Globo barrou Gloria Menezes como lésbica em novela: “Foi proibido”

Torre de Babel, novela de Silvio de Abreu exibida entre 1998 e 1999, estava passando por dificuldades na audiência. Para tentar salvar a trama, a Globo promoveu um grupo de discussão que constatou que o enredo exagerava um pouco na sexualidade e na violência, assuntos que afastavam o telespectador.

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A partir disso, começaram várias mudanças no texto e diversos problemas envolvendo a trama, como o autor, que chegou a se demitir e precisou abrir mão de alguns núcleos, como um casal de lésbicas.

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Em entrevista à Tony Goes, no canal Manual do Tempo, o novelista confessou que o folhetim já estava sofrendo preconceito muito antes de começar. A pedido da direção, o autor precisou retirar os personagens das atrizes Silvia Pfeifer e Christiane Torloni, pois a alta cúpula do canal não queria seguir com um casal gay no enredo.

Casal chocou

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Silvio contou que, diferente do que havia feito em A Próxima Vítima, colocou as duas personagens abertamente lésbicas logo no começo de Torre de Babel, o que gerou uma campanha muito grande de revolta contra a novela.

“Diferente do que eu fiz em A Próxima Vítima, quando eu coloquei o personagem primeiro para o público descobrir e gostar, para depois dizer a sua orientação sexual… Desde a primeira cena da novela (Torre de Babel), já se sabia que elas eram um casal. Isso provocou uma grande revolta”, explicou.

Encomenda de Boni

O dramaturgo confessou que a obra, na verdade, era uma encomenda de Boni (foto acima) para o horário das nove. Ele gostaria que o escritor contasse uma história cheia de dramas sociais e que mexesse com a sociedade. Para isso, o profissional teria carta branca para criar os conflitos que achasse necessário. A sinopse foi aprovada.

Com cenas já gravadas, Boni se afastou da direção do canal um mês antes da novela estrear. O comando, então, passou para as mãos de Marluce Dias da Silva, que rejeitou a obra e queria cancelar o projeto.

“Essa nova diretoria não queria essa novela, queria uma do Manoel Carlos, uma novela ensolarada e me chamou para mudar a trama”, revelou.

Com a recusa de mudar uma obra que estava prestes a ir para o ar, Abreu anunciou que não o faria e que, caso o quisessem fazer, que chamassem outro autor.

“Nenhum autor quis segurar esse pepino”, contou.

Solução de centavos

Silvio de Abreu (foto acima) ainda contou que a novela até estreou, mas, a solução que a direção encontrou foi cortar as cenas consideradas impróprias, como a violência e o casal de lésbicas vivido por Silvia Pfeifer e Christiane Torloni. Esta última, inclusive, morreria na explosão do Shopping Center e abriria espaço para Gloria Menezes como par da personagem de Silvia.

“A novela começou a ficar sem sentido”, argumentou o ex-global, que chegou a pedir demissão, mas após pedidos do elenco acabou retornando, mas precisou modificar os textos.

Censura e fim do casal lésbico

Durante a entrevista (veja acima), Silvio foi claro quando disse que a direção o proibiu de continuar com a história das lésbicas. Após a morte da personagem de Christiane Torloni, a sobrevivente teria um affair com Marta (Gloria Menezes).

“Tive que dar um jeito na história. O que me foi proibido veementemente: eu não vou poder continuar essa trama das lésbicas. A história que eu queria fazer, da Gloria Menezes com a Silvia Pfeifer, desta amizade – elas começariam amigas e desenvolveriam um romance ao longo da trama – não vai poder fazer, não dá para fazer”, revelou na entrevista.

O ex-chefão de dramaturgia do canal contou que não poderia juntar as duas personagens de forma alguma, nem como amigas.

“É como se elas tivessem um carimbo, não pode chegar perto”, desabafou.

A solução, então, foi colocar as personagens para morrerem no acidente do shopping.

“O que eu tenho na minha história? Eu tenho um acidente no shopping. Então eu vou explodir esse casal junto”, decidiu.

A decisão pela morte das duas juntas foi por achar que não poderia separar o casal, já que, se o fizesse, estaria negando a condição sexual delas. Silvio afirmou que tampouco deixaria um personagem na novela sem função.

“A melhor solução era terminar com as duas juntas, pois assim se preserva uma ideia, elas ficaram juntas até o fim, eu não traí a minha ideia principal, embora tenha abandonado parte da minha história, concluiu.

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