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Sassaricando é a novela de Silvio de Abreu a partir da qual o autor começou a experimentar tramas mais elaboradas e complexas. Ainda com boa dose de comédia e chanchada, como nas anteriores, mas já não mais limitando-se a dramas meramente folhetinescos.
Exibida no canal Viva, isto ainda não é perceptível nesse início de novela. Mais para frente, surge a entidade secreta ELA, que envolve uma série de personagens, outros novos (que entrarão) e uma trama bem enrolada revelando segredos e o passado da família Abdala.
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Neste ponto, acho Sassaricando muito semelhante a Deus nos Acuda (1992-1993), de Silvio, cuja história vai além de Celestina (Dercy Gonçalves) e sua missão de salvar o Brasil. Tal qual Sassaricando, também há uma entidade secreta e esse entrecho surge com a trama adiantada.
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E é justamente a trama “enrolada” que me afastou das duas novelas em suas exibições originais. Achava tudo confuso e distante do que estava acostumado e esperava das novelas de Silvio de Abreu.
No entanto, enquanto Sassaricando não apresenta ELA, a novela segue a linha que consagrou o autor na década de 1980. Aí descubro que fui traído pela minha memória, que guardou apenas a trama confusa: é uma delícia acompanhar esse início de Sassaricando!
A novela é ágil, dinâmica (muito mais que sua predecessora, Brega e Chique, de Cassiano Gabus Mendes). Veja quanta coisa aconteceu em duas semanas! Os personagens são empolgantes (ainda não cansaram) e tudo parece se encaixar e fluir muito bem.
A direção geral de Cecil Thiré tenta emular o estilo Jorge Fernando de conduzir novelas de Silvio de Abreu. Vez ou outra falha com derrapadas horríveis – como a sequência mambembe em que um mascarado joga uma faca em Camila (Maitê Proença), em seu apartamento, quando ela está acompanhada de Guel (Edson Celulari).
Já outras cenas são perfeitas, como toda a sequência em que Beto (Marcos Frota) conhece Tancinha (Cláudia Raia) e a barraca de frutas cai sobre ele, em uma cadência milimetricamente calculada. Adoraria conhecer detalhes dessa gravação!
Já de cara, depois de ter visto muitas novelas de Silvio de Abreu, dá para identificar perfis e tramas que o autor voltou a usar em trabalhos posteriores. Além de Deus nos Acuda, vejo semelhanças com A Próxima Vítima (1995).
As irmãs Abdala retornam nas irmãs Ferreto. Teodora Abdala (Jandira Martini) é Filomena Ferreto (Aracy Balabanian) – menos sisuda -, também com um marido submisso – Eliseo (Gianfrancesco Guarnieri) e Aparício (Paulo Autran). Fabíola Abdala (Ileana Kwasinsky) é Carmela Ferreto (Yoná Magalhães): largada pelo marido com um filho, mora de favor na mansão da irmã que insiste em espezinhá-la.
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Camila (Maitê Proença), a curiosa que investiga tudo, retorna na pele de Irene de A Próxima Vítima (Vivianne Pasmanter). Aldonza (Lolita Rodrigues) tem um quê de Ana da Pizzaria da Mamma (Susana Vieira). Obviamente há outros personagens que lembram tipos de outras novelas – Cambalacho (1986), por exemplo, tem perfis e entrechos parecidos.
Fui positivamente surpreendido e ver Sassaricando é o meu deleite atual. Tancinha (Claudia Raia) e Fedora (Cristina Pereira) são ótimas. Paulo Autran com muito gás (ainda não havia cansado de seu personagem). Só Tônia Carrero parece meio perdida ainda – ou sua personagem pouco disse a que veio neste momento inicial. Em contrapartida, Penélope e Leonora revelam Eva Wilma e Irene Ravache bem mais sintonizadas com a trama e suas personagens do que a colega de elenco.
SOBRE O AUTOR
Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira.
SOBRE A COLUNA
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.