Globo comete erro que pode prejudicar trajetória de Amor Perfeito

Camila Queiroz - Amor Perfeito

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A atual novela das seis está em sua quarta semana de exibição. Praticamente um mês no ar. Mas não parece. Amor Perfeito aparenta estar em plena reta final a ponto do telespectador pensar qual será a produção substituta da Globo na faixa das 18h.

Reprodução / Globo

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Exagero? Infelizmente, não é o caso. A história, dirigida por André Câmara, teve um primeiro capítulo atropelado de acontecimentos e o equívoco da correria se mantém até hoje inexplicavelmente.

Pressa

Divulgação / Globo

É incompreensível o método que Duca Rachid, Júlio Fisher e Elisio Lopes Jr. têm utilizado para contar uma história que desperta a atenção por ser baseada em um livro tão querido e conhecido – Marcelino Pão e Vinho, escrito pelo espanhol José María Sanchez Silva, publicado em 1950 e que foi transformado em filme em 1955. O livro em si não daria uma novela, então, claro que novos núcleos e personagens foram criados, incluindo o enredo dos mocinhos, já que na história original Marê (Camila Queiroz) está morta.

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Os autores têm corrido tanto com a narrativa que todas as catarses que provocariam viradas de impacto foram destruídas em três semanas. É vital para qualquer folhetim que os personagens cativem o público para, assim, despertarem empatia, torcida e envolvimento. E isso só ocorre com uma boa construção, o que não está acontecendo na atual produção.

Como já mencionado na crítica anterior, a estreia apresentou uma quantidade de acontecimentos que preencheriam uns 20 capítulos com certa tranquilidade e com um bom dinamismo, sem implicar em um ritmo arrastado.

Os mocinhos se conheceram, se apaixonaram, transaram, a mocinha rompeu o noivado com o vilão e enfrentou o pai, enquanto o mocinho perdeu seu pai, que antes de falecer o alertou que sofreu um golpe do pai de Marê. Orlando mandou uma mensagem para sua amada comunicando o falecimento do pai, mas Leonel (Paulo Gorgulho) interceptou a carta. Orlando achou que Marê era mesmo uma golpista, Orlando viajou para o Canadá, Marê foi atrás do mocinho, Gilda (Mariana Ximenes) teve seu caso com Gaspar (Thiago Lacerda) descoberto por Leonel, Gilda matou Leonel e armou para Marê ser acusada.

Ritmo acelerado

Paulo Belote / Globo

Já nos capítulos seguintes, em um julgamento recorde, Marê foi presa pelo assassinato do pai, mesmo com todas as provas transbordando fragilidade. Logo depois, descobriu a gravidez na prisão e meses se passaram. A mocinha fugiu da cadeia com a ajuda de duas colegas de cela, entrou em trabalho de parto e Marcelino nasceu rapidamente. Um dos nascimentos mais rápidos da teledramaturgia.

Os policiais recapturam uma presa, mataram a que levava o bebê e flagraram a mocinha desmaiada. A protagonista foi levada de volta ao presídio, enquanto o recém-nascido acabou salvo por Jesus Cristo (Jorge Florêncio). O bebê foi deixado por Jesus no lar dos freis e acabou acolhido. Os padres decidiram criá-lo e oito anos se passaram. Uma observação necessária: o presídio em que Marê ficou parecia um retiro espiritual. Todas as detentas eram felizes, bem tratadas, tinham paz e até dava para ter reflexões no banho durante uma ducha reconfortante.

Após oito anos no presídio, Marê recebeu a visita do amigo Júlio (Daniel Rangel), que sempre a amou platonicamente e ouviu que a partir daquele momento o rapaz seria seu advogado. Apesar de recém-formado, o jovem conseguiu inocentar a cliente em um dia.

Rapidamente descobriu que Catarina (Cristiane Amorim) tinha um caso com o jardineiro que depôs contra a mocinha e que no dia do assassinato eles estavam juntos. Mesmo com medo, a camareira do hotel contou a verdade ao delegado, o que fez a protagonista sair da cadeia e voltar para sua mansão.

Sem impacto

Paulo Belotte / TV Globo

No dia de sua liberdade, Marê recebeu um beijo de Julio, flagrado na hora por Orlando. Dias depois, o mocinho contou para sua amada que lutaria por ela e procuraria pelo filho que tiveram.

Ah sim, o médico já sabe da existência do filho porque voltou para o Brasil enquanto Marê estava presa e a visitou. Um momento que tinha tudo para ser emocionante, mas não teve impacto porque nem deu tempo para o telespectador torcer pelo reencontro.

Como se não bastasse tanto atropelo de acontecimentos, uma das situações que mais despertam empolgação do público na teledramaturgia foi desperdiçada: o embate entre mocinha e vilã. Marê saiu da cadeia e apareceu triunfante durante uma festa de homenagem ao então prefeito Juscelino Kubitschek (Alexandre Borges).

Era um momento que deveria ter sido trabalhado minuciosamente para a temperatura ideal de um clímax. Mas o efeito foi xoxo, capenga e fraco porque aconteceu na segunda semana de folhetim.

Erro que se repete

Paulo Belote / Globo

Em qualquer novela normal, o retorno aconteceria perto da metade de história no ar. O irônico é que o mesmo erro ocorreu na trama anterior, Mar do Sertão, com Zé Paulino (Sérgio Guizé) voltando para se vingar de Tertulinho (Renato Góes) logo no início do enredo, o que tirou por completo o impacto. O pior é que depois a produção ficou andando em círculos até o final, sem roteiro e conflitos atrativos. Será que tudo se repetirá na nova trama?

Mas lamentavelmente não parou por aí. Marê também conseguiu retomar o comando do Grande Hotel Budapeste, que era de seu falecido pai e estava sob domínio da vilã. A mocinha expulsou Gilda da empresa e da mansão. Outro momento que teve sua temperatura esfriada por conta da rapidez. Por sinal, a filha de Leonel já descobriu que a vilã era prostituta.

E para culminar, a protagonista encontrou Marcelino durante a festa realizada em homenagem a Santo Antônio. Marê estava na ‘barraca do beijo’ e o menino ofereceu uma flor ‘Amor Perfeito’ no lugar de dinheiro. Emocionada, a ex-detenta beijou o rosto do filho, que não escondeu a alegria. Camila Queiroz e Levi Asaf brilharam, mas teriam se destacado muito mais se a cena fosse exibida daqui a pelo menos uns três meses.

Até porque a personagem logo deduziu que Marcelino era seu filho quando os freis contaram que o menino era um recém-nascido deixado no lar há oito anos. A emoção acabou diluída quando contaram que não havia cordão algum no pescoço da criança, que é a referência que Marê tem. Por mais que tenham adiado a descoberta oficial, a personagem, de uma forma ou de outra, no fundo já sabe a verdade, o que prejudica outra catarse que tinha tudo para ser emblemática.

Correria desnecessária

Divulgação / Globo

Não dá para compreender a razão dos autores de Amor Perfeito. O trio tem uma boa história em mãos, mas a forma como vem sendo desenvolvida tem prejudicado a estruturação da novela. Até porque, enquanto a trama central corre, os personagens secundários estão jogados no enredo sem qualquer profundidade. Todos mal foram apresentados, de fato.

Outro incômodo são os cortes de cena. Muitas sequências parecem interrompidas bruscamente em um claro problema de edição. As cenas são muito rápidas e parecem interrompidas no meio. E, somado ao atropelo de acontecimentos, ocasiona um resultado final ruim.

Resta torcer para que o enredo não passe a andar em círculos depois de tanta pressa e que consigam corrigir, ou amenizar, os visíveis problemas do atual folhetim das 18h. Porque até o momento parece uma novela TikTok – plataforma destinada a vídeos curtos.

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