Há 44 anos, a Globo exibia o último capítulo de Gina, novela das seis estrelada por Christiane Torloni.
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A trama marcou a estreia de Rubens Ewald Filho, notório crítico de cinema, como novelista na emissora. No ano anterior, ele e Silvio de Abreu responderam pela adaptação de Éramos Seis, romance de Maria José Dupré, para a Tupi.
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Embora Gina também se baseasse em um livro de Dupré, o folhetim passou longe da repercussão atingida pelo trabalho anterior de Rubens.
A sinopse de Gina
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Gina narrava a trajetória da personagem-título, desde a juventude até o êxito como artista plástica. A primeira fase, em 1956, trazia os conflitos dela com a madrasta Julica (Mirian Pires) e a meia-irmã Zelinda (Fátima Freire).
Após uma desilusão amorosa, Gina deixa a Zona Norte do Rio de Janeiro rumo aos Estados Unidos, onde conhece o diplomata Fernando (Emiliano Queiroz). Os dois se casam e ela investe fortemente na carreira de pintora.
Na última fase, ambientada em 1978, Gina lida com os problemas pessoais dos filhos Helena (Louise Cardoso) e Jorge (Arlindo Barreto), enquanto enfrenta os boatos difundidos pela maledicente Mirtes (Theresa Amayo).
Trama impraticável para o horário das seis
A Globo, que não dispunha de vários autores, contratou Rubens Ewald Filho (foto) e Silvio de Abreu após o êxito de Éramos Seis, na Tupi. Os dois passaram a trabalhar separados. E ambos amargaram o insucesso: Gina não correspondeu às expectativas das seis, assim como Pecado Rasgado (1978) padeceu na faixa das sete.
Gina enfrentou diversos percalços. O livro, escrito por Maria José Dupré a partir de uma história real, relatada por uma senhora que a procurou alertando que sua vida daria um romance, foi lançado em 1945.
Ao transpor a obra para a TV, Ewald Filho optou por situar a ação no Rio de Janeiro, entre os anos 1950 e 1970. No original, a história se passava em São Paulo, no início do século XX, em meio à chegada de imigrantes italianos.
A alteração mais substancial envolveu a origem e a trajetória da protagonista. No livro, Gina é uma prostituta que, após envolver-se com um político, envereda pela carreira de cantora lírica. Como a Censura do regime militar não permitiria tal abordagem às seis, ela foi convertida em mocinha que vira pintora.
Críticas dentro e fora das telas
Gina acumulou críticas antes, durante e depois de sua exibição. De acordo com Ismael Fernandes, no livro Memória da Telenovela Brasileira, o romance não possuía base para uma novela diária, impedindo a sustentação do autor durante os 90 capítulos exibidos.
O diretor Sérgio Mattar, que respondeu pela produção, fez o seguinte comentário em seu site:
“Improvável para o horário das seis, foi concebida sem o menor senso de conteúdo. Herval Rossano, diretor do núcleo de novelas das seis, quis por que quis exibir ‘Gina’”.
Outro problema envolve a caracterização, bastante inverossímil. O envelhecimento de jovens atores como Christiane Torloni não convenceu; ela não parecia mãe de Louise Cardoso – as duas tinham 21 e 23 anos, respectivamente. O mesmo para Fátima Freire e Diogo Vilela (Afonso), pais de Tetê Pritzl (Gracinha).
A insatisfação de Maria José Dupré
Questionada sobre a adaptação de seu livro, Maria José Dupré não escondeu a sua insatisfação.
“Não… Não estou gostando da novela”, disparou a escritora no jornal Folha de São Paulo, em 12 de agosto de 1978. “Gosto mais de ‘Dancin’ Days’”, completou, exaltando a novela exibida às oito no mesmo período.
A crítica Helena Silveira também foi impiedosa em sua análise para a Folha, de 30 de setembro de 1978.
“Está terminando uma das piores novelas das 18 horas da Globo. A Sra. Leandro Dupré, a estas alturas, deve sentir-se traída sem apelações e desculpas. (…) Esse horário tem uma produção cuidada. (…) Em Rubens Ewald Filho recairá o peso da falência de ‘Gina’? Mas anteriormente, de parceria com Silvio de Abreu, ele nos havia dado na Tupi uma quase obra-prima, com o roteiro de ‘Éramos Seis’. ‘Gina’ parece-me fruto da pressa e de desencontros. No mais, é tudo um equívoco, surpreendente, na Globo, completamente fora do seu padrão de qualidade”.