A jornalista Patrícia Kogut noticiou no dia 4 de junho que a Globo não renovou o contrato com Elizabeth Jhin, após 30 anos de parceria. O esquema do fim de contratos longos já é uma realidade na emissora há alguns anos. Poucos têm o privilégio no momento e nem o time de autores escapou. Todavia, o canal comete um erro grave ao dispensar uma autora tão talentosa e que já encantou o público com tantas novelas lindas.

A escritora trabalhou como colaboradora de vários autores por 13 anos, entre eles Manoel Carlos e Antônio Calmon – Felicidade (1991); História de Amor (1995); Era uma vez… (1998); Andando nas Nuvens (1999) e O Beijo do Vampiro (2002) foram alguns folhetins que contaram com seu trabalho. Foi ‘lançada’ como coautora em Começar de Novo, de 2004, ao lado de Antônio Calmon. A trama foi um fracasso (e merecido), mas a Globo apostou no talento de Jhin e a colocou como autora titular em 2007.

O primeiro trabalho autoral de Elizabeth foi a ousada Eterna Magia, dirigida por Carlos Manga e supervisionada por Silvio de Abreu. A produção das 18h tinha como temática a bruxaria e o mundo da magia. O público rejeitou inicialmente a história, mas com algumas adaptações feitas ao longo do percurso a audiência melhorou e o enredo entrou nos trilhos.

Cássia Kiss brilhou como a bruxa Zilda e Irene Ravache foi indicada ao Emmy Internacional por conta de sua atuação na pele da sofrida Loreta. Foi uma boa novela.

Já em 2010, a autora mergulhou de vez no universo espírita. Foi o início de uma saga escrevendo folhetins com a temática espiritualista que virou a sua maior marca. Escrito nas Estrelas foi um grande sucesso de público e crítica. Protagonizada por Nathalia Dill, Humberto Martins e Jayme Matarazzo, a trama conquistou a audiência com a história da mocinha Viviane (Nathalia), que se apaixonava por Daniel (Matarazzo) e tinha seu amor interrompido em um trágico acidente de carro.

A morte do rapaz, no entanto, a fez conhecer o cético Dr. Ricardo (Humberto), pai de Daniel, que era um amor de vidas passadas. Foi uma linda produção que ainda teve algumas referências ao filme Ghost – do outro lado da Vida (1990) e outros nomes que brilharam no elenco, como Jandira Martini na pele da cartomante Gilda e Débora Falabella e Zezé Polessa (Beatriz e Sofia) como uma dupla de vilãs hilárias.

Em 2012, Jhin cometeu seu único equívoco como autora solo. Amor Eterno Amor também teve a temática espírita, mas teve muitos núcleos secundários sem função e excesso de personagens. A história também se arrastou em vários momentos e o mocinho vivido por Gabriel Braga Nunes não convenceu. O visual de alguns atores ainda caía no exagero, como a peruca branca de Verbena (Ana Lucia Torre).

A novela ainda recebeu a difícil missão de substituir a primorosa A Vida da Gente (2011), o que deixou seus problemas de roteiro um pouco mais evidentes. Os poucos acertos foram a vilã vivida por Cássia Kiss (Melissa), o picareta Virgílio (Osmar Prado) e a aposta na então novata Letícia Persiles (Miriam) como mocinha.

Mas, em 2015, a autora conseguiu viver o melhor momento de sua carreira. Além do Tempo foi seu melhor folhetim e a ousadia em apresentar uma passagem de tempo de mais de 150 anos resultou em uma cena que entrou para a história da teledramaturgia: a morte dos mocinhos na primeira fase, no século XIX, e o reencontro, em 2016, em um breve esbarrão no vagão de um metrô.

Rafael Cardoso e Alinne Moraes transbordaram química como Livia e Felipe, enquanto Paolla Oliveira e Emílio Dantas deram um show como os vilões Melissa e Pedro. Irene Ravache foi outro destaque na pele da poderosa condessa Vitória Castellini e vale citar ainda nomes como Ana Beatriz Nogueira, Nivea Maria, Julia Lemmertz, Luis Melo, Rômulo Estrela e Carolina Kasting. Um novelão da melhor qualidade, sucesso de público e crítica, e que pode ser reprisada ainda este ano por conta da pandemia.

A última novela de Jhin foi outro trabalho primoroso. Espelho da Vida, exibida em 2019, foi tão ousada quanto Além do Tempo, mas com uma diferença: ao invés da passagem de tempo de mais de 150 anos, a protagonista tinha a possibilidade de voltar ao passado e encarnar sua vida anterior através de um espelho, presente em um casarão abandonado.

[anuncio_5]

Cris (Vitória Strada) descobriu a história trágica de Júlia Castelo, sua vida passada, e conseguiu desvendar todo o mistério em torno do assassinato da mulher. O assassino, ao contrário do que todos pensavam, não era Danilo Breton (Rafael Cardoso), e sim o pai da jovem, que a matou acidentalmente. E a mocinha só descobriu tudo isso com a ajuda de André (Emiliano Queiroz), seu filho da vida anterior, que teve tempo de ver sua mãe reencarnar. Um enredo irretocável que misturou espiritismo e realismo fantástico.

A audiência foi baixa nos primeiros meses porque parte do público não entendeu a proposta da autora, mas ao longo dos meses a trama deslanchou nos números e teve recordes no Ibope na reta final. Vitória e Rafael emocionaram como mocinhos e vale citar ainda Alinne Moraes (maravilhosa como a vilã Isabel), Irene Ravache, Felipe Camargo, Júlia Lemmertz, entre tantos mais. O folhetim recebeu vários elogios merecidos da crítica.

Elizabeth Jhin tem apenas cinco novelas como autora solo e ainda tem muitas histórias para contar. Merecia, inclusive, uma oportunidade na faixa das 21h com uma trama espírita e com várias fases, representando várias vidas. Seria uma produção e tanto. Ou então escreveria alguma série com a mesma temática que a consagrou para a Globoplay, por exemplo. A Globo não foi inteligente. A escritora disse já ter duas propostas de trabalho, mas vai descansar por ora. Resta torcer para que esse tempo sirva para a emissora que a lançou reavalie sua péssima decisão. O público agradeceria.

Compartilhar.
Avatar photo

Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor