Globeleza acerta com Milton Cunha, mas falha ao não exibir escolas iniciais
14/02/2018 às 0h30
A cada ano, a transmissão do carnaval pelo Brasil mobiliza quatro das cinco principais emissoras (a única exceção é a RecordTV). A Globo segue firme com os desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo; SBT e Band põem seu foco no axé e pagode da festa de Salvador; e a RedeTV proporciona doses de humor involuntário com seus conhecidos Bastidores do Carnaval, apostando em subcelebridades. Isso sem considerar, claro, as referências em memória às inesquecíveis coberturas da extinta Rede Manchete nos anos 80 e 90.
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Na transmissão global, este ano, mais uma vez ficaram evidentes um importante acerto da cobertura da Sapucaí?-?a presença certeira do experiente carnavalesco Milton Cunha?-?e uma falha clássica que a emissora insiste em cometer: o hábito de exibir a íntegra do primeiro desfile da noite por último na transmissão televisiva, deixando a cobertura em tempo real para a internet.
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Com passagens por agremiações consagradas como Beija-Flor, União da Ilha, Viradouro e São Clemente, Cunha passou a exercer o posto de comentarista dos desfiles em 2013, atuando também na Série A (antigo Grupo de Acesso), então exibida pela primeira vez de forma regional naquele ano em lugar do Grupo Especial de São Paulo (que segue para o resto do país).
E logo se tornou um grande achado, combinando o ótimo embasamento técnico de suas análises com uma linguagem divertida e moderninha. Sua experiência por escolas conhecidas do público lhe proporciona um grande conhecimento, evitando o oba-oba geral e apontando pontos positivos e negativos de cada agremiação. Não à toa, vem se tornando o grande destaque da cobertura global, por vezes ofuscando o resto da equipe?-?Alex Escobar e Pretinho da Serrinha parecem estar ali apenas para cumprirem tabela. Fátima Bernardes, embora um tanto séria, consegue se sair melhor. Aliás, seria interessante se a Globo carioca apostasse em Chico Pinheiro, cuja informalidade é destaque no carnaval paulista.
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Além de participar das transmissões do carnaval e da apuração, que premiou este ano o enredo da Beija-Flor, Milton também deu o ar de sua graça na novela O Outro Lado do Paraíso, como jurado de um concurso de fantasias no baile de carnaval exibido no capítulo do último sábado (10) da novela de Walcyr Carrasco; e ainda fez uma impagável aparição no último episódio do Tá no Ar (ontem, 13), interpretando um comentarista de telejornal e falando sobre as situações apresentadas como se estivesse em um desfile. Foi o maior destaque do episódio, arrancando deliciosas gargalhadas.
Se Milton Cunha tem sido o maior acerto da cobertura Globeleza, por outro lado, a Globo ainda peca por um problema recorrente que acontece especialmente quando o carnaval ocorre durante o horário de verão: a não-exibição do primeiro desfile do dia, cujos horários pré-definidos pela Liesa (entidade representante das escolas do grupo especial carioca) normalmente se choca com o do Fantástico, da novela das nove e do Big Brother Brasil. Como compensação, a apresentação da agremiação que inicia a festa é exibida no fim da madrugada e nas primeiras horas da manhã, motivando justas críticas do público e especialmente dos torcedores.
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Ao contrário da maioria das concorrentes, a Globo sempre foi conhecida por sua grade bem definida. Porém, neste caso, esta rigidez de grade é um ato falho, pois soa como desrespeito à agremiação. Neste ano, por exemplo, foi lamentável ver a tradicional Império Serrano (abertura de domingo), que retornou ao grupo Especial; e a Unidos da Tijuca (primeira da segunda), que homenageou o autor e ator Miguel Falabella, serem deixadas para as primeiras horas da manhã. Na Rede Fuso, a situação ainda foi um pouco pior na segunda: o desfile da Portela, segunda escola, entrou ao vivo quando já se contavam 30 minutos de apresentação. É imperdoável.
Nos últimos anos, a Globo vem testando cada vez mais a flexibilidade de horários em casos especiais. Foi assim que o Jornal Nacional teve edições bem mais longas que o normal, quase sempre dedicadas a escândalos políticos. As votações do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e do arquivamento de denúncias contra o atual, Michel Temer, já derrubaram a exibição de produtos consagrados e recordistas de faturamento, como o Domingão do Faustão, as novelas das nove (A Força do Querer e O Outro Lado do Paraíso) e até mesmo o próprio ‘JN’, que por duas vezes deixou de ser exibido.
A partir disto, seria o caso de a emissora repensar o planejamento de sua grade noturna durante o carnaval e se permitir flexibilizar o horário neste período, para garantir que todas as escolas sejam exibidas ao vivo e na íntegra, satisfazendo o público. Não faria mal, pois não afetaria totalmente o destacado desenho de grade da emissora, e permitiria priorizar ainda mais a programação em tempo real.