Há muito tempo se fala sobre a duração das novelas da Globo, principalmente em tempos de internet, onde tudo se é consumido rapidamente e em maratonas, como as séries da Netflix, além das consequências da pandemia de Covid-19.

O Fim do Mundo

Em 1996, portanto há 25 anos, parecia que os novelões estavam com os dias contados, já que a emissora queria diminuir drasticamente o número de episódios exibidos. Mas ideia não foi para a frente e muitas tramas, até hoje, continuam chegando perto da casa dos 200 capítulos.

Matéria de Vera Jardim no Jornal do Brasil de 23 de março de 1996 explicava a ideia.

“Explode Coração está prestes a inaugurar um novo tempo na Globo. A novela, que termina no dia 3 de maio com o confortável índice de audiência de 59%, terá apenas 151 capítulos [na verdade, foram 155], quando a média é de 180. A autora Glória Perez não foi prejudicada. Pelo contrário, ela esclarece ter sido um acordo prévio escrever uma história menor que as tradicionais”, conta.

A reportagem explicou que originalmente seriam 141 capítulos, mas o pequeno aumento foi um pedido do então vice-presidente de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

O Rei do Gado atrasou

Explode Coração

Por causa disso, surgiram vários rumores de que Perez estaria de mudança para o SBT, que fazia diversos investimentos em seu núcleo de teledramaturgia naquela época.

“Nunca sequer recebi um telefonema nesse sentido. Além do mais, tenho mais um ano de contrato com a Globo”, esclareceu. “Eu expliquei que precisava fiar com o meu tempo para livre para o julgamento, em junho, dos assassinos de minha filha”, completou a novelista, falando sobre a morte de Daniella Perez, ocorrida em dezembro de 1992.

Explode Coração foi substituída por O Fim do Mundo, de Dias Gomes (1922-1999), que originalmente seria uma minissérie e teve 35 capítulos.

Antonio Fagundes

Por conta de um atraso na produção de O Rei do Gado, pela primeira vez a emissora exibiu em seu principal horário uma trama tão curta.

“Com a nova experiência de exibir a mininovela O Fim do Mundo a partir de 6 de maio, no horário das oito, Boni avaliaria o resultado para projetos semelhantes. A tendência é que o veículo seja mais ágil. As intenções da Globo se confirmam com o novo projeto de uma minissérie que está sendo escrita por Gilberto Braga, preparada para as 20h”, informou o JB – provavelmente Labirinto, exibida em 1998, mas não neste horário.

Voz contrária

Dias Gomes

Dias Gomes, no entanto, apesar de aprovar, não acreditava que as novelas teriam seu tempo diminuído.

“A minissérie é um produto de luxo. Custa o mesmo que uma novela e não tem muito retorno comercial. Adoraria não precisar mais escrever novela do tamanho tradicional. Mas acredito que não vou escapar disso pelo menos mais uma vez”, lamentou o autor, que, no entanto, acabou não escrevendo uma nova trama.

O argumento da Globo para reduzir a duração das novelas caiu na produção seguinte. O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, estreou em 17 de junho de 1996, foi um grande sucesso e teve nada menos que 209 capítulos.

Com muita audiência e retorno comercial, além da saída de Boni do comando da emissora, as ideias foram engavetadas.

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Nova tentativa

Esplendor

Uma nova tentativa foi feita no início de 2000, no horário das seis, com Esplendor, de Ana Maria Moretzsohn, que tinha previsão de ficar no ar durante 80 capítulos. Com os bons resultados obtidos, a trama teve 125 episódios.

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Em 2001, Estrela-Guia, da mesma autora, teve 83 capítulos – mas, desta vez, o motivo foi o contrato com a cantora Sandy.

Desde então, boa parte das novelas da Globo continuaram chegando perto ou ultrapassando a marca dos 200 capítulos: Kubanacan (2003) e Alma Gêmea (2005), tiveram 227 cada; Amor à Vida (2013), teve 221; Passione (2010), teve 209; Caminho das Índias (2009), teve 203; A Favorita (2008), teve 197, entras outras.

A Favorita

Em 2018, o então diretor de teledramaturgia da emissora, Silvio de Abreu, fixou algumas regras.

As novelas das seis, sete ou nove contam com 150 a 170 capítulos, variando de acordo com a história, pedido do autor ou repercussão.

No entanto, recentemente tudo mudou no comando da emissora, além, evidentemente, dos efeitos da pandemia. O canal foi obrigado a gravar algumas novelas por completo, como Nos Tempos do Imperador, Um Lugar ao Sol e Quanto Mais Vida, Melhor, além de diminuir a duração das tramas para facilitar os trabalhos nessas condições.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor