Nos anos 1970, a Globo consolidou sua teledramaturgia ao investir em quatro horários de novelas: às 18h, às 19h, às 20h e às 22h. Destas, as novelas das seis, sete e oito (agora nove) ainda existem, mas a novela das dez acabou extinta após um grande fiasco.

Vera Fischer em Sinal de Alerta
Vera Fischer em Sinal de Alerta

Sinal de Alerta, escrita por Dias Gomes em 1978, trazia um grande elenco encabeçado por Vera Fischer e uma trama em tom de denúncia bem característica do autor. No entanto, a novela não atingiu as expectativas de audiência da Globo.

Por conta do fiasco, a emissora decidiu encerrar de vez a novela das dez, passando a apostar em séries e minisséries no horário. Depois, houve ainda duas tentativas de resgate, mas que não deram muito certo.

Qual era a história de Sinal de Alerta, novela das dez da Globo?

Exibida entre 31 de julho de 1978 e 26 de janeiro de 1979, Sinal de Alerta contava a história de Tião Borges (Paulo Gracindo), um homem que enriqueceu rapidamente graças à sua empresa Fertilit, especializada em fertilizantes e inseticidas. No entanto, o negócio polui o bairro onde está instalado.

A poluição causada pela Fertilit gera revolta entre os moradores do bairro, gerando vários problemas para Tião. Além disso, o ricaço vive conflitos na vida pessoal, pois está separado há tempos de Talita (Yoná Magalhães), mas ela não aceita o divórcio. Ele quer se casar com Sulamita (Vera Fischer), jovem criada sob rígidos padrões morais.

Além do trio principal, Sinal de Alerta contava com as participações de Carlos Eduardo Dolabella, Renata Sorrah, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Bete Mendes, José Augusto Branco e vários outros.

Fracasso

Sinal de Alerta

A faixa de novelas das dez da Globo costumava exibir histórias mais fortes, além de abrir espaço para experimentações. No horário, foram exibidos grandes sucessos, como Bandeira 2 (1972), O Bem-Amado (1973), Gabriela (1975) e Saramandaia (1976). Tramas mais experimentais, como O Rebu (1974) e O Grito (1975), também foram ao ar na faixa.

Após um hiato de meses em 1977, a faixa das dez foi retomada pela Globo com Nina (1977) e O Pulo do Gato (1978), que não registraram bons índices de audiência. Na sequência, veio Sinal de Alerta, que derrubou o horário ainda mais e decretou o fim da novela das dez da Globo.

No livro Memória da Telenovela Brasileira, o especialista Ismael Fernandes enumerou diversos problemas da novela.

“O maior deles: Paulo Gracindo como capitão de indústria, mas ao estilo dos seus coronéis já conhecidos. Ou serão as sufocantes cenas da vila esfumaçada (que Dias queria editadas em preto e branco)? Além do mais, personagens como Consuelo (Isabel Ribeiro), que liderava movimentos contra a poluição, ou Vera (Bete Mendes), operária da fábrica, ficariam melhor em uma Fertilit do ABC (parque industrial paulista) que em praças cariocas”, escreveu.

Além disso, Sinal de Alerta foi exibida no período de propaganda política, que empurrou a trama para a faixa das 23h. Quando a novela voltou ao horário habitual, a Globo exibiu um compacto em 10 capítulos do início da história, mas o esforço não surtiu efeito.

Diante disso, a Globo encerrou a faixa de novelas das dez. Sinal de Alerta foi substituída por uma reprise de Gabriela e, depois, o horário passou a ser destinado a séries nacionais, como Malu Mulher, Plantão de Polícia e Carga Pesada.

Tentativa de retomada

Apesar de Sinal de Alerta ter determinado o fim da novela das dez da Globo, a faixa chegou a ser retomada em duas ocasiões excepcionais. A primeira aconteceu em 1983, quando a emissora lançou Eu Prometo, última novela de Janete Clair.

Na época, a autora já estava muito doente, mas insistiu para escrever uma última novela. A Globo, temerosa em lhe entregar a faixa das oito, optou por produzir Eu Prometo para a faixa das dez. Janete, inclusive, morreu durante a trama, que foi concluída por Gloria Perez.

Já em 1990, a Globo resgatou a faixa das 22h para exibir Araponga – na verdade, a trama ia ao ar às 21h30, depois da novela das oito. Foi uma tentativa em vão de concorrer com Pantanal (1990), que fazia um enorme sucesso na TV Manchete.

Nos anos 2010, a Globo criou ainda a “novela das onze”, exibindo tramas mais curtas e mais ousadas que as habituais. Nesta faixa, foram ao ar remakes, como O Astro (2011) e Saramandaia (2013), e também novelas inéditas, como Verdades Secretas (2015).

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor