Globo fez acordo milionário para poder resgatar novelas de sucesso

Pai Herói

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Caro leitor que me acompanha, você tem ideia de que uma batalha judicial quase impediu que nós tivéssemos acesso às novelas Pai Herói e Pecado Capital, dois tremendos sucessos de Janete Clair que estão disponíveis no Globoplay?

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E que foi, como se diz na gíria do futebol, aos 45 do segundo tempo, que um acordo fez com que pudéssemos apreciar a exibição do remake de Selva de Pedra no canal Viva? Essa é a história que irei contar hoje para vocês.

Antes, vamos relembrar um pouco da nossa eterna usineira dos sonhos. Janete Clair nasceu em Conquista, em 25 de abril de 1925. Ingressou como atriz e locutora na década de 1940 na Rádio Difusora, onde viria a conhecer o seu futuro marido, o dramaturgo Alfredo Dias Gomes, com quem viveria uma linda história de amor até o dia de sua morte.

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Rumos Opostos marcou sua estreia como dramaturga, sendo esta a primeira de uma série de 31 radionovelas escritas para o rádio. Migrou para televisão na década de 1960, escrevendo O Acusador, sua primeira novela, para a TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1964.

Ingresso na Globo

Janete ingressou na TV Globo em 1967 para descascar um abacaxi criado pelo ator Emiliano Queiroz. Ele estava escrevendo a novela Anastácia, a Mulher Sem Destino, quando Glória Magadan, então supervisora de dramaturgia da emissora, chamou a eficiente Janete para dar um jeito na novela, que a cada dia perdia telespectadores.

Janete não titubeou e provocou o famoso terremoto, que se tornou lenda na história da dramaturgia global. Com isso, a autora reiniciou a trama do zero e conquistou em definitivo seu espaço no canal.

Em seguida, vieram os sucessos Sangue e Areia (1967), Passos dos Ventos (1968), Rosa Rebelde (1969), Véu de Noiva (1969), Irmãos Coragem (1971), Selva de Pedra (que alcançou os famosos 100% de audiência em 1972), O Semideus (1973), Pecado Capital (1975), Duas Vidas (1976) e O Astro (1977), entre outros.

Na virada de 1979 para 1980, a autora foi diagnosticada com um câncer no intestino, que a deixou bastante debilitada, mas que não a impediu de redigir os primeiros capítulos de Eu Prometo, sua última novela.

Ela viria a falecer em 16 de novembro de 1983 e, infelizmente, não chegou a concluir este trabalho. A trama foi finalizada por Dias Gomes e por Glória Perez, sua colaboradora.

Acordo com os herdeiros

Desde então, diversas obras de Janete Clair já foram adaptadas para a TV. Após sua morte, em 1986, foi feito o remake de Selva de Pedra, estrelado por Tony Ramos e Fernanda Torres.

Em 1987, sua radionovela A Noiva das Trevas tornou-se base para a trama de Direito de Amar. Depois vieram os remakes de Irmãos Coragem (1995), Pecado Capital (1998) e O Astro, em 2011. E foi neste ponto que se inicia uma série de lances e reviravoltas tão emocionantes quanto seus folhetins.

Os filhos da autora, Guilherme, Alfredo e Denise Emmer, receberam em 1996, R$ 333 mil reais cada um para que as obras Selva de Pedra, Sétimo Sentido e O Astro fossem liberadas para futuras exibições.

O acordo previa um compromisso da Globo em comunicar anualmente aos herdeiros sobre o uso dessas marcas e o pagamento de royalties para vendas no mercado. Anos mais tarde, foi incluída neste acordo uma cláusula para os lançamentos em DVDs ou na internet.

A reviravolta ocorreu quando os herdeiros, anos mais tarde, vendo o êxito de vendas do remake de O Astro para o mercado internacional, alegaram não receber da Globo os royalties das vendas da obra.

Além disso, cobraram também o pagamento do uso das marcas como de Irmãos Coragem, que estavam sendo comercializadas em canecas e outros produtos no antigo site de vendas da emissora.

A TV Globo rebateu, dizendo que estava honrando o compromisso firmado no acordo. Neste impasse, a família de Janete impediu então que qualquer material da escritora fosse distribuído ou exibido tanto na TV aberta quando nos canais a cabo.

Com isso, a produção de uma microssérie sobre a vida e obra da autora, que estava sendo desenvolvida por sua neta, Renata Dias Gomes, com o título provisório Dias de Janete, foi vetada.

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Final feliz

Porém, assim como na ficção, tudo teve um final feliz. Em agosto de 2019, o processo foi encerrado, pois ambas as partes chegaram a um novo acordo.

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A Globo se comprometeu a continuar prestando contas da comercialização e uso das obras, além do pagamento no valor de 5%. Com este acordo é que nós, noveleiros apaixonados, tivemos a chance de ter acesso aos clássicos escritos pela Usineira de Sonhos, como bem definiu o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Não posso esquecer de citar que o SBT adquiriu toda a obra radiofônica de Janete Clair em 2008. De todas, apenas uma foi usada, o texto da radionovela Vende-se Um Véu de Noiva, que foi adaptado por Íris Abravanel, em 2009, sem grande repercussão.

Desde então, a emissora nunca mais usou os textos adquiridos. A assessoria de comunicação do canal afirmou que não possui previsão para a produção de um novo texto de Janete Clair. Os direitos de uso delas terminam em 2043.

Basta agora saber se uma provável exibição de Direito de Amar, tanto no canal Viva como no streaming da Globo, que é baseado numa das radionovelas que está em poder do canal de Silvio Santos, sofreria algum impedimento.

Detalhe para acalmar os ânimos de vocês: Pai Herói, que é baseada na radionovela Um Estranho na Terra de Ninguém, transmitida pela Rádio Nacional em 1958, ganhou uma reprise no canal Viva, em 2016.

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