Rivais desde sempre, a Globo e a Record viveram um episódio curioso deste duelo em 1995. Naquele ano, a emissora líder de audiência exibia a minissérie Decadência, que contava a história de um líder religioso que explorava a fé alheia para enriquecer.
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Muita gente associou a história à trajetória de Edir Macedo, dono da Record e líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Por conta disso, Record e Globo passaram a trocar farpas na imprensa, com denúncias de todos os lados.
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Qual é a história de Decadência, polêmica minissérie da Globo?
Decadência contava a história de Mariel (Edson Celulari), um pobre órfão que cresceu numa mansão e se tornou motorista da família do jurista Tavares Branco (Rubens Corrêa), de onde é expulso ao ser acusado injustamente de estupro.
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Depois deste episódio, ele passa a frequentar cultos de uma igreja evangélica com Jandira (Zezé Polessa), a empregada da mansão que o criou. Ali, a ambição de Mariel cresce e ele decide se tornar o líder de uma igreja nova.
Assim, Mariel funda o Templo da Divina Chama, onde explora a fé alheia e ganha muito dinheiro. A igreja cresce e Mariel adquire estações de rádio e televisão no Brasil e no exterior, além de contratar um lobista para atuar junto aos deputados em Brasília, fazendo crescer cada vez mais seu poder e influência.
Mariel ambiciona também comprar a mansão de Tavares Branco, cuja família entra em declínio, como uma espécie de vingança pessoal.
Inspiração?
Exibida entre 5 e 22 de setembro de 1995, Decadência deu o que falar. Um dia depois da estreia, a revista Veja apontava as semelhanças entre o protagonista Mariel e Edir Macedo.
“Há diversas semelhanças entre o pastor fictício Mariel Batista e o bispo da Universal. Ambos usam cabelo gomalinado, possuem emissoras de rádio e se tornam milionários. Nos cultos mostrados em Decadência, como nos da Universal, há sessões de exorcismo e se fala de Satanás com bastante intimidade”, dizia o texto assinado por Marcelo Camacho e Edna Dantas.
O autor Dias Gomes, no entanto, negou que a inspiração tenha sido o dono da Record.
“Pesquisei vários líderes evangélicos, não foi só o Edir Macedo. Se ele se sentir identificado com o Mariel, se vestir a carapuça, o problema é dele”, disparou o dramaturgo.
“Não quero me inspirar neste ou naquele pastor, nem especificar uma determinada religião. Isso acontece tanto aqui como no Japão e, por isso, não será preciso escolher um só nome”, disse Edson Celulari ao jornal O Globo de 3 de maio de 1995, antes da estreia da produção.
Briga de peixe grande
Pouco antes de lançar Decadência, a Globo havia veiculado uma matéria no Fantástico que criticava coletas de dinheiro e sessões de exorcismo em igrejas evangélicas pentecostais. Na mesma época, o Jornal Nacional exibiu uma denúncia com vídeos de Edir Macedo ensinando seus pastores a convencer fiéis a pagar o dízimo.
Isso acirrou os ânimos na Record. Tanto que, um dia antes da estreia de Decadência, o programa 25ª Hora promoveu uma discussão sobre as controvérsias das Organizações Globo. Na mesma época, o jornal Folha Universal atacava a concorrente com manchetes como “Desmoralização e arbitrariedade no Jornalismo da Globo”, “Desespero: a ‘fantástica’ Globo está em decadência” e “Globo admite: Universal é a igreja que mais cresce”.
Mais tarde, em 12 de outubro daquele ano, a Globo repercutiu as imagens do pastor Sérgio Von Helder chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida no programa O Despertar da Fé, exibido pela Record.
Vingança
O quiprocó entre Globo e Record por conta de Decadência foi tão grande que a Record chegou a planejar fazer uma minissérie sobre um homem cuja história se parecia com a de Roberto Marinho. Romero da Costa Machado, ex-funcionário da Globo e autor do livro Afundação Roberto Marinho, seria o responsável pelo roteiro.
“Será a história de um jornalista medíocre que herda um jornal falido do pai, faz um pacto com a ditadura, funda uma emissora de TV e enriquece loucamente”, disse Romero na época. Porém, o projeto não saiu do papel.
A Globo tentou minimizar o problema durante a exibição de Decadência. O canal incluiu na abertura da minissérie uma mensagem lida por Edson Celulari, afirmando que Decadência não pretendia criticar nenhuma religião em particular, nem qualquer de seus representantes.