Projeto arrojado da Globo em 2005, a novela Bang Bang, de Mário Prata, foi a tentativa de trazer ao público brasileiro uma sátira do universo do western norte-americano, bastante popularizado pelos filmes de Velho Oeste estrelados por John Wayne, um dos maiores expoentes do gênero. Entre os nomes do elenco estava Rodrigo Lombardi, atualmente em Travessia (na foto abaixo, em Verdades Secretas).

Verdades Secretas - Rodrigo Lombardi
Divulgação / Globo

A ideia, que já havia sido recusada em duas oportunidades, foi levada ao ar pela Globo e se tornando um verdadeiro fracasso de audiência. No auge do insucesso, o canal cogitou matar boa parte dos personagens em um terremoto para “recomeçar” a trama.

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Projeto recusado

Bang Bang
Divulgação / Globo

A trama idealizada por Mário Prata, autor do clássico Estúpido Cupido (1976), por muito pouco não foi produzida por dois canais concorrentes. Em 1986, Prata ofereceu o seu texto para a extinta Rede Manchete. Contudo, como as negociações não seguiram adiante, o novelista apresentou o projeto para o SBT, em 1990.

No canal de Silvio Santos, a trama chegou a ser cotada para substituir a malfadada Cortina de Vidro, de Walcyr Carrasco, que não atraiu a atenção do público no horário onde era exibida. A novela, que seria uma produção independente da produtora Manduri, a mesma responsável por Cortina, teria direção de Luiz Fernando Carvalho e teria um custo de produção de US$ 5 milhões, de acordo com matéria da Folha de S. Paulo de 11 de fevereiro de 1990.

Só que, mais uma vez, o projeto não foi para frente. O SBT decidiu investir em produções próprias e lançou a novela Brasileiras e Brasileiros, outro fiasco que, por muito pouco, não decretou a falência do canal de Silvio Santos.

Novela bancada pela Globo

Joana Fomm e Tarcísio Meira em Bang Bang
Divulgação / Globo

Em 2005, a Globo decidiu apostar no projeto e bancou a produção da telenovela, que teve cenas rodadas no deserto do Chile, onde se passavam as primeiras sequências da novela.

A trama era situada na fictícia cidade de Albuquerque, no Novo México (EUA), em 1881, e narrava a história de amor do justiceiro Ben Silver (Bruno Garcia) e de Diana (Fernanda Lima, estreando como atriz na emissora), justamente a filha do mandante da chacina que culminou com a morte de sua família.

A trama ainda contou com nomes de peso em seu elenco. Entre eles, Tarcísio Meira, Joana Fomm (foto acima), Mauro Mendonça, Marisa Orth, Ney Latorraca, Giulia Gam, Marco Ricca e Nair Bello, entre outros. Além deles, o folhetim contou com a presença dos músicos Evandro Mesquita, Sidney Magal, Paulo Miklos e Luís Melodia.

Terremoto

Bang Bang
Divulgação / Globo

No entanto, a novela sofreu com a baixa audiência desde o seu início. Além disso, a produção se viu em maus lençóis quando Mário Prata precisou se afastar da roteirização dos capítulos para tratar uma osteoporose. Márcia Prates, que era uma das colaboradoras do autor, chegou a assumir a coordenação dos capítulos. Pouco tempo depois, o experiente Carlos Lombardi foi acionado para colocar a novela nos trilhos e orientar a equipe de roteiristas.

Lombardi ainda teria discutido com a direção da Globo a possibilidade de provocar um terremoto, que eliminaria com todos os personagens de Bang Bang. Em 25 de janeiro de 2006, o colunista Daniel Castro, da Folha de S.Paulo, informava que, logo após esse terremoto, a novela daria um salto no tempo e contaria a história dos descendentes dos personagens originais.

Com essa atitude radical, não sobrariam vestígios de faroeste, e as pessoas não teriam mais nomes em inglês. Assim, todos os elementos que foram rejeitados pelo público seriam soterrados. No entanto, a alta cúpula da estação carioca recusou a ideia, pois acreditavam que essa mudança marcaria um retrocesso no universo dramatúrgico.

Inspiração em Janete Clair

Bang Bang
Divulgação / Globo

Vale lembrar que ideia de promover um terremoto para salvar uma novela não é nova. Isso aconteceu em Anastácia, a Mulher Sem Destino (1967), novela que marcou a estreia de Janete Clair na TV Globo.

A novela que inicialmente era escrita pelo ator Emiliano Queiroz, e protagonizada por Leila Diniz, era um dramalhão no estilo capa e espada que, por possuir um elenco numeroso, acabou confundindo o seu autor e aborrecendo o público, que não compreendia mais a história.

Numa tentativa desesperada de reverter a queda de audiência, a emissora afastou Queiroz e contratou Janete Clair, que já era uma importante autora de radionovelas das rádios Nacional e Tupi. Em seu primeiro trabalho para a Globo, Janete criou um terremoto na ilha onde se passava a trama e eliminou mais de cem personagens de uma só vez.

A partir de então, a história deu um salto de 20 anos, recomeçando com apenas quatro personagens, interpretados pelos atores Ênio Santos, Miriam Pires, Henrique Martins e Leila Diniz, que acumulou o papel da filha da protagonista.

Diferente de Anastácia, Bang Bang não foi varrida do mapa. Contudo, a novela teve curta duração, ficando no ar de 3 de outubro de 2005 a 22 de abril de 2006, totalizando 173 capítulos. Na semana seguinte, estreou Cobras e Lagartos, de João Emanuel Carneiro, que reverteu a queda de audiência na faixa das sete.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor