A Globo estava numa sinuca de bico em 1988. Após a morte de Chacrinha e a desistência de Gugu Liberato, mesmo tendo contrato assinado e gravado pilotos, a emissora buscava um grande apresentador para seu elenco. O escolhido foi Fausto Silva, estrela das noites de sábado da Bandeirantes com o Perdidos na Noite, contratado a peso de ouro após algumas semanas de negociações.

A primeira notícia sobre as conversas da emissora com Faustão surgiu em 8 de julho de 1988, no Jornal do Brasil. “Se ainda não conversou, a TV Globo vai conversar com o animador Fausto Silva. Ele será sondado sobre a possibilidade de vir a protagonizar um programa de variedades e distribuição de prêmios nas tardes de domingo”, disse a nota.

O martelo foi batido pouco tempo depois. O jornal O Globo de 23 de julho daquele ano disse que Fausto Silva já havia fechado com a Globo e estrearia no primeiro domingo de janeiro de 1989 – o que acabou ocorrendo somente em março.

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“Qualquer quantia que saia na imprensa neste sentido é especulação”, disse Daniel Filho, então diretor da emissora. “Salário é uma coisa muito delicada de se comentar e muita coisa neste sentido ainda está sendo tratada. Posso adiantar apenas que o do Fausto estará incluído entre os maiores do nosso elenco, comparado ao de um Chico Anysio ou Renato Aragão”, completou.

Na época, a mídia especulou que Faustão ganharia 3 milhões de cruzados por mês – para se ter uma ideia, o salário mínimo em junho de 1988 era pouco mais de 10 mil cruzados.

Faustão, que já havia passado rapidamente pela Globo em 1982, fazendo comentários esportivos no SPTV, disse que sentia ter a cara da emissora. “É um projeto novo que tem muito a ver comigo, com meu jeito descontraído, irreverente. “Me lembro de ter lido, já naquela época, um desses famosos memorandos do Boni, pedindo uma linguagem mais descontraída na televisão, bem do jeito que eu faço”, explicou.

Repórter esportivo da Jovem Pan e, posteriormente, da Rádio Globo, Faustão se destacou como apresentador do programa diário Balancê, na Rádio Excelsior. Convidado por Goulart de Andrade (1933-2016), foi para a televisão, onde começou o Perdidos na Noite na Gazeta. Antes da Band, a atração também passou pela Record.

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Sempre irreverente, Faustão disse que começou a carreira numa vendinha, passou para uma mercearia, mudou-se para um supermercado e estava indo para um shopping inteiro. “O doutor Roberto disse que eu posso ficar de graça aqui durante dois anos até aprender a fazer televisão. A verdade é que eu vou ganhar mais do que eu preciso e menos do que mereço, sem falsa modéstia”, disse ao jornal O Globo.

O apresentador prometeu que não iria mudar seu estilo, mas que diminuiria o número de palavrões. Na mesma entrevista, disse que cumpriria seu contrato normalmente com a Band até 31 de dezembro de 1988 e que não voltaria atrás no acerto com a Globo, sutilmente alfinetando Gugu.

“Farei todos os programas, com a maior dignidade. Não tenho nenhuma queixa da Bandeirantes como empresa. Tem artistas que saem de uma emissora metendo o pau, saem de outra falando pior ainda. Eu não. E não é questão nem de bom comportamento, é de inteligência mesmo. Afinal, são apenas quatro redes e se a gente fecha as portas é burrice”, enfatizou.

Há exatamente 32 anos, em 24 de dezembro de 1988, a Band exibia a última edição do Perdidos da Noite.

Após muita expectativa, o Domingão do Faustão estreou na Globo no dia 26 de março de 1989, estando há mais de 30 anos no ar.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor