Após anos esquecida nos arquivos, a Globo trará de volta Ciranda de Pedra (2008), novela que teve grandes mudanças e escondeu temas polêmicos da obra em que foi baseada, como a personagem Letícia, que era lésbica.

Paolla Oliveira em Ciranda de Pedra
Paolla Oliveira em Ciranda de Pedra

Escrito por Alcides Nogueira, baseado na obra de Lygia Fagundes Telles, o folhetim foi exibido no horário das seis da Globo entre 5 de maio e 3 de outubro de 2008, com 131 capítulos.

Desde então, a trama nunca foi reprisada, nem pela Globo ou pelo canal Viva. Após 16 anos, Ciranda de Pedra será trazida de volta no Globoplay.

Mudança de rumo

Baseada no livro homônimo de Lygia Fagundes Telles, de 1954, a história já tinha virado novela em 1981. A nova versão feita pela Globo, no entanto, em nada lembra a trama passada — somente o personagem Eduardo (Bruno Gagliasso), que não existia no livro, foi aproveitado da primeira para a segunda versão.

Uma das mudanças feitas foi a época em que a história se passava. Enquanto na primeira versão o enredo era ambientado em 1948, na segunda aconteceu na São Paulo de 1958.

“Eu puxei a história para 1958 porque foi um ano emblemático para o Brasil. Foi quando o país começou a mergulhar na modernidade, com o desenvolvimento da indústria automobilística, o florescimento das artes plásticas, o surgimento da bossa nova, a conquista da Copa do Mundo, a vitória da tenista Maria Esther Bueno em Wimbledon, em dupla. Foi um ano de muitos acontecimentos. Achei que poderíamos aproveitar o clima do livro e fazer uma novela que não fosse ambientada em uma época tão distante, com a qual o espectador não tivesse nenhum tipo de aproximação. O ano de 1958 é mais recente, muita gente tem a memória do período”, disse o autor Alcides Nogueira em depoimento ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do Memória Globo.

Considerada uma adaptação “livre” e “suavizada” da obra de Lygia Fagundes Telles, a nova versão de Ciranda de Pedra não abordou temas espinhosos, como eutanásia e lesbianidade.

Dessa vez, a trama não teve a parte em que Daniel (Marcello Anthony) submete Laura (Ana Paula Arósio) à eutanásia e nem se matar no final da novela.

“É necessário suavizar”

Letícia (Paolla Oliveira), por sua vez, não era inicialmente lésbica, como no livro. Na primeira versão da novela, o tema não foi abordado por conta da Censura vigente na época.

Porém, no final da segunda versão, sua verdadeira orientação sexual foi insinuada, quando ela viajou com uma “amiga”. Foi o autor quem decidiu não abordar a sexualidade da personagem na faixa para não ter problemas com a classificação indicativa.

“O livro tem uma narrativa densa. Para o horário das 18h, é necessário suavizar. Independentemente da classificação indicativa [que estipula para qual faixa etária o programa é liberado], temos o bom senso de levar ao público uma obra leve e elegante”, declarou Alcides Nogueira à Folha de S. Paulo do dia 4 de maio de 2008.

Público fez autor mudar rumo de novela

Ana Paula Arósio e Tammy Di Calafiori em Ciranda de Pedra
Ana Paula Arósio e Tammy Di Calafiori em Ciranda de Pedra

Principal mudança da nova versão de Ciranda de Pedra, o cancelamento da morte de Laura foi motivada pelo público. A Globo realizou pesquisas de opinião com os telespectadores, que rejeitaram a saída de Ana Paula Arósio da trama.

Com isso, a personagem, que deixaria a novela no decorrer da história (assim como aconteceu em 1981) e sairia por volta do capítulo 80, foi mantida até o final.

Quando Ciranda de Pedra volta no Globoplay?

Depois de passar anos esquecida nos arquivos, Ciranda de Pedra está de volta no Globoplay por meio do Projeto Resgate.

A trama, que girava em torno do triângulo amoroso entre Laura (Ana Paula Arósio), seu marido Natércio (Daniel Dantas) e o médico Daniel (Marcello Anthony), entrará no catálogo do streaming da Globo no dia 26 de agosto.

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Publicitário e roteirista, escreve sobre televisão desde 2013. Com passagem por diversos sites, atuou como redator, editor e repórter, função que proporcionou entrevistar grandes nomes. Um apaixonado por televisão, que ama novelas desde que se entende por gente.