Fábio Jr. (na foto abaixo, ao lado de sua filha Cléo) é um raro caso de artista brasileiro que se deu bem transitando entre a música e a teledramaturgia. Ao mesmo tempo em que se lançou como cantor, Fábio também mostrou talento para a atuação, participando de teleteatros. Sua estreia em novelas foi em Nina (1977) e, de lá para cá, foram inúmeros trabalhos na TV.

Fabio Jr.

No entanto, após Corpo Dourado (1998), que voltará no Viva em breve, Fábio Jr. deixou as novelas de lado. Ele voltaria em grande estilo cinco anos depois, quando conversou com a Globo para ser o protagonista de Agora É que São Elas, de Ricardo Linhares. No entanto, de última hora, o galã deu para trás, fazendo a equipe do folhetim correr contra o tempo para buscar um novo protagonista.

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Galã

Cabocla - Fábio Jr e Gloria Pires
Divulgação / Globo

O sucesso de Fábio Jr. junto ao público é incontestável, sobretudo o feminino. Tanto que ele convenceu como galã romântico, em trabalhos como Cabocla (1979), mas também quando encarnou tipos mais “cafajestes”, como o inesquecível Jorge Tadeu, de Pedra Sobre Pedra (1992).

No entanto, após viver o misterioso Billy, em Corpo Dourado, Fábio deixou os folhetins. No ano seguinte à trama de Antonio Calmon, ele assinou com a Record para se tornar apresentador, comandando um programa de auditório nas noites de quinta-feira (mais tarde, migrou para as terças). Na nova emissora, ele quase voltou às novelas numa participação em Tiro e Queda (1999), mas acabou substituído por John Herbert.

O Programa Fábio Jr. chegou ao fim em 2002, e o cantor e ator voltou a ficar disponível no mercado. Na mesma época, a Globo encarava uma séria crise de audiência no horário das seis, enfileirando vários insucessos na faixa. Assim, o canal viu em Fábio Jr. uma esperança de elevar os índices e planejou promover seu retorno às novelas em grande estilo.

Personagem criado para ele

Cleo e Fábio Jr
Reprodução / Instagram

No final de 2002, Sabor da Paixão, de Ana Maria Moretzsohn, registrava os piores índices de audiência do horário das seis até então. Com isso, a Globo apostava todas as suas fichas na novela seguinte, de Ricardo Linhares, inicialmente chamada de Cidade das Mulheres.

O autor, que havia trabalhado com Fábio Jr. em Pedra Sobre Pedra, pensou no galã para viver o personagem principal de sua obra. Assim, ele escreveu Juca Tigre, o protagonista, especialmente para o cantor. Em entrevista ao jornal O Globo, de 26 de janeiro de 2003, Linhares revelou que o personagem seria um político debochado e autoritário, mas muito sedutor.

“Eu gosto de fazer pesquisas informais em salão de cabeleireiro, academia de ginástica… E o nome do Fábio é uma unanimidade. Todos pedem que o personagem seja brincalhão, sedutor e romântico (…). E a voz do povo é a voz de Deus! O fato de o Fábio estar afastado das novelas há tempos é positivo. Sua volta é uma novidade e matará a saudade dos fãs”, confessou o novelista.

O casal principal de Cidade das Mulheres, aliás, prometia. O par romântico de Juca Tigre, personagem de Fábio Jr. era ninguém menos que Vera Fischer, escalada para viver Antonia. Os dois viviam uma relação de amor e ódio, já que ela o havia abandonado no altar no passado. Anos depois, eles se tornam rivais políticos.

Deu para trás

Miguel Falabella em A Viagem

Parecia tudo certo com a escalação de Cidade das Mulheres. Fábio Jr. ainda não havia assinado um novo contrato com a Globo, mas já tinha topado retornar aos folhetins. No entanto, em 31 de janeiro de 2003, o jornal O Estado de S. Paulo afirmava que, até aquele momento, o cantor ainda não havia oficializado sua contratação, o que estaria tirando o sono da equipe da trama.

Não demorou para que sua ausência fosse confirmada. Com isso, a direção da trama, encabeçada por Roberto Talma, precisou correr contra o tempo para buscar um novo protagonista para a obra, com estreia confirmada para março daquele ano.

A equipe acabou optando por uma solução caseira: Miguel Falabella, que havia acabado de se despedir de Caco Antibes do Sai de Baixo, foi convidado por Talma e topou o desafio, assumindo o personagem Juca Tigre. Em entrevista ao O Globo, em 16 de fevereiro de 2003, ele revelou que não se incomodava em substituir Fábio Jr.

“Não, isso não me incomoda! Nenhum papel até hoje foi meu. Entrei no lugar de outros atores em Selva de Pedra, Noivas de Copacabana… até no Sai de Baixo! O Caco seria do Luiz Fernando Guimarães”, revelou.

Caco e Magda

Divulgação

A confirmação de Miguel Falabella como Juca Tigre gerou uma situação inusitada no elenco da trama de Ricardo Linhares. Isso porque Marisa Orth, com quem Falabella contracenava em Sai de Baixo, já estava confirmada no elenco como Vanvan, esposa de Juca. Ou seja, eles reviveriam Caco e Magda, o par do clássico humorístico!

Pouco tempo antes da estreia, a novela passou por outro revés. A Globo não conseguiu o título Cidade das Mulheres e a direção do canal não queria um nome com a palavra “mulher”, já que, na mesma época, estavam no ar A Casa das Sete Mulheres e Mulheres Apaixonadas. Assim, a trama passou a se chamar Agora É que São Elas.

Mas a nova produção não refrescou a situação da Globo no horário. O público estranhou Falabella em um novo tipo cômico às seis, repetindo cacoetes de Caco Antibes e suspirando por Vera Fischer. Ricardo Linhares fez algumas modificações, reduzindo o humor e aumentando o romantismo de sua trama. A audiência subiu, mas Agora É que São Elas não se tornou um sucesso.

A emissora só conseguiria elevar a audiência do horário meses depois, quando substituiu Agora É que São Elas por nada menos que Chocolate com Pimenta. A novela de Walcyr Carrasco se tornou um fenômeno na faixa.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor