Um dos grupos de humor mais famosos e queridos do Brasil, Os Trapalhões reunia Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, que conquistaram crianças e adultos entre as décadas de 1970 e 1990. Com humor simples e caricato, a trupe fazia o público parar diante da TV nas noites de domingo.

Os Trapalhões
Divulgação / Globo

Mas a história do quarteto vai além do programa – polêmicas, brigas e separações fizeram parte da história dos humoristas, e a imprensa sempre repercutia tudo que os envolvia. Com isso, o diretor Rafael Spaca montou um grande documentário sobre o clássico programa, mas que até hoje nunca foi lançado.

Trapalhadas Sem Fim é o grande projeto de Spaca, que já tinha escrito um livro sobre o grupo. A ideia do documentário era contar a carreira deles, mostrando todos os lados – dos elogios às duras críticas, sem esconder nada.

“Faltou coragem para levar ao ar”

Os Trapalhões - Mussum e Zacarias
Divulgação / Globo

Foram mais de três anos de pesquisas e entrevistas, custando em torno de 2 milhões de reais. Spaca participou de programas e podcasts falando sobre o projeto e as polêmicas. Isso aguçou a curiosidade do público, menos do streaming – nenhuma empresa quis bancar o documentário.

“Faltou coragem para levar ao ar um documentário independente e sem rabo preso. Foi um choque de realidade. O Brasil é o país da chapa-branca e prefere produzir um documentário como esse do Neymar [ Neymar – O Caos Perfeito, da Netflix], que é pura bajulação, do que exibir coisas mais provocativas”, disse o diretor ao F5 em 25 de maio de 2022.

Segundo Spaca, a ideia era mostrar toda a verdade em torno do grupo, mostrando os bons e maus momentos. Outro ponto forte era mostrar um lado de Renato Aragão que poucos conhecem.

“Que o Renato ganhava absurdamente mais que os outros, isso é um fato. Outro fato é que em um momento da carreira do quarteto, ele ‘puxou o tapete’ do Dedé, do Mussum e do Zacarias”, contou.

Atritos com Renato e Lilian Aragão

Lilian e Renato Aragão
Reprodução / Facebook

Em entrevista ao UOL, no dia 29 de setembro de 2019, o diretor disse que Lilian Aragão, esposa de Renato, tentava impedir a exibição do documentário.

“Tentei falar com o Renato muitas vezes, nunca consegui. Até que, em março, a Lilian me mandou um e-mail informando que eu não estava autorizado a realizar um documentário sobre os Trapalhões. Só que eu não dependo da autorização dela. É uma obra jornalística, não de ficção”, relatou.

Nos e-mails, Lilian e o advogado da Renato Aragão Produções diziam que não autorizavam a produção de um documentário sobre a trupe e, caso fosse feito, eles iriam para a justiça.

Segundo o advogado José Roberto de Castro Neves, o diretor mandaria o material para Renato Aragão, mas acabou mudando de ideia. Spaca negou a informação.

“Isso não existe, é um absurdo. Na verdade, o Renato tomou conhecimento de que eu estava me aproximando de gente que não faria relatos favoráveis a ele. A gente sabe dos nossos esqueletos. Ele percebeu, pelas pessoas que foram entrevistadas, o que vem por ai. Mas o documentário é agridoce, não foi feito para detonar ninguém”, contou.

Assuntos polêmicos

Os Trapalhões

O documentário falaria abertamente sobre todos os fatos que envolviam o grupo – a bissexualidade de Zacarias, o envolvimento de um integrante do grupo com o mundo das drogas, um diretor do programa que cometia assédio sexual, o envolvimento de Tião Macalé com garotos, entre outros pontos.

Além disso, muitos famosos foram entrevistados para o documentário – Regina Duarte, Caetano Veloso, José Lavigne, Aguinaldo Rayol, entre outros. Já Dedé Santana e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, não quiseram participar do filme.

Procurada pela reportagem do UOL, Lilian Aragão afirmou que um projeto sobre a história de Aragão já estava sendo produzido.

“Atualmente, o Renato Aragão se dedica a fazer um registro de sua trajetória artística. Como homem público, o Renato Aragão respeita quem queira tratar de sua história, desde que isso seja feito com ética, correção e rigor na apuração dos fatos. Se houver acusações levianas ou falsas, serão, obviamente, tomadas as medidas pertinentes”.

Até agora, nenhum dos dois projetos foi lançado.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor