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O autor Gilberto Braga e o diretor Daniel Filho trabalharam juntos na criação da novela Brilhante, na elaboração da sinopse, na escolha e formação do elenco. A trama estreava há 40 anos, em 28 de setembro de 1981.
O pesquisador Ismael Fernandes assim a definiu em seu livro “Memória da Telenovela Brasileira”: “Brilhante não conseguiu cativar o telespectador. O principal problema foi o roteiro. Plágios da cultura literária e cinematográfica americana comprometeram a história, e um cansativo discurso sobre casais em crise acentuou os desníveis”.
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Gilberto Braga narrou ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, do Projeto Memória Globo:
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“Brilhante foi um fracasso retumbante. Entrou no ar e foi um susto. Foi uma novela muito mal bolada, com uma história impossível de contar. Não sei como caí nessa esparrela, porque era uma época de censura rigorosa. (…) Ficou uma salada que pouca gente entendia. (…) Aos poucos, fiz umas modificações e acabaram gostando (…) A partir daí, a novela se saiu bem, com prestígio. Mas, no início, foi um tremendo fracasso”.
Daniel Filho se justificou em seu livro “Antes que me Esqueçam”:
“Penso que fomos por caminhos seguros, já percorridos (…) Sei que estava fazendo uma coisa automática, ligando chaves que eu sabia que dariam certo, sem motivação, sem emoção, sem paixão (…) Em Brilhante eu quis deixar claro que não estava envolvido emocionalmente com a história. Tanto quis que acabei fazendo uma exibição técnica. Tenho certeza que o desastre de avião do primeiro capítulo é bem-feito (…) Mas não é um desastre bem-feito que faz com que uma novela deixe de ser um desastre nas telas”.
Censura
A censura do Governo Federal não autorizava o uso da palavra “homossexual” nos diálogos da novela.
Segundo Gilberto Braga, isso dificultava muito o andamento da trama, porque um dos eixos centrais envolvia Inácio (Denis Carvalho), um homossexual. O autor contou que, certa vez, Fernanda Montenegro (que vivia a mãe de Inácio na trama) queria que ele autorizasse o emprego da palavra, mas Gilberto sabia que a censura iria cortar a cena.
Porém, a pressão da atriz funcionou. Luiza (Vera Fischer), em um diálogo com Chica Newman (Fernanda Montenegro), mencionou “os problemas sexuais de seu filho” e a frase não foi censurada.
Trinta e quatro anos depois, na novela Babilônia, outro fracasso retumbante de Gilberto Braga, o autor e o diretor Denis Carvalho refizeram a situação de mãe e filho, com Fernanda Montenegro, mas em papeis invertidos: o filho (Denis) é quem não aceitava a condição homossexual de sua mãe (Fernanda).
Reformulação
Problemas com a audiência e pressões da censura levaram Gilberto Braga a reformular a trama de Brilhante.
O romance entre Luiza (Vera Fischer) e Paulo César (Tarcísio Meira) não agradou ao público e o caso do misterioso Sidney (José Wilker), inicialmente fio condutor da história, não foi aprofundado. Uma nova fase iniciou-se então com a morte do patriarca dos Newman, Vitor (Mário Lago).
Após a morte do pai, Inácio (Denis Carvalho) decide assumir a direção da empresa e se casar com Leonor (Renata Sorrah). Ele passa então a disputar o cargo com Bruno (Jardel Filho), um dos antigos diretores da firma.
Brilhante entrou no lugar de Baila Comigo, de Manoel Carlos, um sucesso popular. Ao livro “A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo” (de André Bernardo e Cíntia Lopes), Gilberto Braga contou uma passagem curiosa do início de sua novela, quando resolveu um dia ir à praia para espairecer:
“Eu estava na praia, deprimido de chorar, quando encontrei uma amiga minha que me disse assim: ‘Ah Gilberto, a sua novela foi maravilhosa!’.
Não satisfeita, ainda me apresentou à amiga: ‘Fulana, esse é o Gilberto Braga, meu amigo. É ele quem escreve as melhores novelas da Globo’.
‘Gilberto,’ ela continuou, ‘nessa última você se superou hein!’.
Quando ela falou isso, pensei: ‘Caramba! Ela está pensando que eu fiz Baila Comigo’
Daí a pouco, ela dispara: ‘Já essa que estreou agora, francamente… Nós até desligamos!’”.
“Não aguentei”
Brilhante foi a primeira experiência do roteirista Euclydes Marinho em novelas, trabalhando como colaborador de Gilberto Braga.
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Porém, ele não foi até o final. Ao livro “Autores, Histórias da Teledramaturgia”, confidenciou:
“Não aguentei, saí na metade da novela, por volta do capítulo 80. (…) Saí batendo porta: ‘Gilberto, estou de saco cheio desse negócio. Não estou aguentando nem achando a menor graça’”.
Euclydes, que até então só havia roteirizado seriados, não acostumou-se, naquele momento, à “estiva” da telenovela e ao fato de estar subordinado a um autor principal.
Com a sua saída, a jornalista e crítica literária Leonor Bassères, amiga de Gilberto Braga, foi chamada para auxiliar em Brilhante.
Foi o primeiro trabalho dela como colaboradora de Gilberto, em uma parceria que durou até o fim de sua vida, em 2004 – enquanto eles escreviam a novela Celebridade.
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