Fracasso de Travessia destrói marca das novelas de Gloria Perez

Lucy Alves - Travessia

Uma das marcas da autora Gloria Perez é a inclusão de merchandising sociais em suas novelas. Desde Barriga de Aluguel (1990), a roteirista costuma utilizar a força da telenovela brasileira para prestar serviço e jogar luz sobre temas que, nem sempre, são discutidos como se deveria pela sociedade.

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Reprodução / Globo

No entanto, esta marca pode estar em risco com Travessia, estrelada por Lucy Alves (foto acima). A atual novela das nove da Globo não conquistou o público e é constantemente criticada nas redes sociais. Assim, o ranço instalado no folhetim pode respingar nas tentativas de merchans sociais, o que provocaria um efeito contrário ao que, de fato, se pretende.

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Rainha dos merchans sociais

Reprodução / Globo

Gloria Perez pode ser considerada a rainha dos “merchans sociais”. Desde que levou a questão das novas técnicas para se gerar uma criança a uma novela, mote de Barriga de Aluguel, a autora aperfeiçoou tal serviço e criou excelentes campanhas em seus folhetins.

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Um divisor de águas neste sentido aconteceu em Explode Coração (1995), quando a autora narrou a história de Odaísa (Isadora Ribeiro, foto acima), que tinha seu filho sequestrado. A personagem, então, se tornou uma “Mãe da Cinelândia”, juntando-se às mães da vida real que viviam o drama dos filhos desaparecidos.

Além disso, ao final de cada capítulo, a novela mostrava pessoas reais que desapareceram. Com isso, várias pessoas desaparecidas foram encontradas, o que mostrou a força da prestação de serviço dentro de um folhetim.

Outras campanhas de sucesso desenvolvidas por Gloria Perez foram a de combate às drogas, em O Clone (2001) e a questão da identidade de gênero em A Força do Querer (2017). Esta última, aliás, também falou de vício em jogo, esclarecendo ao grande público como age um jogador compulsivo.

Fiasco

Em Travessia, não é diferente. Gloria Perez já trouxe à atual novela das nove uma discussão sobre acessibilidade, ao contar a história da advogada cadeirante Juliana (Tabata Contri) e sua luta para que uma rampa de acesso fosse instalada no bar Encanto da Vila. O dono, Nunes (Orã Figueiredo), era contra a instalação, até que ele mesmo precisou de uma.

Outra discussão em desenvolvimento é a dependência digital. Por meio de Theo (Ricardo Silva), a trama mostra como o vício em tecnologia pode destruir as relações do jovem e sua família.

Travessia também pretende abordar a Síndrome de Münchausen, um transtorno psicológico em que a pessoa simula sintomas ou força o aparecimento de doenças. Inicialmente, Chiara (Jade Picon, foto acima) desenvolveria a síndrome, mas a questão foi passada para Guida (Alessandra Negrini).

Apesar da boa intenção, os merchans sociais de Travessia podem sair pela culatra. Afinal, a novela vem sendo rejeitada pela audiência. Com isso, os temas sérios que a trama aborda (ou pretende abordar) acabam sendo mal recebidas em meio ao “pacote” de inconsistências da trama. Assim, as campanhas podem afastar o público, ao invés de mobilizá-lo.

Afinal, um merchan social só funciona quando está bem amarrado ao enredo. Ele deve surgir de maneira harmônica dentro da história (como aconteceu em Explode Coração e O Clone, por exemplo), de modo que seja assimilado naturalmente pelo público. Se for forçado, vai soar como panfletagem gratuita e, consequentemente, afugentar a plateia.

Desserviço

Além disso, Gloria Perez deve ficar atenta aos eventuais desserviços que podem surgir em seu enredo. É o caso de Guida que se machuca de propósito para acusar Moretti (Rodrigo Lombardi) de agressão, na tentativa de provocar sua prisão.

É um enredo, no mínimo, de mau gosto, já que banaliza uma questão séria que é a violência doméstica. Uma autora tão antenada com a missão social de uma novela deveria evitar armadilhas deste tipo.

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