Extrovertida, debochada, inteligente, divertida: essas eram algumas das qualidades de Elke Maravilha, das quais ela usou e abusou em seus trabalhos na televisão. Embora fosse a jurada mais famosa do Brasil, a vida pessoal e profissional de Elke não foi fácil, incluindo atritos com Silvio Santos, seu patrão no SBT por muitos anos.

Ao longo de sua história, Elke Grünupp, seu verdadeiro nome, afirmou que nasceu em Leningrado (hoje São Petersburgo, Rússia), criando um folclore em torno de sua figura e de sua origem.

Uma vida difícil

Porém, o escritor Chico Felitti, que escreveu a biografia da artista, revelou que ela nasceu em Leutkirch, cidade alemã. Seus pais saíram da Alemanha para fugir da pobreza que atingia o país depois da Segunda Guerra Mundial.

Elke morou em Minas Gerais. O seu jeito solto e sua beleza conquistaram as pessoas da cidade. Sua fama começou em desfiles de moda, ao se tornar uma revelação das passarelas. Ela passava uma imagem de que sua vida familiar tinha sido tranquila, mas um livro escrito por Alexandros Evremidis, o primeiro esposo de Elke, mostra que nem tudo foi um mar de rosas.

No livro, o nome da artista foi trocado por Melissa. O enredo acompanha a história de amor entre ela e Evremidis, que começou durante uma viagem de navio na Europa. O autor conta que “Melissa” apanhava sistematicamente de seu pai e que foi abusada pelo avô na infância.

Segundo a obra, a garota estava em viagem, pois, ao descobrir-se grávida, foi mandada embora para ter a criança longe do Brasil. A gestação foi interrompida por conta de um aborto espontâneo.

Confronto com a ditadura

Elke Maravilha

No auge da ditadura militar, Elke Maravilha peitou os militares ao defender sua amiga, a estilista Zuzu Angel, que perdeu o filho Stuart Angel Jones – torturado e assassinado nos porões do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social).

Ela foi presa por desacato depois de rasgar cartazes com a foto de Stuart ao afirmar, aos gritos, que ele já estava morto.

Ao ser detida, a artista tomou um tapa na cara e foi enquadrada na Lei de Segurança Nacional, perdendo assim sua cidadania brasileira e se tornando apátrida. Elke foi solta da cadeia depois de seis dias, graças a intervenções de amigos e colegas da classe artística.

A jurada que o povo gosta

Nos anos 1970, Elke Maravilha se tornou uma figura conhecida por conta de suas participações na TV, inclusive na Discoteca do Chacrinha, programa no qual se firmou como uma das juradas mais queridas da televisão.

O carinho dela com o velho guerreiro era tão grande, que, muitas vezes, ela trabalhou sem receber. O apresentador respeitava sua jurada e sempre demonstrou sua gratidão por ela.

Em 1988, com a morte de seu “painho”, Elke foi pedir emprego a Silvio Santos. Os dois não se davam muito bem, mas Silvio aceitou o pedido e contratou a artista para ser jurada do Show de Calouros. A distância entre os dois era percebida, especialmente quando a jurada o chamava de “patrão”, bem diferente da forma como tratava Chacrinha.

“Não voltaria a trabalhar com o Silvio”

Em 1993, ela ganhou um programa nas tardes do SBT – Elke, um talk show –, no qual fez grande sucesso. No entanto, os temas, que eram tabus no canal de Silvio, não foram bem-vistos pela direção, que, sem mais nem menos, tirou a atração do ar. Segundo ela, um casamento gay no palco foi o estopim para o término. Ela foi demitida em 1996, depois do fim do Show de Calouros.

Em uma entrevista para a IstoÉ Gente, em 07/08/2006, Elke Maravilha não escondeu sua opinião sobre seu ex-patrão.

“Ele é a pior pessoa do mundo, coitadinho! Tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro. Eu nunca briguei com ele. Eu consegui ser respeitada por ele, mas foi difícil. Nunca tive muito contato com ele. Ele não é da mesma enfermaria que eu. Não lido bem com falta de respeito. Não voltaria a trabalhar com o Silvio, já paguei meu carma”, contou a artista.

Os últimos anos de vida da jurada não foram fáceis: Elke perdeu um apartamento que ficava na Avenida Paulista para pagar dívidas. Passou algumas vezes por necessidade, mas nunca parou de trabalhar e mostrar seu lado alegre e divertido.

Na madrugada de 16 de agosto de 2016, Elke Maravilha morreu aos 71 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos. Sua equipe informou a partida da artista da mesma forma como ela sempre falava sobre a morte:

“Avisamos que nossa Elke já não está por aqui, conosco. Como ela mesma dizia, foi brincar de outra coisa. Que todos os deuses, que ela tanto amava, estejam com ela nessa viagem”.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor