Escolhida pela Globo para substituir Mulheres de Areia (1993) em Edição Especial, Cheias de Charme (2012) reestreou nesta segunda-feira (11) decepcionando os fãs. Afinal, a Globo optou por um capítulo de estreia com pouco mais de 12 minutos, causando indignação nas redes sociais.

Isabelle Drummond, Taís Araújo e Leandra Leal em Cheias de Charme
Isabelle Drummond, Taís Araújo e Leandra Leal em Cheias de Charme (divulgação/Globo)

O tempo reduzido se dá porque, na primeira semana, a trama divide o espaço na grade com os capítulos finais de Mulheres de Areia. Trata-se de uma tática copiada do SBT para tentar fazer com que parte da audiência da novela que está terminando passe a acompanhar também a que começa.

Porém, com um capítulo de estreia tão curto e chocho, a medida pode, na verdade, causar o efeito contrário

Dobradinha de novelas

Exibir os primeiros capítulos de uma nova novela “colados” aos capítulos finais de outra foi uma tática para segurar a audiência difundida pelo SBT. A emissora de Silvio Santos adota o sistema há anos e, até hoje, todas as suas novelas são lançadas simultaneamente aos capítulos finais de suas antecessoras.

Há 10 anos, a Globo resolveu fazer o mesmo no Vale a Pena Ver de Novo. E a estratégia passou a se repetir também na Edição Especial das 14h40. Paraíso Tropical (2007), por exemplo, foi relançada junto aos capítulos finais de Mulheres Apaixonadas (2003). O mesmo aconteceu com Mulheres de Areia, que teve uma dobradinha com Chocolate com Pimenta (2003).

Isso se repete agora, com a chegada de Cheias de Charme. Mas, para encaixar duas novelas no horário das 14h40 sem atrasar demais a programação, a Globo prefere encurtar os capítulos de ambas, o que deixa o público irado.

Lançamento a jato

Gloria Pires em Mulheres de Areia
Gloria Pires em Mulheres de Areia (Reprodução / Globo)

O primeiro capítulo da Edição Especial de Cheias de Charme durou apenas 13 minutos. Ou seja, mal deu tempo de o público recordar quem são os personagens principais da trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.

Na web, muita gente reclamou do capítulo curto. A maioria das críticas questiona a decisão da Globo de manter a dobradinha de novelas, sendo que a divisão do tempo acaba prejudicando os dois folhetins.

Afinal, Cheias de Charme entrou em cena com um capítulo com menos da metade da duração original. O mesmo acontece com Mulheres de Areia, que apresenta últimos capítulos menores, o que tira o climax do desfecho.

Se é pra copiar, copia direito

Curiosamente, trata-se de uma reclamação que o SBT não costuma receber no lançamento de suas novelas. Isso porque o canal prefere atrasar a programação a picotar demais os capítulos de suas novelas

O canal de Silvio Santos também reedita os capítulos das tramas, claro. Mas não de uma maneira tão radical quanto a Globo faz. A emissora dos Marinho aposta em capítulos tão curtos que, quando terminam, a sensação que dá é a de que não aconteceu nada.

E isso é um erro. Um primeiro capítulo de uma novela é montado para instigar o público e fazê-lo voltar no dia seguinte. Se na reprise a edição acaba tirando esse propósito, a estreia acaba sendo prejudicada. Se a Globo quer copiar o SBT, podia copiar direito. Mas se o canal não pretende flexibilizar a grade, melhor seria acabar de vez com a dobradinha de novelas.

Até porque já se sabe que o efeito prático da estratégia nos resultados de audiência são mínimos. Os números tendem a cair depois que a novela antiga sai do ar e a nova fica sozinha no horário. Sendo assim, não há qualquer motivo para a Globo insistir nessa estratégia.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor