Gilberto Braga não queria ter fechado sua carreira com o fracasso de Babilônia, trama exibida em 2015 pela Globo na faixa das nove.

O autor, que morreu no dia 26 de outubro do ano passado, aos 75 anos, estava trabalhando em projetos para a emissora, que foram sendo rotineiramente cancelados.

Gilberto Braga

Em entrevista à jornalista Cristina Padiglione, da Folha de S.Paulo, João Ximenes Braga, coautor de Babilônia ao lado de Ricardo Linhares, falou sobre os sentimentos do colega.

“Em 2015, quando voltei da viagem de férias após Babilônia, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de Babilônia, que até hoje é o pior Ibope do horário”, contou.

“Não ouso dizer que antecipasse sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. Pode parecer irrelevante lembrar de um fracasso neste momento em que todos os homenageiam pelos sucessos. Mas superar esse fracasso era importante para ele”, enfatizou.

O autor estava trabalhando em três projetos: um deles era uma minissérie sobre Elis Regina, preterida pelo filme que foi lançado em 2016; o outro era uma nova versão da novela Brilhante, de 1981, que se chamaria Intolerância; e o terceiro era a novela Feira das Vaidades, que estava na fila das tramas da seis até ser cancelada.

“Gilberto era resiliente. Mesmo diante disso tudo, não desistiu. Ele não queria, de forma alguma, encerrar sua carreira com o fracasso de Babilônia”, destacou.

“Humilhação diária”

Em entrevista ao jornal O Globo em 31 de maio de 2015, Gilberto Braga disse que sentia humilhado por perder para I Love Paraisópolis, novela das sete.

“Basicamente, a novela chocou por causa do beijo gay e porque tinha pouco amor e muito sexo. Mas não foi só o beijo. Foi incontável o número de pessoas com quem a Gloria Pires fez sexo. O primeiro capítulo tinha coisas chocantíssimas. Mas depois das mudanças, a audiência não subiu em São Paulo. Até agora eu sofro a humilhação pública diária de perder para a novela das 19 horas”, declarou.

O autor disse que, mesmo com aquele fracasso, queria seguir escrevendo novelas.

“Quero continuar. Não sou prepotente de achar que tenho que escrever do meu jeito. Gosto de fazer sucesso e vou fazer as concessões que forem necessárias para o público gostar. Seria arrogante achar que sou o maioral”, explicou.

Perguntado sobre qual presente queria ganhar no aniversário de 70 anos, foi curto e grosso:

“Quero ganhar de I Love Paraisópolis”.

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