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Por mais que a autora Cláudia Souto e a diretora artística Natália Grimberg afirmem que Cara e Coragem seja uma novela que reúna todos os ingredientes que fazem a festa de novelomaníacos (romance, drama, comédia, suspense), o que se viu em quase uma semana foi o mais puro suco de uma trama de ação.
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Logicamente devemos considerar que é cedo, afinal nem todos os personagens foram apresentados e os primeiros capítulos precisam explicar e vender a história central. A ação até aqui vista tende a ser diluída nas próximas semanas.
É óbvio que nenhum folhetim se estabelece apenas com sequências de ação, caso contrário nem novela seria. Contudo, o ritmo quase alucinante, em cenas dinâmicas, bem dirigidas pela equipe de Natália Grimberg, e a envolvente trama de mistério de Cláudia Souto, têm borogodó, fisgam.
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Coadjuvantes que prometem
Coadjuvantes apresentados aos poucos dão um respiro à rotina turbinada dos dublês protagonistas, Pat e Moa (Paolla Oliveira e Marcelo Serrado).
Kiko Mascarenhas e Jeniffer Nascimento, como outra dupla, Duarte e Jéssica, já são deliciosos de ver. Os maneirismos de Duarte como Bob Wright (melhor, os maneirismos de Kiko Mascarenhas) quase convencem que realmente se trata de outro personagem.
Afinal a trama é sobre isso, pessoas se passando por outras, como Pat e Moa que substituem atores em cenas de perigo.
Rebeca (Mariana Santos sempre ótima) – aliada ao vilão Danilo (Ricardo Pereira) – já estabeleceu a trama paralela de Moa. Ícaro Silva, Mel Lisboa, Guilherme Weber e Rodrigo Fagundes, cada qual em seu quadrado, chamam a atenção com personagens bem talhados, prontos para render.
Quarteto fantástico
Além da trama, direção e coadjuvantes, grande parte dessa boa impressão se deve ao quarteto protagonista.
A química e o entrosamento de Paolla Oliveira e Marcelo Serrado são fundamentais para que também exalem em seus personagens, Pat e Moa – parece nome de série policial dos anos 80, Pat & Moa, uma Dupla Explosiva.
Paolla acerta na interpretação naturalista e leve, afastando-se finalmente do ranço de tipos carregados ou quase caricatos – como Vivi Guedes de A Dona do Pedaço, Jeiza de A Força do Querer, Melissa de Além do Tempo, Paloma de Amor à Vida e Marina de Insensato Coração.
Marcelo Serrado poderia ser uma escalação arriscada para Moa, já que o ator viveu outro tipo carismático na novela anterior de Cláudia Souto: o Malagueta de Pega Pega (2017). Porém, os personagens são bem diferentes e Serrado, experiente, tratou logo de afastá-los com sua interpretação.
Taís Araújo, por enquanto, só apareceu como a sisuda Clarice Gusmão. Senti sua morte como quem sente a partida de uma personagem que poderia render mais.
Tais estava linda e interessante, também afastando-se de outras personagens semelhantes (como na novela Amor de Mãe e na série Aruanas). A caracterização merece um salve: lentes de contato cor de mel e um ostensivo lace na cabeça.
Vem aí o duplo de Clarice: Anita. De novo uma personagem tomando o lugar de outra, como a premissa dos dublês – e como a premissa de Um Lugar ao Sol e Além da Ilusão, diga-se passagem.
Claro que Anita é completamente diferente de Clarice, na personalidade e visual, como rege a cartilha do bom folhetim. Contudo, o bom folhetim ainda ensina que, se não tem cena com o corpo morto, não tem morte. Será?
Paulo Lessa, egresso de papeis menores em produções variadas, também me parece um acerto como Ítalo, até aqui representando um bom contraponto com os demais protagonistas, de características tão demarcadas.
Cara e Coragem tem um borogodó que nem dá para definir propriamente. Em poucos capítulos, a novela apresentou um texto de ágil e bem amarrado, uma série de personagens carismáticos e aquela vontade de continuar no capítulo seguinte. Sherazade curtiu.