A primeira fase de O Outro Lado do Paraíso se alongou demais. Duas semanas eram suficientes para a apresentação de todos os conflitos principais e os mais de 30 capítulos cansaram, deixando o contexto repetitivo. Porém, Walcyr Carrasco mostrou que estava com várias cartas na manga, apresentando uma virada empolgante e repleta de ótimas cenas, destacando ainda seu ótimo elenco. A expectativa do público era alta e o autor até agora vem fazendo jus ao aguardado momento da atual novela das nove.

A esperada passagem de dez anos, exibida na segunda (27/11), foi muito bem explorada através de breves cenas, como o casamento de Renato (Rafael Cardoso) e Livia (Grazi Massafera), o treinamento de Clara (Bianca Bin) no hospício, a dedicação aos estudos de Raquel (Érika Januza), o prosseguimento das escavações para a retirada das esmeraldas, os aniversários de Thomaz (Vitor Figueiredo), enfim. E todos os momentos ao som de Hold On (Alabama Shakes), além da também ótima That Smell (Lynyrd Skynyrd), expondo a qualidade da trilha sonora. A prova do interesse do telespectador foi a média de 36 pontos, com picos de 40, do capítulo.

Já o episódio de terça (28/11), exibindo a descoberta de Renato sobre a internação da mocinha em uma clínica psiquiátrica isolada em uma ilha, conseguiu ser ainda melhor. O rapaz logo inventou uma viagem para a esposa, conseguindo trabalhar por um período na tal clínica, reencontrando Clara e renovando as esperanças da neta de Josafá (Lima Duarte).

Enquanto o enredo principal se preparava para o clímax, Walcyr começou a desenvolver melhor o drama de Estela (Juliana Caldas), que acabou expulsa de casa por Sophia (Marieta Severo), indo morar no interior. A relação dela com a empregada Rosalinda (Vera Mancini), que a criou, promete momentos delicados e o seu flerte com Juvenal (Anderson Di Rizzi), lapidador das esmeraldas da vilã, despertou uma imediata simpatia pelo futuro casal.

A obsessão de Livia pelo sobrinho também vem ganhando contornos interessantes, assim como o incômodo de Gael (Sérgio Guizé) vendo a irmã se comportando como mãe de seu filho com Clara. E a cena mais emocionante foi, sem dúvida, a morte de Beatriz. Nathalia Timberg fez uma breve presença (ficou apenas em quatro capítulos), mas teve a valorização que merece e expôs a grandiosa atriz que é, protagonizando lindos momentos ao lado de Bianca Bin.

O instante em que a senhora, já muito debilitada, despede-se de sua filha do coração foi tocante, fechando a participação da extraordinária profissional brilhantemente. Vale mencionar, também, o flashback, mostrando quando Beatriz foi internada pela neta, destacando Nathalia e o olhar frio de Fernanda Rodrigues.

A morte da mentora de Clara é fundamental para a fuga da protagonista e todo o desdobramento confirmou as semelhanças com O Conde de Monte Cristo, romance de Alexandre Dumas, cuja vingança do personagem principal até hoje é usada como referência para inúmeras obras.

Renato aproveitou o caixão de Beatriz para colocar Clara dentro, arriscando tudo nessa única chance para ajudá-la a escapar daquele inferno. Porém, ao contrário do que ele imaginava, os corpos dos internos não são despachados em um barco e, sim, jogados ao mar.

Quando Renato se dá conta é tarde demais e Clara é arremessada do penhasco, presa em um caixão de madeira vazada. Um gancho de arrepiar. Toda a sequência destacou a direção primorosa da equipe de Mauro Mendonça Filho (como Henrique Sauer, dirigindo esse instante da fuga na água) e tirou o fôlego de quem assistia. Não deu nem para piscar. A recompensa foi a média de 39 pontos, superando o capítulo de segunda e quebrando o recorde da trama, que não completou nem dois meses no ar – vale lembrar que o sucesso A Força do Querer só conseguiu esse índice nas últimas semanas.

A continuação desse momento empolgante destacou a força de Clara em sair do caixão no fundo do mar em uma cena de impressionante realismo. Bianca Bin brilhou novamente, expondo o desespero da mocinha em sobreviver. Já o resgate pelo amigo pescador de Elizabeth (Glória Pires) serviu para juntá-la novamente com a mulher que irá ajudá-la. Ao que tudo indica são mãe e filha, mas nem imaginam. Outro bom desdobramento desse enredo que só tende a prender cada vez mais.

O Outro Lado do Paraíso teve um início morno em virtude da excessiva duração da primeira fase, mas Walcyr Carrasco soube contornar esse problema através de uma virada eletrizante. O enredo sempre demonstrou potencial e agora a força da história se expõe com maior facilidade. Tem tudo para crescer ainda mais ao longo dos próximos meses, caso o autor siga inspirado. A audiência altíssima dos capítulos mais recentes apenas comprova isso.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor