Em outubro de 2021, a TV brasileira perdeu Gilberto Braga, um dos nomes mais importantes da teledramaturgia nacional. O novelista, responsável por clássicos como Vale Tudo (1988) e Celebridade (2003), partiu sem realizar um de seus projetos: uma nova versão de Brilhante (1981).

Estrelada por Vera Fischer, ostentando um cabelo curto que deu o que falar, Brilhante contava a história de Luiza (Vera), uma designer de joias cujo caminho se cruza com o da família Newman. Chica (Fernanda Montenegro), a matriarca, pensa em aproximá-la de Inácio (Dennis Carvalho), seu filho que é homossexual.

No entanto, Luiza se apaixona por Paulo César (Tarcísio Meira), que é casado com Maria Isabel (Renée de Vielmond), primogênita de Chica Newman. Esta fica possessa quando o genro abandona o lar para viver com a designer. Começa, então, um grande conflito familiar.

Visual polêmico

Brilhante - Vera Fischer

Mesmo com um grande elenco e a tarimba de Gilberto Braga, Brilhante não foi bem de audiência. Os cabelos curtos de Vera Fischer acabaram chamando mais atenção do que a história.

Para se diferenciar da personagem que viveu em Coração Alado (1980), Vera trocou os cabelos lisos, até o ombro, por um corte curto e com os fios encaracolados.

“O Tom Jobim depois me acusou de ter dado uma rasteira nele. É o seguinte: na música, ele se refere aos cabelos da Vera Fischer. Ainda sem saber disso, mandei cortar o cabelo dela para dar um ar mais simples. Ele sempre me cobrou essa traição”, destacou o diretor Daniel Filho em seu livro O Circo Eletrônico.

Composta e executada pelo maestro especialmente para a novela, a música Luiza citava os cabelos compridos da atriz. Para minimizar o burburinho, o figurino providenciou um lenço no pescoço que virou a marca da personagem.

Censura

Brilhante - Dennis Carvalho e Fernanda Montenegro

Gilberto Braga não conseguiu desenvolver adequadamente o enredo de Brilhante em razão da censura vigente. Um dos principais problemas era o fato de Inácio ser homossexual.

Isso não podia ser dito na novela, o que deixou a narrativa pouco fluída. Ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia, do projeto Memória Globo, Braga falou sobre o desafio da trama.

“Brilhante foi um fracasso retumbante. Entrou no ar e foi um susto. Foi uma novela muito mal bolada, com uma história impossível de contar. Não sei como caí nessa esparrela, porque era uma época de censura rigorosa. (…) Ficou uma salada que pouca gente entendia. (…) Aos poucos, fiz umas modificações e acabaram gostando. (…) A partir daí, a novela se saiu bem, com prestígio. Mas, no início, foi um tremendo fracasso”, explicou o novelista.

Remake

Gilberto Braga

Na década de 2010, quando a Globo lançou a faixa de novela das onze com O Astro (2011), Gilberto Braga viu naquele horário a chance de recontar a história de Brilhante sem os melindres da censura. Com isso, ele apresentou a sinopse de Intolerância – logo após o retumbante fracasso de Babilônia (2015), sua última empreitada.

João Ximenes Braga, parceiro de Gilberto Braga em várias novelas, escreveu com o autor os 80 capítulos de Intolerância, que acabaram engavetados pelo departamento de Dramaturgia da Globo, na época comandado por Silvio de Abreu.

Após a morte de Gilberto Braga, João Ximenes passou a defender que o texto da trama fosse disponibilizado ao público.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor