André Santana

Após mais de 100 capítulos no ar, Cara e Coragem corre atrás do próprio rabo. A novela começou jogando um grande mistério no ar: afinal, o que aconteceu na noite em que Clarice (Taís Araujo) foi dada como morta?

Tempos depois, o mesmo mistério ainda domina a trama, que simplesmente não deslancha. Ao fazer sua história andar em círculos, a autora Claudia Souto repete um erro de Pega Pega (2017), sua obra anterior.

História que se repete…

Pega Pega girava em torno de um grande roubo em um hotel. Júlio (Thiago Martins), Malagueta (Marcelo Serrado), Sandra Helena (Nanda Costa) e Agnaldo (João Baldasserini), funcionários do Carioca Palace, armavam um plano para afanarem a grana recebida por Pedrinho Guimarães (Marcos Caruso) pela venda do local.

Porém, logo após o roubo, os quatro ladrões entenderam que não podiam “dar bandeira”, ou seriam pegos. Por isso, decidiram continuar trabalhando no hotel. Ao mesmo tempo, a investigadora Antônia (Vanessa Giácomo), que tentava solucionar o crime, caía de amores por Júlio, complicando toda a situação.

Enredo frágil

Pega Pega - João Baldasserini e Nanda Costa

Apesar da boa premissa, Pega Pega acabou caindo numa armadilha. Afinal, como a trama principal girava em torno do roubo do hotel, o crime não podia ser solucionado tão rápido. Isso acabaria com a história… Sendo assim, a autora protelou a resolução do roubo.

Para tal, Pega Pega fez uso indiscriminado de factoides que serviam apenas para desviar a atenção e fazer com que a investigação do crime do Carioca Palace não avançasse. Inicialmente, isso não era um problema. Mas, conforme a narrativa se desenrolava, a embromação tornava os capítulos “aborrecidos”.

Além disso, Pega Pega também trazia um grande mistério: quem matou Mirella (Marina Rigueira), a ex-esposa de Eric (Mateus Solano)? Esta trama foi sendo introduzida aos poucos e acabou tomando conta da narrativa, já que o crime do Carioca Palace se revelou insuficiente para sustentar uma novela tão longa.

Mistério exagerado

Taís Araújo - Cara e Coragem

Cara e Coragem vai pelo mesmo caminho. Claudia Souto colocou o mistério em torno de Clarice no centro do folhetim das sete e vai enrolando em sua resolução… Pouca coisa foi esclarecida desde a estreia.

Uma tentativa de chacoalhar o enredo foi mostrar que Clarice está viva e em coma. Mas isso pouco acrescentou à investigação do crime. O espectador agora sabe que a empresária não morreu, mas ainda não tem ideia do que de fato aconteceu. Isso deixa Cara e Coragem extremamente tediosa.

Pega Pega ainda conseguiu fazer sucesso, muito em razão de ter bons personagens e um humor agradável. O mesmo não acontece com Cara e Coragem, que não traz tipos carismáticos e nem tramas paralelas interessantes. Isso ajuda a explicar o baixo desempenho da novela das sete da Globo.

Compartilhar.
Avatar photo

André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor