Atualmente, a TV aberta abriu mão de investir no humor, deixando o público com poucas opções. Uma delas é A Praça é Nossa, que está no ar desde 1987 e mantém bons índices de audiência ao SBT, sob o comando de Carlos Alberto de Nóbrega.

A Praça É Nossa - Carlos Alberto de Nóbrega
Carlos Alberto de Nóbrega apresenta A Praça É Nossa (Reprodução / SBT)

O programa é a continuação da Praça da Alegria, que entrou no ar no final dos anos 1950 com Manoel de Nóbrega no comando. Nos anos 1970, a Globo ressuscitou o programa, mas acabou não obtendo o resultado esperado.

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A mesma praça, o mesmo banco…

Manoel de Nóbrega na Praça da Alegria
Manoel de Nóbrega na Praça da Alegria (reprodução/web)

Uma praça, um banco e figuras divertidas: a ideia do pai de Carlos Alberto de Nóbrega vive até hoje, mostrando que a simplicidade é a alma do negócio. A atração passou por várias emissoras, e saiu do ar na metade dos anos 1970.

Com a morte de Manoel de Nóbrega, em 17 de março de 1976, Chico Anysio fez uma homenagem ao criador da Praça, sentando no banco e fazendo graça com os inúmeros personagens que passaram por lá.

O showman do povo

Miele e Golias na Praça da Alegria
Miele e Golias na Praça da Alegria (reprodução/Globo)

A repercussão foi positiva e a volta da Praça da Alegria ganhou força dentro da Globo. Muitos nomes foram cogitados para o dono do banco, mas José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então diretor de operações da emissora, escolheu Luis Carlos Miele, artista talentoso, mas sem ligação com programas populares.

“Eu não estava definitivamente aprovado para fazer a Praça. O Boni perguntou se eu queria fazer o teste, pois, às vezes, se um artista não passa, isso pode repercutir negativamente. Outras pessoas já tinham tentado, mas não tinham acertado com o espírito que deveria ser o programa”, falou Miele ao O Globo em 24 de dezembro de 1977.

Segundo o apresentador, nem todos concordavam com a escolha.

“O Lúcio Mauro estava comentando e disse que tinha sido contra. Ele achava que minha imagem de smoking, programas musicais, sofisticação, nada tinha a ver com o trabalho feito anteriormente pelo Manoel de Nóbrega. O Boni era o único que acreditava”, contou.

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Humor simples

Praça Brasil
Orival Pessini e Moacyr Franco na Praça Brasil (reprodução/web)

A Praça da Alegria entrou no ar em maio de 1977, com os velhos personagens que o público conhecia: Velha Surda, Pacífico, Mendigo, Catifunda, entre outros. A Globo apostava no humor popular, diferente de Chico City e Planeta dos Homens, que estavam no ar. Mas a atração durou apenas um ano, saindo do ar em maio de 1978.

“O tropeço mesmo fica a cargo da Praça da Alegria. Em tempos de viadutos e de carros estacionados nas calçadas, os tipos antigos mostraram-se logo esgotados e defasados. E os novos, francamente, foram criados sem a menor inspiração. Fora dos famosos padrões da estação, o mal cuidado e arrematado programa não chegou ao povo e nem interessou aos consumidores mais bem dotados de poder aquisitivo”, escreveu Maria Helena Dutra no Jornal do Brasil de 23 de janeiro de 1979, fazendo um balanço do ano anterior na televisão.

No entanto, a fórmula nunca se mostrou esgotada. No ano seguinte, Carlos Alberto de Nóbrega, então roteirista de Os Trapalhões, foi para a Band e montou a Praça Brasil.

Silvio Santos não perdeu tempo e, semanas depois, levou Carlos Alberto, alguns humoristas, o banco e montou A Praça é Nossa, que está no ar por 36 anos consecutivos.

Sem a Velha não dá

A Praça é Nossa
Apolonio (Viana Junior) e a Velha Surda (Roni Rios) em A Praça É Nossa (reprodução/SBT)

A Praça incomodou a Globo por muitos anos, batendo de frente com a linha de shows da emissora carioca e muitas vezes ficando na liderança. Por isso, o programa quase foi para a Globo, mas um motivo fez com que Carlos Alberto ficasse no SBT.

“O Boni disse que se eu fosse iria todo mundo comigo, até meu camareiro. E ele disse: ‘Só não quero um, a Velha Surda’. E a referência até hoje, da Praça da Alegria e da Praça é Nossa, é a Velha”, contou Carlos Alberto ao The Noite em maio deste ano.

“Então eu falei ‘se o Roni [Rios, intérprete da personagem] não vier, não vem ninguém’. Graças a Deus eu fiquei [no SBT]. Se eu estivesse em outra emissora, eu jamais faria 35 anos de carreira com a ‘Praça’. Silvio me deu liberdade”, relatou.

Vale lembrar que Roni Rios ficou na Praça até o fim de sua vida: ele faleceu em 16 de maio de 2001, aos 64 anos, vítima de um câncer linfático. Além da Velha Surda, o humorista encarnou outros personagens no humorístico, como Explicadinho e o velho Philadelpho.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor