados como livres.

Dias depois, a Globo e o Ministério da Justiça chegaram a um acordo. Em 14 de agosto, a Folha informou que o órgão voltou atrás e liberou a trama para a faixa das 18h horas, “porque a emissora esclareceu que a concepção da obra não enseja qualquer prejuízo ao horário livre”.

Em 24 de agosto, o jornal O Globo divulgou que Marina Oliveira, assessora de comunicação da Secretaria Nacional de justiça, explicou que a primeira sinopse estava “mais apimentada”. Na nova versão, Carrasco atenuou o perfil da personagem.

“Nesses casos, que são muito comuns, Marina diz que o Ministério da Justiça busca sempre o diálogo com a emissora”, descreveu a publicação.

“A novela tomou outro rumo. Na hora que comecei a escrever, os personagens ganharam seus contornos”, declarou o autor ao jornal O Estado de S. Paulo de 29 de agosto daquele ano.

Mais mudanças

Além disso, outra mudança foi a criação do personagem Sebástian, que foi dado a Tarcísio Filho, para aumentar o conflito da trama.

“Ele será um vigarista que chega na cidade para conquistar a Ana Francisca”, explicou Carrasco.

Sobre Olga (Priscila Fantin), ele explicou o que mudou:

“A Olga ia ser muito mais ingênua, mas a Priscila deu uma carga de antagonista que o personagem acabou ganhando uma pimenta na interpretação. Ela não mudou nada do texto, mas o seu jeito deu outra cara para o papel”, concluiu.

No final das contas, Chocolate com Pimenta estreou em 8 de setembro de 2003 e terminou em 7 de maio de 2004, com 209 capítulos. A novela foi um grande sucesso, sendo a segunda melhor em audiência da década de 2000, superada apenas por Alma Gêmea (2005), também de Carrasco.

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