Vale Tudo (1988) é uma das novelas mais aclamadas de todos os tempos! A trama de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères fez o Brasil parar diante da TV, em meio à discussão sobre honestidade promovida por Raquel (Regina Duarte) e Maria de Fátima (Gloria Pires), mãe e filha.
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Em 2002, a Globo produziu uma versão latina da trama, em parceria com a Telemundo – braço hispânico do canal norte-americano NBC. O folhetim, contudo, não funcionou. Com isso, os planos de manter adaptações de seus textos no exterior foram por água abaixo…
Projeto grandioso
De acordo com matéria da Folha de São Paulo, de 14 de abril de 2002, o acordo entre Globo e Telemundo incluía a divisão dos custos– estimados em R$ 63 mil dólares por capítulo. As gravações de Vale Todo transcorreram nos Estúdios Globo (antigo Projac), no Rio de Janeiro.
O elenco era encabeçado pela mexicana Itatí Cantoral, conhecida no Brasil por seu desempenho como Soraya Montenegro, a vilã de Maria do Bairro (1995, foto). Itatí defendeu Raquel, enquanto a também mexicana Ana Cláudia Talancón respondeu por Maria de Fátima.
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O ator e cantor peruano Diego Bertie assumiu o protagonista Ivan, interpretado por Antonio Fagundes em 1988. Este último, aliás, fez uma participação afetiva no “remake”, como Salvador, pai de Raquel – Sebastião Vasconcelos na versão original.
A grande vilã Odete Roitman ficou por conta da atriz cubana Zully Montero. Uma curiosidade: Odete foi rebatizada Lucrécia Roitman, um nome associado à maldade pelo espectador latino.
Modificações
Outras alterações entre Vale Tudo e Vale Todo foram propostas pelo adaptador Yves Dumont – conhecido por seu trabalho na Record, com Estrela de Fogo (1999) e Louca Paixão (1998). A questão “vale a pena ser honesto no Brasil?” foi devidamente alterada para a realidade das comunidades hispânicas nos Estados Unidos.
O casal Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) deixou de existir, devido ao conservadorismo do público local.
O “quem matou Lucrécia Roitman?” também sofreu modificações. No Brasil, a assassina da temida empresária foi Leila (Cássia Kis), que pensava ter atirado contra Maria de Fátima. No exterior, a culpa coube ao mordomo Eugênio (Sérgio Mamberti em 1988; Julio Rodríguez em 2002).
Fracasso
No entanto, Vale Todo foi um verdadeiro fracasso. Os 150 capítulos previstos foram reduzidos para 100. A Globo e a Telemundo tentaram contornar a rejeição do público. O veterano Walther Negrão foi acionado para supervisar a trama, a partir do capítulo 30. Além de adiantar acontecimentos, Negrão diminuiu a conotação política, distanciando o remake do original.
“Eles esperavam um estouro, mas apesar de estar entre as cinco novelas mais assistidas da emissora, ela não foi”, afirmou o autor em entrevista para o jornal Folha de São Paulo, em 10 de novembro de 2002.
A narrativa toda em espanhol, mas ambientada no Rio de Janeiro, não colou. O espectador se sentia, digamos, “deslocado”. Negrão argumentou que a ambientação em Miami seria mais condizente. O novelista também apontou a escolha equivocada da Globo e da Telemundo, uma vez que Vale Tudo tem um caráter excessivamente brasileiro e que embates entre mãe e filha não são bem recebidos pelo público latino.
“A mãe é a virgem Maria, é como uma figura sagrada”, argumentou Ana Cláudia Talancón.
O então diretor de parcerias estratégicas da Globo, Ricardo Scalamandré, confidenciou à Folha que, de acordo com pesquisas realizadas pelas produtoras, o espectador também repudiou os relacionamentos extraconjungais, como o de Raquel e Ivan.
Com tantos problemas, outros projetos ficaram pelo caminho – as novelas Anjo Mau (1976), O Astro (1977), Baila Comigo (1981), Rainha da Sucata (1990) e Mulheres de Areia (1993) chegaram a ser consideradas para as adaptações.
A Telemundo e a Globo se uniram novamente anos depois, com novas versões de O Clone (2001) e Fina Estampa (2011).