Zamenza

Além da Ilusão, nova novela das seis da Globo, estreou recentemente e vem se mostrando bem diferente da soturna produção anterior, Nos Tempos do Imperador. Colorida, bem iluminada e repleta de clichês irresistíveis de um clássico folhetim, a história de Alessandra Poggi, que estreia como autora solo – após uma parceria com Angela Chaves em Os Dias Eram Assim, de 2017 -, apresentou uma primeira fase com convidativos conflitos, onde o conto de fadas foi mesclado com a tragédia.

Além da Ilusão

O enredo central foi exposto com uma certa pressa, pois o ‘plot’ envolvendo os protagonistas apresentou sua maior catarse já no sexto capítulo.

O público acompanhou o amor à primeira vista do simpático Davi (Rafael Vitti), artista de rua que ganha a vida como mágico, e da linda Elisa (Larissa Manoela), filha de um poderoso juiz, Matias (Antônio Calloni), que odiou a possibilidade de romance logo de cara. A construção do amor dos mocinhos foi feita em apenas dois capítulos. Isso porque a felicidade do casal não dura e acabam separados para sempre.

Poucos personagens foram focados, de fato, fora do núcleo principal. Algo comum no início de toda novela e que ajuda a prender mais a atenção de quem assiste, pois não há maiores dispersões com dramas de perfis secundários.

Força da trama

Lima Duarte

Ainda assim, já foi possível perceber a força da trama protagonizada por Heloísa (Paloma Duarte), que nunca perdoou o pai, Afonso (Lima Duarte), por ter dado sua filha para adoção.

Aliás, a participação de Lima foi grandiosa, embora pequena, e já marcou uma das melhores cenas da produção, quando o coronel confessa para a filha que sempre soube o endereço da neta e acaba falecendo antes de contar.

O ódio da personagem foi exposto com muita verdade. Paloma deu um show ao lado de seu avô, uma das maiores referências da teledramaturgia. Vale destacar ainda a sequência do velório do pai, quando a filha, bêbada, joga pinga em cima do corpo no caixão.

Paloma Duarte

A relação difícil, mas amorosa, de Heloísa com sua irmã, a decidida Violeta (Malu Galli), também desperta atenção e promete bons desdobramentos, assim como a identidade da filha que foi doada. Quem seria a menina? Já há bons indícios, como Olívia, vivida por Letícia Pedro na primeira fase e Débora Ozório na segunda.

Afinal, o fiel empregado de Afonso, o desconfiado Benedito (Claudio Jaborandy), pai de Olívia, deu a entender que sabe sobre a filha de sua patroa.

Raramente falha

Além da Ilusão

Ainda no núcleo, o futuro casal formado por Violeta e Eugênio (Marcello Novaes) é outro elemento animador do roteiro. Os dois já começaram a trocar xingamentos porque o empresário quis comprar o engenho de Afrânio e a filha não aceitou vender. Agora, diante da esquizofrenia do marido e a impossibilidade da manter seu padrão de vida, aceitou a oferta. O típico jogo de gato e rato que raramente falha na ficção.

Já o desfecho do casal de mocinhos resultou na sequência mais forte da novela até então. Após ter sido flagrada seminua pelo pai com Davi, Elisa decidiu fugir com seu amado, mas acabou assassinada com um tiro no peito.

Antonio Calloni

Matias vinha reclamando de uma constante dor no joelho desde a estreia da trama e foi difícil entender a razão para tamanha ênfase. Tudo ficou claro quando o juiz atirou em Davi para impedir a fuga dos apaixonados, mas sua dor o fez perder o equilíbrio e acabou acertando a própria filha. A cena foi brilhantemente dirigida pela equipe de Luiz Henrique Rios e provocou todo o impacto necessário.

A continuação da sequência não foi menos pior, pois o personagem elaborou rapidamente uma narrativa para incriminar o mágico, que acabou preso por um crime que não cometeu.

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Espelho da Vida

Espelho da Vida

A situação, vale uma ressalva, é idêntica ao enredo de Espelho da Vida, folhetim primoroso de Elizabeth Jhin, exibida em 2019. A trama girava em torno do misterioso assassinato de Júlia Castelo (Vitória Strada). Todos pensavam que a mulher tinha sido morta por Danilo Breton (Rafael Cardoso), seu grande amor.

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Mas no final há a aguardada revelação e todos descobrem que foi Coronel Eugênio (Felipe Camargo) o autor do disparo, na verdade direcionado a Danilo, que acabou morrendo na cadeia condenado pelo crime que o pai da jovem cometeu. O mesmo ocorre com Davi, condenado a 20 anos de prisão.

Além da Ilusão

Além da Ilusão vem apresentando todos os ingredientes de uma boa novela das seis. O horário estava precisando mesmo de um folhetim mais clássico, que não tem vergonha de ser um dramalhão.

E a linda abertura – ao som de Tic-tac do Meu Coração, cantada por Gaby Amarantos e fruto de uma releitura da música composta por Alcyr Pires e Walfrido Silva (tema da novela Feijão Maravilha, de 1979) para Carmem Miranda em 1930 – pode ser considerada a cereja do bolo.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor