Disponível no Globoplay desde setembro deste ano, a primeira versão de Sinhá Moça (1986) foi um enorme sucesso, ainda que o autor Benedito Ruy Barbosa – também responsável por Pantanal – tenha desenvolvido o enredo às pressas.

Sinhá Moça - Benedito Ruy Barbosa

Criador de sucessos como Cabocla (1979), Os Imigrantes (1981, Band), Paraíso (1982), Renascer (1993), O Rei do Gado (1996) e Terra Nostra (1999), Benedito recebeu da Globo a missão de salvar a faixa das seis após o desastre de De Quina Pra Lua (1985).

Convite feito, convite aceito

Benedito Ruy Barbosa

De acordo com informações do portal Memória Globo, a ideia de transformar o livro escrito por Maria Dezonne Pacheco Fernandes em novela se deu durante uma reunião sobre qual trama seria produzida para o horário.

Foi quando o autor sugeriu o romance e acabou convocado para assumir o projeto “em cima da hora”. De acordo com Ruy Barbosa, ele usou o original apenas como base para o folhetim.

“Era uma história curta, que não rendia uma novela. Mas disse ao Boni (vice-presidente de operações da Globo) para comprar os direitos que eu inventaria o resto. Se era para fazer uma novela que tratasse de escravidão, teria que ser algo bem feito. (…) Me deram carta branca. A autora Maria Dezonne Pacheco Fernandes, ainda estava viva, mas não houve problemas”, declarou Benedito ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do Memória Globo.

Frustração do público com livro

Sinhá Moça - Grande Otelo

Por conta da liberdade criativa, o novelista alterou muita coisa que estava no romance.

“Dei ênfase à abolição da escravatura. No livro, era pano de fundo”, confidenciou, recordando também que, quando o a obra foi relançada devido ao êxito da novela, muitas pessoas se decepcionaram.

“Teve gente que reclamou, porque queria ler a história da televisão”, relatou.

História de amor e liberdade

Sinhá Moça - Lucélia Santos e Solange Couto

Em Sinhá Moça, acompanhamos a história de amor de Sinhá Moça (Lucélia Santos) e Rodolfo (Marcos Paulo), passada na cidade de Araruna durante 1886 – dois anos antes da Lei Áurea.

É em meio aos conflitos entre monarquistas e republicanos que o casal decide enfrentar a oposição do pai da jovem, o coronel Ferreira (Rubens de Falco), Barão de Araruna e ferrenho defensor da escravatura.

Rodolfo, que possui os mesmos ideais abolicionistas de Sinhá Moça, se finge de aliado do Barão, para conquistar a confiança dele, ao mesmo tempo que se aproxima da amada. Quando o coronel Ferreira descobre as verdadeiras intenções do pretenso genro, inicia-se uma verdadeira guerra entre eles.

Rodolfo também omite um segredo de Sinhá Moça. Usando o codinome Irmão do Quilombo, ele invade senzalas durante a madrugada para libertar escravos das fazendas da localidade.

Tal trama foi inspirada no filme homônimo, lançado pela Vera Cruz em 1953, dirigido por Tom Payne e Oswaldo Sampaio, como Eliane Lage (Sinhá Moça), Anselmo Duarte (Rodolfo) e José Policena (Barão de Araruna).

Bastidores tumultuados

Sinhá Moça - Lucélia Santos

Mesmo sendo o responsável pela adaptação, Benedito Ruy Barbosa não pode palpitar no elenco. Ele não gostou da escalação de Lucélia Santos para o papel-título.

“Se pudesse, teria escolhido a Giulia Gam para protagonista, (…) Infelizmente, a Globo não deixou. A Lucélia encheu o saco durante a novela. A certa altura, chegou a dizer que não serviria de escada para outros (atores)”, desabafou no livro A Seguir, Cenas dos Próximos Capítulos, de André Bernardo e Cíntia Lopes.

A escolha de Santos e de Rubens de Falco foi uma jogada da Globo, com foco no mercado internacional. Os dois haviam protagonizados Escrava Isaura (1976), de Gilberto Braga, comercializada, na época, em mais de 80 países. Sinhá Moça repetiu tal êxito.

O sucesso também se deu no Brasil: a novela chegou ao fim com 43,1 pontos de média, bem acima dos 31,2 de De Quina Pra Lua. Em 2006, a obra ganhou um remake, atualizado pelas filhas de Benedito, Edmara e Edilene, com Débora Falabella (Sinhá Moça), Danton Mello (Rodolfo) e Osmar Prado (coronel Ferreira).

Compartilhar.
Avatar photo

Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor