Em 1975, o dramaturgo Jorge Andrade assinava sua segunda novela para a televisão. Após estrear como novelista com uma adaptação de sua peça teatral Os Ossos do Barão (1973), o autor ousava ao apresentar O Grito, folhetim exibido pela Globo na faixa das 22h.

O Grito - Yoná Magalhães
Divulgação / Globo

Na época, a obra foi bastante criticada e considerada incompreendida. No entanto, anos depois, a emissora cogitou revisitar o enredo, numa nova versão em formato de minissérie assinada por Ricardo Linhares. A ideia acabou não saindo do papel.

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Trama ousada

O Grito - Glória Menezes
Divulgação / Globo

Exibida de 27 de outubro de 1975 a 30 de abril de 1976, O Grito era focada na vida dos moradores do Edifício Paraíso, em São Paulo (SP). A proposta do autor era fazer um retrato realista da vida na capital paulista, reunindo num mesmo prédio personagens de diferentes classes sociais.

Construído por uma família tradicional, o Paraíso precisou se adaptar a uma nova realidade por conta da construção do Elevado Costa e Silva, o Minhocão. Com isso, foram construídos apartamentos menores e mais populares nos primeiros andares, modificando o status do edifício.

A trama começa quando um interceptador telefônico é roubado e os moradores do edifício passam a ser ameaçados de terem seus segredos revelados. Ao mesmo tempo, os condôminos tentam expulsar Marta (Gloria Menezes), uma ex-freira que tem um filho com problemas mentais que grita durante a noite, incomodando toda a vizinhança.

Na época, O Grito foi considerada problemática e hermética, não conquistando sucesso junto ao público e à crítica. Porém, a obra também ficou marcada como um projeto ousado de Jorge Andrade. Uma de suas características mais marcantes é o fato de toda a narrativa se passar em apenas uma semana, fato que só é revelado no final da novela.

Minissérie

O Grito - Elizabeth Savala
Divulgação / Globo

Anos depois, a Globo considerou regravar O Grito, mas num novo formato. De acordo com a Folha de S. Paulo, em 14 de janeiro de 2019, a ideia era produzir uma minissérie em dez capítulos baseada no roteiro de Jorge Andrade.

Em abril de 2019, o site NaTelinha deu mais detalhes sobre o projeto. Segundo a publicação, o autor Ricardo Linhares teria confirmado a adaptação, mas ainda não estava fechado se a mesma teria 10 ou 12 capítulos. A produção, no entanto, só entraria em estúdio no segundo semestre de 2020.

Antes disso, Ricardo Linhares estava às voltas com outros compromissos. O autor atuava como supervisor de texto de Amor de Mãe, novela de Manuela Dias que estrearia no final daquele ano; e também na supervisão de Malhação: Transformação, temporada da novela adolescente que entraria na sequência de Toda Forma de Amar (2019).

Mudança de planos

Ricardo Linhares
Renato Rocha Miranda / Globo

No entanto, a ideia de produzir uma nova versão de O Grito não foi adiante nos bastidores da Globo. A pandemia da Covid-19 atrapalhou os projetos do canal, que precisou rever todo o planejamento.

Ricardo Linhares foi bastante afetado pelas mudanças. Enquanto Amor de Mãe foi interrompida pela pandemia, Malhação: Transformação foi adiada e, mais adiante, cancelada de vez. Ao mesmo tempo, ele se uniu a Maria Helena Nascimento para escrever uma nova novela das nove, chamada de O Grande Golpe.

De acordo com o nosso colunista Duh Secco, Linhares confirmou recentemente que segue trabalhando na novela, embora ainda não haja uma data de estreia prevista (e nem mesmo a confirmação se, de fato, ela será produzida algum dia).

Assim, enquanto isso, a nova versão de O Grito segue esquecida na gaveta. Quem sabe um dia?

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor